Estudos obtêm novas informações sobre como o zika afeta o bebê na gravidez

Uma pesquisa americana identificou não só como esse vírus chega até o feto mas também uma possível forma de impedir que isso aconteça. E um trabalho nacional mostrou em imagens como fica o crânio de recém-nascidos com microcefalia causada por esse agente infeccioso. Entenda.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 27 out 2016, 21h15 - Publicado em 21 jul 2016, 16h21
Ultrassom: imagem de bebê dentro da barriga. É possível identificar todo seu corpinho.
 (YsaL/Thinkstock/Getty Images)
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O vírus zika não para de causar estragos. Nesta quarta-feira (20), o Ministério da Saúde informou que, até o último dia 16 de julho, foram confirmados 1 709 casos de bebês nascidos com microcefalia e outras alterações do sistema nervoso, que parecem ter sido causadas por infecção congênita. De acordo com o boletim da pasta, outras 3 182 crianças estão em investigação. E não é só aqui no Brasil que esse micro-organismo tem sido motivo de medo e preocupação: em vários países da América Latina, nos Estados Unidos e até na Europa, cientistas, governantes e boa parte da população estão se mobilizando para combater esse agente infeccioso.

É o caso de pesquisadores da Universidade da Califórnia, que publicaram, na última segunda-feira (18), um estudo que identificou os caminhos que o zika percorre até chegar ao feto durante a gravidez. De acordo com o trabalho, divulgado na revista científica Cell Host & Microbe, no primeiro trimestre, o vírus costuma atravessar a placenta para atingir o bebê; já no segundo trimestre, uma rota pela bolsa amniótica se torna disponível. “Poucos vírus conseguem alcançar o feto durante a gravidez e causar malformações. E entender como eles fazem isso é algo muito significativo e talvez seja a pergunta mais essencial para encontrarmos maneiras de proteger os bebês quando suas mães forem infectadas”, raciocina a virologista Lenore Pereira, professora na Universidade da Califórnia em São Francisco e uma das autoras da pesquisa.

Mas os achados dos cientistas americanos não pararam aí. Por meio de amostras de tecidos humanos, eles descobriram que um antibiótico chamado Duramycin é capaz de bloquear a replicação do zika em células que o levam até a criança dentro da barriga. “Isso indica que essa e outras drogas similares poderiam efetivamente reduzir ou prevenir a transmissão do vírus zika de uma mãe para o feto e também evitar defeitos congênitos no bebê”, diz a coautora do estudo, Eva Harris, que é professora na Universidade da Califórnia em Berkeley.

O Duramicyn é aplicado em animais e está sendo estudado para ser usado em pacientes que sofrem com a fibrose cística, uma doença genética grave que afeta os pulmões, o pâncreas e o sistema digestivo. Em experimentos recentes, porém, identificou-se que esse antibiótico também pode ser uma arma contra os flavivírus, família do qual fazem parte os vírus da zika e da dengue, por exemplo. Com mais trabalhos científicos como esses, é provável que a resposta para essa hipótese seja encontrada em breve.

Os efeitos do zika no crânio

Divulgação/Neurology
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Sífilis, toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus são algumas das doenças que podem levar uma criança a nascer com microcefalia, se a mãe contraí-las durante a gravidez. Mas nenhuma delas parece causar uma malformação tão severa no bebê quanto o vírus zika. É o que demonstra um estudo recente do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), publicado no dia 5 de julho no periódico Neurology, da Academia Americana de Neurologia. Os pesquisadores brasileiros divulgaram imagens tridimensionais inéditas da lesão causada pelo zika no crânio de recém-nascidos microcéfalos, cujas mães foram infectadas no primeiro trimestre de gestação.

“Com as imagens tridimensionais realizadas no IFF nós conseguimos visualizar todos os aspectos da calota craniana, nessas imagens temos as dimensões reais. Como estamos diante de uma situação nova, o que nos chamou atenção foi o grau de deformidade do crânio”, conta a radiologista Márcia Boechat, a responsável pelos exames e pelas imagens publicadas.

Divulgação/Neurology
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Segundo Dafne Horovitz, médica geneticista do IFF e autora do artigo, observou-se que o tecido cerebral dos bebês analisados foi bastante afetado. Os cientistas também identificaram que a estrutura óssea do crânio dessas crianças sofreu uma espécie de colapso, de modo que o cérebro parou de se desenvolver. “Com isso, os ossos superiores foram rebaixados. Clinicamente, é possível palpar uma espécie de bico tanto atrás, na região occipital, quanto nas laterais da cabeça dos bebês (veja na imagem acima)“, explica Horovitz.

Para os estudiosos, esse trabalho reforça a ideia de que o zika tem como alvo principal o sistema nervoso do feto. “Por conta da desaceleração do crescimento cerebral, alguns neurônios acabam perdendo as suas funções, o que prejudica diretamente a capacidade de aprendizagem dessas crianças”, esclarece a neurologista infantil Tânia Saad, que também participou da pesquisa. Segundo ela, dependendo da área do cérebro onde ocorrem as lesões, os pequenos também podem desenvolver problemas de visão, surdez, dificuldade para engolir a própria saliva, convulsões e outras complicações.

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