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Sexo após a gravidez: estudo aponta que tipo de parto não influencia a retomada da vida sexual da mulher

Pesquisadores da USP acompanharam 831 mães atendidas nas Unidades Básicas de Saúde desde a gestação até meses após do nascimento do bebê.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 09h09 - Publicado em 24 abr 2015, 16h12

O parto normal é um desejo de muitas mulheres, afinal, além de ser um desfecho natural para os nove meses de gestação, permite uma recuperação mais rápida e ainda traz benefícios para mãe e para o bebê. Mas a verdade é que, atualmente, a cesariana é a opção mais escolhida pelas brasileiras. De acordo com os dados de 2014 da pesquisa Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento, feita pela Fundação Oswaldo Cruz e pelo Ministério da Saúde, o índice de cesáreas no país é de 52%, chegando a 88% na rede privada. E a questão é que grande parte dessa porcentagem não acontece por necessidade médica, mas sim por medo – da dor do parto, de demorar muito para dar à luz ou até mesmo de não conseguir retomar a vida sexual.

Foi sobre esse último item que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) fizeram um estudo publicado na edição de abril do The Journal of Sexual Medicine. “Na pesquisa, 831 gestantes atendidas nas Unidades Básicas de Saúde de São Paulo foram observadas entre a 20ª e a 30ª semana de gravidez. Depois, no período de 6 a 18 meses após o parto, 701 mulheres foram localizadas e responderam a questões relacionadas à sexualidade”, explica o Dr. Alexandre Faisal-Cury, ginecologista, pesquisador do Departamento de Saúde Preventiva da USP e principal autor do estudo.

Segundo o especialista, a maioria dos partos foi realizada em hospitais universitários e públicos, entre os anos de 2005 e 2007, seguindo os protocolos de conduta obstétrica. Alinhando essas informações às respostas dadas pelas mulheres nos períodos pré e pós-natal, foi constatado que quase 79% delas reiniciaram a vida sexual antes de três meses após o nascimento do bebê e essa retomada ou a qualidade dela não se mostrou relacionada ao tipo de parto.

Vale ressaltar que na pesquisa foram avaliadas mulheres que realizaram partos normais sem qualquer tipo de contratempo, gestantes que fizeram cesáreas e, também, aquelas com partos normais complicados, que foram submetidas ao uso de fórceps ou a uma episiotomia (corte feito na região entre a vagina e o ânus para facilitar a passagem do bebê). Neste último caso, segundo o autor do estudo, é comum observar algumas dores durante o sexo, mas elas não devem se prolongar por muito. “Esse efeito negativo fica limitado aos primeiros meses após o nascimento. Quando a dor persiste, diferentes fatores devem ser investigados, incluindo o relacionamento conjugal e a possibilidade de depressão”, afirma Faisal.

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Para o ginecologista, portanto, a dificuldade na vida sexual depois do parto pode estar relacionada a alguma experiência traumática no nascimento do bebê – e não ao tipo de parto realizado. Por isso, se a investigação médica e os exames clínicos não revelarem nenhum acometimento importante na saúde da mulher, é recomendado avaliar aspectos emocionais da sexualidade – não considerados no estudo. “Idealmente, seria importante incluir essa avaliação subjetiva da relação conjugal e também coletar dados da vida sexual da mulher anterior à gravidez, mas isso nem sempre é fácil, já que muitas gestações não são planejadas ou, quando são, podem demorar para acontecer”, pondera o pesquisador da USP.

Por fim, é importante lembrar que a cesariana está associada a uma incidência maior de dor e à recuperação mais difícil no pós-parto, além de trazer outros riscos, como infecções e endometriose, que por si só podem prejudicar a vida sexual. Ou seja, se for uma opção segura para a mãe e para o bebê e todas as condições estiverem propícias, o parto normal é sempre a melhor opção.

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