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“Eu sofri um aborto espontâneo”

Conheça a história da mulher que teve o seu maior sonho interrompido no primeiro trimestre da gravidez.

Por Luísa Massa
Atualizado em 26 out 2016, 11h38 - Publicado em 31 ago 2015, 08h00

Dayane Lucas, 22 anos, é secretária e idealizadora do Instagram Gravidez 2015. Aqui, ela conta como foi passar por um aborto espontâneo.

“O momento em que eu descobri que estava grávida foi simplesmente mágico! Eu sempre quis ser mãe e esse desejo começou a falar mais alto depois que me casei. Assim como muitos casais, eu e o meu marido não estávamos planejando nos tornar pais naquela hora. Tínhamos combinado que começaríamos as tentativas mais para frente, mas não foi assim que aconteceu. Apesar da surpresa, saber que eu estava grávida foi a notícia mais feliz que eu recebi na vida, pois sempre tive medo de ter dificuldade para gerar uma vida. Depois que eu soube que seria mãe, minha maior preocupação era verificar se estava tudo bem com o bebê, afinal, eu não tinha me preparado para ter um filho naquele momento e não tinha tomado alguns cuidados necessários como ingerir ácido fólico. Então, liguei para o meu médico assim que soube do resultado.

Conseguimos ver apenas o saco gestacional do bebê na primeira consulta do pré-natal. O obstetra pediu alguns exames, me disse que eu deveria começar a tomar o ácido fólico e marcou o retorno para 15 dias depois. Na segunda consulta, consegui escutar o som mais lindo do mundo: o coração do meu filho batendo forte e saudável! Foi emocionante! Eu também levei para o médico os resultados dos exames e ele me disse que estava tudo certo. O ultrassom indicava 8 semanas de gestação.

Tudo corria bem com o meu bebê e eu não poderia estar mais feliz, mas depois de uma semana, comecei a ter sangramentos. Me apavorei! Comecei a chorar, mas o meu marido me tranquilizou e disse que deveríamos marcar outra consulta médica. Assim que cheguei ao meu trabalho, a primeira coisa que fiz foi ligar no consultório e mesmo explicando o que estava acontecendo comigo, a secretária disse que não tinha vaga para aquele dia. Eu comecei a entrar em pânico, pois não sabia o que fazer! Liguei em outra clínica e também fui informada da falta de vagas. Assim que desliguei esse telefonema, a secretária do meu obstetra me retornou e disse que tinha conseguido me encaixar na agenda. Fiquei um pouco mais tranquila, mas o meu coração ainda estava apertado, eu não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo comigo!

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Liguei para o meu marido e ele me levou ao consultório. Assim que chegamos, o médico pediu para que eu me deitasse na maca porque ele iria fazer o ultrassom para ver se estava tudo bem. Nunca vou me esquecer da sensação de olhar para o visor da tela e esperar ansiosamente escutar o coração do bebê. Felizmente, eu ouvi de novo aquele som divino: o meu filho estava vivo! Uma paz profunda invadiu o meu coração naquele momento. O médico disse que estava tudo bem e que não tinha acontecido nada com o bebê, que era para eu repousar, tomar a medicação que ele havia passado e tentar me acalmar. Acho que a parte mais difícil das recomendações era a última: como eu conseguiria me tranquilizar sabendo que eu estava sangrando? Mas tentei fazer isso na medida do possível.

Dez dias depois decidi que iria visitar a minha avó no final de semana do Dia das Mães. Ela não mora na mesma cidade que eu, mas a viagem é tranquila e dura aproximadamente uma hora. Ninguém da minha família sabia da gravidez e eu queria fazer uma surpresa para eles – aquela seria a oportunidade perfeita! O sangramento estava diminuindo e partimos para a casa da minha avó na sexta-feira. Só que no sábado à tarde eu comecei a sentir muitas cólicas, fui ao banheiro e vi que o sangramento tinha piorado. A dor ficava cada vez mais forte e pedi para que o meu marido me levasse ao hospital. Chegando lá, fui logo atendida pela médica de plantão, que constatou que o meu colo de útero estava fechado e não havia indícios de que eu estava perdendo o bebê. Não tinha ultrassom no hospital, por isso, ela pediu para que eu marcasse esse exame assim que chegasse à minha cidade e também me recomendou repouso absoluto.

Na segunda-feira, fui me consultar com o obstetra que me acompanhava. O meu marido não pode ir comigo, pois ele tinha uma reunião marcada para o mesmo horário e eu não me importei, pois no fundo tinha a esperança de que estava tudo bem e de que eu escutaria o som mais lindo do mundo. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. Eu entrei na sala do médico e, mais uma vez, ele pediu para que eu me deitasse. Reparei que a sua feição não era a mesma das outras consultas, percebi que estava demorando para achar o coração do bebê e comecei a ficar angustiada. Foi aí que ele olhou para mim e disse: “Dayane, é muito comum acontecer isso na primeira gestação”. Quando ouvi essas palavras, o meu mundo desabou. Comecei a chorar porque eu não estava acreditando que aquilo estava acontecendo comigo! Eu queria tanto ser mãe, ver o meu filho crescer dentro de mim lindo e saudável! Eram tantos questionamentos e eu não conseguia encontrar respostas para eles.

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O médico pediu para que eu me acalmasse para que ele pudesse me explicar o que havia acontecido. Ele disse que eu tinha sofrido um aborto espontâneo (eu estava com 10 semanas) e que isso pode acontecer com qualquer grávida. Segundo ele, geralmente a própria natureza da mulher se encarrega de detectar alguma malformação no feto e eliminá-lo. Não havia nenhuma causa que explicasse o aborto. Perguntei se o meu bebê iria sair naturalmente ou se eu precisaria me submeter a algum procedimento e fui informada de que não havia necessidade de fazer nada porque o feto sairia naturalmente, já que eu estava sangrando há algum tempo.

Fui embora do consultório aos prantos, passei no trabalho do meu marido e ele já estava me esperando. Desabei no seu colo e não precisei dizer nada, pois do jeito que eu estava, ele sabia o que tinha acontecido. Ele chorou comigo, me abraçou e me apoiou. Eu sentia que Deus havia tirado uma parte de mim, que Ele tinha levado um pedaço meu, que eu não estava mais completa e aquilo me corroía por dentro, eu me sentia cada vez mais vazia. Aí vinham os questionamentos: “por qual motivo isso aconteceu comigo? Tinha que ser agora? O que eu fiz ou deixei de fazer?”. Parece que você olha para o lado e percebe que muita gente ao seu redor decidiu ficar grávida, que todos estão felizes – menos você. Confesso que eu fiquei bem revoltada nesse primeiro momento. O período de revolta, dor e luto aparece e deve ser respeitado. Só quem já passou por isso sabe do que eu estou falando: é como se o seu maior sonho fosse impedido de se realizar. Você prepara o seu corpo, a sua mente, a sua alma para receber um bebê. Você sente um amor que nunca sentiu antes, compra roupinhas, planeja tudo com muito amor, mas é surpreendida do nada. Até hoje eu sinto um vazio no coração, que parece que nunca mais será preenchido. Conheci um grupo no WhatsApp que se chama Todas Por Um Sonho. As mulheres que fazem parte dele já passaram pela dor da perda de um filho e é com elas que eu venho aprendendo a superar o que me aconteceu. Apesar do sofrimento, hoje consigo enxergar que tudo na nossa vida tem um propósito, um motivo. 

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal ()

Para as pessoas que estão passando pela mesma dor eu que passei, aconselho que vocês tenham força e fé. Todas nós ainda vamos ser felizes com nossos bebês nos braços. Não dá para esquecer o sofrimento de ver um filho partir, mas lembrem-se de que o tempo é nosso maior amigo: só ele vai nos ajudar a amenizar as feridas. E para quem está lendo esse texto e conhece alguém que também sofreu um aborto espontâneo, aconselho que você abrace, ouça, chore junto e jamais subestime a dor dessa mulher. Hoje estou esperando o momento certo de ter um bebê, mas acredito muito em Deus: serei mãe novamente quando Ele achar que chegou a hora.”

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