Coqueluche é coisa séria. A enfermidade provocada pela bactéria Bordetella pertussis atinge crianças, adolescentes e adultos. Nos mais velhos, os sintomas são parecidos com os de um resfriado comum, mas no sistema imunológico ainda imaturo dos pequenos (especialmente aqueles que não completaram 1 ano de idade) o estrago causado por esse micro-organismo é grande. No corpo, ele invade as vias respiratórias e produz uma secreção que pode se acumular nos pulmões e nos brônquios, provocando febre, coriza, tosse, chiado no peito e, em quadros mais graves, pode evoluir também para uma pneumonia, complicações neurológicas e hemorrágicas e até mesmo levar à morte. E o pior: o número de casos vem crescendo em diversas regiões do Brasil desde 2011, segundo o Ministério da Saúde. Para se ter uma ideia, só em 2013 foram mais de 6 mil registros da doença em todo o país.
A transmissão se dá por meio do contato com gotículas eliminadas quando a pessoa doente tosse, espirra ou fala. Em geral, sabe-se que, nos casos dos bebês contaminados, os principais responsáveis por esse processo são as mães, que muitas vezes não tomam o reforço da vacina contra a coqueluche quando adultas. No entanto, segundo um estudo recém-publicado no jornal científico Pediatrics, as crianças estão mais propensas, na verdade, a serem contaminadas por seus irmãos mais velhos, já em idade escolar.
Para chegar a essa conclusão, um time de cientistas – liderado por experts do Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos – selecionou, entre 2006 e 2013, 1 306 casos de coqueluche infantil. A maioria dos pacientes infectados tinha menos de 2 meses de vida. Ao final da investigação, os pesquisadores notaram que membros da família eram os responsáveis pela transmissão em 66,1% dos episódios. Dentro de casa, os irmãos disseminavam a bactéria em 35,5% das vezes; as mães representavam 20,6% das contaminações e os pais, apenas 10%.
A importância da vacinação
De acordo com os autores do levantamento americano, esses resultados reforçam a necessidade de todos os familiares se vacinarem contra a coqueluche – os irmãos, os bebês e os pais. Essa recomendação se torna ainda mais urgente para as gestantes. Isso porque a primeira dose da vacina é dada apenas quando o pequeno completa 2 meses. Antes disso, ele fica totalmente desprotegido. Mas, se a mãe tomar um reforço do imunizante no último trimestre da gravidez (período em que ela mais passa anticorpos para o filho), a criança estará blindada contra a Bordetella nos primeiros meses de vida.
A vacina
A vacina contra a coqueluche é a tríplice bacteriana, que protege também contra tétano e difteria. No Brasil, a rede pública disponibiliza a versão tradicional (DTPw) e, no sistema privado, é possível encontrar a versão acelular (DTPa), que possui a mesma eficácia, mas os efeitos adversos são mais sutis. As três primeiras doses são dadas, respectivamente, aos 2, 4 e 6 meses de vida. Depois, a criança recebe um reforço entre os 15 e 18 meses de vida e aos 5 anos de idade. Uma última aplicação ocorre quando ela completa 10 anos. Como o efeito não dura muito tempo, a orientação é que, a partir da adolescência, a pessoa seja novamente imunizada a cada dez anos.