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Sífilis na gravidez: os riscos que a doença oferece à gestante e ao bebê

Engana-se quem pensa que essa enfermidade é coisa do passado. Hoje em dia, no Brasil, ela é uma das doenças sexualmente transmissíveis que mais tem crescido entre homens e mulheres. O que nem todos sabem é que ela é um perigo para as grávidas e seus filhotes. Entenda essa história!

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 28 out 2016, 04h32 - Publicado em 3 dez 2015, 17h23
TuelekZa/Thinkstock/Getty Images
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Em 2005, a taxa de diagnóstico de sífilis em gestantes no Brasil era menor do que 1 caso a cada 1000 nascidos vivos. A última edição do Boletim Epidemiológico de Sífilis, publicado em 2015 pelo Ministério da Saúde (MS), aponta que, no ano de 2013, esse índice subiu para 7,4 casos a cada 1000 nascidos vivos. “A nossa sensação é de que estamos vivendo uma imensa epidemia”, comenta o infectologista Artur Timerman, chefe do Serviço de Infecção Hospitalar do Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo.

E o cenário é preocupante mesmo. Estamos falando de uma infecção causada pela bactéria Treponema pallidium, transmitida principalmente por via sexual. “90% das pacientes que têm sífilis adquirem a doença por meio da relação desprotegida”, informa o ginecologista Ricardo Cristiano Leal da Rocha, professor de ginecologia e obstetrícia do Centro de Ciências da Saúde do Espírito Santo. E, pelo visto, o risco de pegar doenças como essa não é uma preocupação por aqui. De acordo com a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira (PCAP), divulgada em janeiro deste ano, 45% dos brasileiros sexualmente ativos declaram dispensar o preservativo na hora do sexo – ou seja, a porta está totalmente aberta para o treponema e também para outros agentes infecciosos, a exemplo do vírus da aids.

A sífilis

A fase primária da doença é marcada pela presença de feridas que recebem o nome de cancro duro. “Quando você as apalpa, elas são endurecidas, daí o nome”, explica Timerman. A questão é que, muitas vezes, essas lesões se localizam em áreas como as paredes vaginais, o períneo e o colo uterino, o que dificulta a sua detecção e pode levar a uma evolução do quadro. “Em cerca de 20 e 30% dos casos, a pessoa pode ter a chamada sífilis secundária, que é quando o treponema circula pela corrente sanguínea”, diz o infectologista. Nessa etapa, aparecem manchas no corpo, principalmente em locais como as palmas das mãos e dos pés.

Se não houver tratamento, o quadro pode avançar para uma terceira fase, a indeterminada, em que a bactéria se instala no organismo e pode tanto não causar mais nenhum dano quanto infeccionar o sistema nervoso central, por exemplo. “Ela faz uma lesão no cérebro que tem como manifestações convulsões e alterações do comportamento”, conta o médico do Edmundo Vasconcelos. 

Perigos para o bebê

O treponema tem a capacidade de atravessar a barreira placentária, infectando o feto. Quando isso acontece, o bebê adquire a chamada sífilis congênita, cuja incidência tem aumentado nos últimos anos, segundo o Ministério da Saúde. Em 2004, a taxa em menores de 1 ano de idade era de 1,7 casos para cada 1000 nascidos vivos; em 2013, esse número subiu para 4,7. “As consequências podem ser abortamentos precoces, tardios e trabalho de parto prematuro”, exemplifica Rocha. A doença também pode levar o bebê a óbito. Para se ter uma ideia, na última década, no Brasil, o índice de mortalidade infantil (em menores de 1 ano de idade) por sífilis congênita passou de 2,2 a cada 100.000 nascidos vivos em 2004 para 5,5 em 2013.

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Já boa parte dos pequenos que têm contato com essa bactéria dentro da barriga da mãe e sobrevivem desenvolve problemas como malformações cerebrais (a exemplo de microcefalia), alterações ósseas, cegueira e lábio leporino. “90% das crianças infectadas têm manifestações clínicas”, calcula Artur Timerman. 

Caso a infecção se dê no fim da gravidez e não seja tratada, o bebê está mais propenso a nascer com icterícia ou mesmo com hepatite. “Além disso, se houver alguma lesão no canal de parto, a criança pode ser infectada na hora do nascimento”, adverte o ginecologista e obstetra David Pares, membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp). Quanto à amamentação, os especialistas asseguram que não há risco de a bactéria passar pelo leite materno. 

Diagnóstico

A presença do Treponema pallidium é descoberta por meio de um exame de sangue, o VDRL. “A sorologia na grávida é obrigatória para detectar a bactéria e fazer o tratamento adequado, além de evitar a transmissão para o feto”, destaca David Pares, da Sogesp. A recomendação é que a gestante faça o teste várias vezes durante o pré-natal – no primeiro, no segundo e no terceiro trimestres da gravidez. Mas, infelizmente, a enfermidade ainda é diagnosticada tardiamente. De acordo com o MS, em 2013, 36,3% dos casos foram detectados na reta final da gestação – enquanto apenas 24,8% foram notificados no início.

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O tratamento

A terapia contra a sífilis é feita com um antibiótico, a penicilina benzatina – o único medicamento capaz de impedir a transmissão vertical, ou seja, da mãe para o filho. O remédio é aplicado por injeção intramuscular e a dosagem varia de acordo com a fase em que a doença se encontra. “Todas as grávidas podem tomar, não há riscos para o feto”, garante Pares. A exceção fica por conta das gestantes que são alérgicas à penicilina. Nesses casos, prescreve-se um antibiótico administrado por via oral. “O problema é que ele não trata o feto, só a mãe”, observa Ricardo Cristiano. Daí a importância do diagnóstico precoce.

Vale ressaltar que também é necessário que o parceiro faça o tratamento. E até que ambos estejam tratados, a recomendação é evitar as relações sexuais. Para aquelas que têm a doença e pretendem se tornar mães, o melhor é iniciar a terapia o quanto antes. “Depois de tratar, deve-se esperar pelo menos seis semanas para engravidar. É o tempo que o organismo leva para a eliminar o treponema”, aconselha Artur Timerman, do Hospital Edmundo Vasconcelos. 

Prevenção

Para se ver longe da sífilis (e de outras DSTs), não tem jeito: é preciso vestir a camisinha, inclusive quem já fez tratamento. “Ter a doença não deixa ninguém protegido contra uma nova infecção”, alerta Artur Timerman. Combinado?

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