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Bebês negros morrem menos quando tratados por pediatras negros, diz estudo

Achado foi feito nos Estados Unidos, onde crianças de pele negra têm o dobro de risco de falecer entre os zero e cinco anos. Entenda.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 30 set 2020, 17h27 - Publicado em 30 set 2020, 17h26

O racismo pode impactar na sobrevivência de recém-nascidos. É o que diz um estudo norte-americano que avaliou 1,8 milhões de nascimentos no Estado da Flórida, entre 1992 e 2015, publicado no British Medical Journal (BMJ). A investigação descobriu que bebês negros têm mais chances de sobreviver quando atendidos por médicos que também são negros.

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Quando atendidos por pediatras da mesma raça, a taxa de mortalidade entre recém-nascidos negros era 390 a cada 100 mil nascidos vivos. Se o médico era branco, o índice subia para 894 óbitos. Em 2017, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos já havia reportado que bebês negros têm uma mortalidade duas vezes maior do que os nascidos brancos.

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Vale dizer que, mesmo com a concordância racial, as mortes neonatais são mais frequentes entre os negros do país. Os pesquisadores calcularam 430 mortes por cem mil habitantes a mais do que os brancos, quando atendidos por médicos brancos, e 257 óbitos extras no mesmo grupo, quando o médico era negro.

Inspiração para mudar

Uma das autoras do estudo é uma mãe negra. A cientista Rachel Hardeman, da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Em entrevista ao site Science News, ela declarou que existem relatos pessoais, como os dela – que teve seu parto assistido por uma equipe 100% negra-, de como ser atendido com alguém com o qual você se identifica pode ser importante para a satisfação do paciente.

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“Não tínhamos, contudo, estudos mostrando como a concordância racial poderia impactar positivamente na saúde do recém-nascido”, declarou ao site. Na mesma entrevista, ela e outro autor do estudo, Brad Greenwood, explicam que a ideia não é dizer que bebês negros só podem ser atendidos por pediatras negros.

O que os achados sugerem é que médicos negros podem estar mais atentos com vivências específicas de recém-nascidos negros, como partos com maior violência obstétrica e dificuldades de atendimento por desigualdades socioeconômica. E que, por outro lado, os médicos em geral são pouco instruídos sobre maneiras de atenuar os impactos do racismo institucional.

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Os próximos passos seriam, então, entender que condutas diferentes são essas para que possam ser estendidas a todos os bebês.

Realidade no Brasil não é diferente

Mães e bebês negros também morrem mais no Brasil. Em 2017, a pesquisa “A cor da dor: Iniquidades raciais na atenção pré-natal e ao parto no Brasil”, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostrou que gestantes negras estão em maior risco de sofrer violência obstétrica e ter um pré-natal inadequado, o que ameaça também a vida do recém-nascido.

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E outra pesquisa da Fiocruz, com dados do Ministério da Saúde, mostra que a taxa de mortalidade por mil brasileiros nascidos vivos é de 15,2 para crianças brancas e 29,1 para negras. Ou seja, o dobro. Por aqui, no entanto, ainda não há dados específicos sobre a diferença de ser atendido por uma equipe da mesma raça.

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