Continua após publicidade

Não é só reflexo: chutes na barriga ajudam o bebê a mapear o próprio corpo

Novo estudo mostra que a movimentação intensa durante a gravidez pode ter função importante para o desenvolvimento neurológico do feto. Entenda

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 6 dez 2018, 16h25 - Publicado em 6 dez 2018, 15h49

Por muito tempo, os famosos chutes na barriga foram encarados como meros reflexos do feto em desenvolvimento. Agora, cientistas ingleses descobriram que a movimentação intensa pode ter uma razão mais profunda de ser: ajudar o bebê a desenvolver consciência sobre o próprio corpo.

O trabalho, publicado no periódico Scientific Reports, mediu a atividade cerebral de 19 recém-nascidos com dois dias de vida em média, nascidos entre a 31ª e a 42ª semana de gestação. Por meio de um eletroencefalograma (tipo de exame), os médicos observaram que, quando o bebê fazia algum movimento involuntário nos braços e pernas, certas regiões da mente ficavam mais ativas.

Ou seja, se o bebê golpeava com a mão esquerda, imediatamente a atividade da parte do cérebro responsável por processar o toque na mão esquerda aumentava. As ondas cerebrais relacionadas a esse momento — impulsos que medem a atividade da massa cinzenta — eram maiores nos prematuros, que normalmente ainda estariam no útero. Por outro lado, quase desapareciam por volta da 41ª semana, quando a maioria dos bebês já nasceu.

E o que isso quer dizer?

Para os pesquisadores, é um sinal de que os chutes e movimentos dos braços no trimestre de gestação ajudam a desenvolver áreas cerebrais responsáveis por receber os estímulos sensoriais. Esse trabalho permite que o bebê mapeie seu próprio corpo e sua presença no espaço físico, o que mais tarde o ajudaria a se locomover e interagir no ambiente.

A relação entre movimentos involuntários e neurodesenvolvimento já havia sido observada em animais. A descoberta de que a relação pode ser a mesma em humanos é de especial interesse para o cuidado dos prematuros. “Os achados podem indicar que as UTIs neonatais devem ter um ambiente otimizado, para que os bebês recebam os estímulos sensoriais apropriados”, explica Kimberley Whitehead, neurocientista da University College London e uma das autoras do estudo, no comunicado à imprensa.

“Por exemplo, já é rotina o hábito de embrulhar o bebê, o que faz com que eles ‘sintam’ uma superfície quando mexem seus braços e pernas, como ocorre no útero”, complementa a pesquisadora. Outro achado do estudo é a de que esse aumento da atividade cerebral ocorre bem mais durante o sono, o que indica que a qualidade do descanso dos prematuros na UTI neonatal também pode ser importante para que ele desenvolva seu sistema locomotor da maneira esperada.

Publicidade