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HPV na gravidez: os riscos que o vírus oferece e as opções de tratamento

Segundo a Organização Mundial da Saúde, 70% das mulheres sexualmente ativas vão ter contato, alguma vez na vida, com o papilomavírus humano, o HPV. Na gestação, cresce a probabilidade desse agente infeccioso se manifestar e causar lesões. Fique por dentro dessa história.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 26 out 2016, 20h55 - Publicado em 22 set 2015, 16h05

O Ministério da Saúde adverte: o papilomavírus humano, o HPV, é responsável por 70% dos casos de câncer de colo de útero e a terceira principal causa de morte entre as mulheres no Brasil. “Uma em cada quatro pacientes vai ter infecção pelo HPV em algum momento da vida”, calcula o oncoginecologista Ricardo Chazan Breitbarg, do Hospital Samaritano, em São Paulo.

Esse agente infeccioso faz parte de uma família de mais de 100 tipos de vírus diferentes. “Desses, 40 atuam na área ginecológica e estão divididos, por sua vez, em HPV de alto e de baixo risco”, explica Breitbarg. Os de alto risco são aqueles que propiciam o aparecimento de lesões que podem virar um câncer; já as variantes de baixo risco favorecem os chamados condilomas, que são uma espécie de verruga.

No entanto, é raro que o HPV se manifeste – seja na forma de lesões sérias, seja como verrugas benignas. “Na maioria das vezes, o próprio organismo reage combatendo o vírus”, conta Rômulo Negrini, professor de ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Mas na gravidez a história é um pouco diferente. Se a mulher já tiver o papilomavírus no seu corpo, a probabilidade de ele dar as caras nesse período é maior. “As alterações hormonais e a menor resistência imunológica da gestante predispõem ao desenvolvimento da doença”, esclarece Negrini. O mais comum é que as lesões surjam no primeiro ou no segundo trimestre da gestação, quando a imunidade está comprometida.

O HPV coloca a gravidez em risco?

Estimativas globais apontam que entre 5,5 e 65% das grávidas estejam infectadas pelo HPV. E o Brasil está dentro dessa média. “Um estudo brasileiro mostrou que 33,4% das mulheres gestantes têm o vírus”, informa Ricardo Breitbarg. A boa notícia é que o papilomavírus não ameaça a evolução da gravidez e nem a saúde do bebê. “Ele não tem capacidade de penetrar o líquido amniótico e não é transmitido pelo sangue”, avisa a ginecologista Alessandra Bedin, do Hospital Israelita Albert Einstein, também na capital paulista.

O problema maior está na hora do nascimento do bebê. Se não tratadas ao longo da gravidez, as lesões podem aumentar tanto em quantidade como em tamanho. Além do risco de obstruir o canal por onde o pequeno vai passar, elas podem acabar contaminando a criança. Nestes casos, o parto vaginal não é recomendado. “Pela Organização Mundial da Saúde, a cesárea só é indicada quando há lesões muito grandes. Mas se a paciente tiver várias lesões pequenas com as quais o bebê vai ter contato, a gente discute fazer esse tipo de parto”, pondera Alessandra.

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Quanto à amamentação, não se preocupe: o HPV não passa pelo leite materno.

O bebê infectado

A contaminação do recém-nascido pelo HPV não costuma ser uma ameaça à vida do pequeno. Isso porque, assim como os adultos, eles eliminam o vírus rapidamente do organismo. Mas, em alguns casos, o papilomavírus pode aparecer – e aí, a manifestação mais temida é a Papilomatose Respiratória Recorrente (PRR), um tumor benigno epitelial que atinge principalmente a laringe. “As verrugas podem surgir nas cordas vocais do bebê e na mucosa da boca e do nariz. Além disso, há mais risco de problemas respiratórios”, diz o oncoginecologista do Hospital Samaritano. Ao menos esse problema é raro: segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a incidência da papilomatose de laringe é de 2 a 43 casos em 1 milhão de crianças.

O tratamento

Os condilomas e as lesões causadas pelo HPV podem, sim, ser tratados durante a gravidez. “O tratamento depende de vários fatores, como o tipo, a localização e o tamanho das lesões”, informa Breitbarg. No caso das verrugas, por exemplo, o laser é uma das melhores opções. Se elas estiverem na parte externa da região genital, pode ser aplicado um ácido. Já as lesões mais graves podem ser retiradas por cirurgia. Esses procedimentos estão liberados em qualquer fase da gestação. Mas, de acordo com a Febrasgo, o ideal é que sejam realizados até a 34a semana, para garantir uma boa cicatrização antes do parto.

Segundo Alessandra Bedin, do Hospital Albert Einstein, as técnicas contraindicadas na gravidez são a eletrocauterização, que estimula a contração uterina; os imunomoduladores, que não contam com estudos que comprovem sua eficácia na gestação; e a podofilina, que pode ser tóxica.

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No pós-parto, como a imunidade da mulher volta a se fortalecer, é comum que as lesões desapareçam. Mesmo assim, é preciso continuar o acompanhamento com o ginecologista até ter a certeza de que não há mais infecção pelo HPV. Se as manifestações persistirem, aí a paciente pode recorrer a qualquer uma das formas de terapia.

Tratar antes de engravidar pode ser perigoso?

Mulheres que desenvolveram lesões graves antes de ficarem grávidas e precisaram se submeter a uma cirurgia podem ter uma gestação mais complicada. “Nesses casos, uma parte do colo uterino é retirado no procedimento cirúrgico. Dependendo de como isso é feito, essa região pode ficar mais frágil e não conseguir segurar o bebê até o final”, explica Alessandra Bedin. A solução para evitar esse quadro é recorrer à cerclagem, procedimento no qual se dá um ponto no colo do útero para que ele consiga sustentar a gravidez.

A prevenção

A maneira mais eficaz de se proteger contra o HPV é tomando a vacina – e, embora o Ministério da Saúde recomende o imunizante para mulheres de até 26 anos, aquelas que já passaram dessa idade também podem receber as doses. No entanto, o imunizante não é indicado para grávidas. “É que a gente não sabe se ele causa algum mal à gestante”, justifica Rômulo Negrini, professor da Santa Casa de São Paulo.

Portanto, o encontro com a seringa deve ocorrer antes ou depois da gravidez. Hoje, há dois modelos de vacina: a bivalente, que protege contra os tipos mais comuns de HPV de alto risco (o 16 e o 18) e a quadrivalente, que inclui as variantes 6 e 11, de baixo risco. Na rede pública, a versão completa, contra as quatro as formas mais frequentes do vírus, está disponível gratuitamente apenas para meninas de 9 a 13 anos. Pacientes acima dessa faixa etária devem recorrer a clínicas privadas.

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Outra medida preventiva contra o HPV é fazer, regularmente, o Papanicolau – mesmo se você não estiver grávida. “Esse exame mostra se há uma sugestão de infecção ou até uma lesão mais séria”, alerta Ricardo Breitbarg, do Samaritano. Aliás, esse procedimento é a melhor forma de avaliar com antecedência possíveis complicações do papilomavírus em pacientes que já foram infectadas por ele. “Nesses casos, a vacina não vai ter vantagem”, lamenta Breitbarg. 

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