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Estresse: a importância de combatê-lo na gravidez

O nervosismo é um grande inimigo da gestação saudável. Entenda por que você deve pegar leve no trabalho, na alimentação e até nos papos deprê com as amigas.

Por Sibelle Pedral (colaboradora)
Atualizado em 27 abr 2017, 16h01 - Publicado em 10 fev 2015, 18h48
Thinkstock/Getty Images
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No saguão da clínica do ginecologista e obstetra Carlos Eduardo Czeresnia, em São Paulo, chama a atenção uma parede com cerca de 10 metros de comprimento coberta do teto ao chão por fotos de bebês e pais sorridentes. São crianças que vieram ao mundo pelas mãos dele e de sua equipe ao longo de mais de 30 anos realizando partos. Médico do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, casado com uma designer de jóias e pai de cinco filhos, Czeresnia se destaca entre os colegas por uma visão humanista e sensível da gestante. “Vivemos numa sociedade que exige muito dos indivíduos e trata com dureza a mulher grávida numa fase em que é natural esperar uma queda na capacidade produtiva”, diz. O médico acredita que, enquanto está gestando — ou seja, zelando pela preservação da espécie —, a mulher deveria se cuidar mais, se poupar e buscar ser ainda mais feliz. Como fazer isso quando se trabalha fora, em tempos de mercado de trabalho enxuto, demandando longas jornadas, e tanto temor de desemprego? Confira as respostas na entrevista abaixo.

Muitas grávidas se sentem cheias de energia, quase onipotentes; outras não têm pique para nada. Só os hormônios explicam isso?

Carlos Czeresnia: Não. Existem aspectos emocionais, psicológicos e da constituição de cada mulher que também influenciam, além de fatores ambientais. Quem já tem uma vida ativa e conta com um ritmo metabólico maior provavelmente seguirá o mesmo padrão na gravidez. Já aquelas que são mais sedentárias talvez não tenham todo esse pique. Quando a gestação foi muito desejada, é mais comum que a mulher se sinta muito bem, feliz e disposta. O próprio aumento de fluxo circulatório e as alterações vasculares que favorecem a irrigação cerebral e dos músculos proporcionam mais ânimo e capacidade de atuar no dia a dia. Por todos esses fatores, a gestação é um período de grande energização da mulher. Tanto que, até os anos 70, os russos e búlgaros faziam suas ginastas engravidarem e abortarem um pouco antes das Olimpíadas como forma de melhorar a capacidade física e o desempenho delas.

Sendo assim, não é natural pensar que a gestante deveria se tornar ainda mais produtiva no trabalho? Faz sentido uma tese que ainda vigora em muitas empresas, a de que mulher grávida “encosta”?

Carlos Czeresnia: Esse preconceito vem dos primórdios da entrada da mulher no mercado de trabalho, décadas atrás, quando, de fato, a gravidez estava muito relacionada com absenteísmo. Mas é claro que, grávida, ela não tem a mesma capacidade produtiva de antes. Ou pode até ter, mas vai pagar caro por isso: precisará fazer um esforço sobrenatural para compensar as alterações físicas e neurais promovidas pela gravidez. A mãe natureza deu à mulher as condições necessárias para a geração de um filho, que continuará a espécie. Então, toda a energia dela está sendo gasta no desenvolvimento do bebê. A gestante tem aumento de 30% no metabolismo: o coração bate mais depressa, os pulmões funcionam mais, os vasos sanguíneos se dilatam. Se ela despende muita energia em outras coisas, sobrará menos para o corpo preparar o bebê. Mas a verdade é que estamos numa sociedade que exige muito de todos os indivíduos e trata com dureza a mulher grávida.

A sabedoria popular diz que gravidez não é doença.

Carlos Czeresnia: Não deve ser encarada como doença, mas é um estado de maior fragilidade. As gestantes têm que diminuir as situações de estresse, porque estão mais vulneráveis do ponto de vista emocional. São mais cíclicas, alternam estados de alegria e depressão. Muitas vezes, condições que normalmente não causariam nada são capazes de desencadear as reações mais esdrúxulas durante a gravidez. E essas reações liberam substâncias e hormônios que passam pela placenta e atingem o bebê. O que podem causar? Não dá para saber, mas que vão fazer alguma coisa, vão. No ultrassom de quatro dimensões, às vezes vejo bebês com fisionomias tensas, contraídas. Deduzo que a mãe está sob grande estresse. Não dá para dizer que essa criança vai ser mais neurótica, mas a verdade é que o estresse da mãe acaba interferindo na gestação.

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Quais as conseqüências do estresse para a gestante e o bebê?

Carlos Czeresnia: Já existem estudos mostrando que um camundongo fêmea sob situações de estresse, como restrição alimentar, barulho e excesso de luminosidade, tende a produzir menos filhotes do que o animal que teve condições mais tranquilas. Na espécie humana também há consequências. Trabalhos clássicos apontaram incidência maior de partos prematuros e bebês de baixo peso entre enfermeiras americanas submetidas a um regime de trabalho pesado. O estresse libera hormônios que contraem o útero e diminuem a vascularização. Sob estresse, você come pior, sua digestão é pior, a absorção de nutrientes é pior, a vulnerabilidade a infecções é maior. Se a gestante leva uma vida estressante, são maiores os riscos de ter problemas como hipertensão e infecções. Na gestação, defendo uma política de redução de estresse — seja o estresse digestivo, evitando alimentos pesados, seja o do trabalho… Até amigas que vêm com conversas depressivas e filmes tristes eu sugiro evitar nessa fase.

O que a mulher deveria fazer logo que se descobre grávida?

Carlos Czeresnia: O ideal seria ficar no seu cantinho, sossegada, comendo tranquila, levando uma vida pacata, evitando contato com infecções e problemas. Gosto muito dos exemplos da natureza. Entre os animais, dá para reconhecer logo uma fêmea grávida pelo seu comportamento: ela fica mais reclusa, muitas vezes não deixa nem os próprios parceiros se aproximarem. Descansa mais. Os sintomas típicos de início da gravidez (cansaço, sonolência, dificuldade de concentração) provavelmente são mecanismos de defesa da mãe natureza, comportamentos que garantem condições para o bom desenvolvimento da gestação. Trata-se de um período fundamental: é quando o embrião se implanta, são estabelecidos os sistemas de trocas materno-fetais, o sistema imunológico da gestante entra em ação aceitando ou rejeitando o desenvolvimento do tecido placentário e começa a ocorrer a dilatação dos vasos e o início do processo de nutrição do feto. No entanto, está claro que aquele ideal que mencionei é uma utopia para a mulher de hoje, que tem uma jornada quádrupla de trabalho (como profissional, mãe, esposa e administradora da casa).

Se não é possível abrir mão da tal jornada quádrupla, o que dá para fazer para melhorar a qualidade de vida?

Carlos Czeresnia: Dar um break durante a jornada de trabalho é o básico — parar 15 minutos depois do almoço, sentar num cantinho e colocar as pernas para o alto. Isso a maior parte das mulheres, até mesmo a executiva mais atarefada, consegue fazer. Outra estratégia é ter atividades que reduzam o nível de estresse, como meditação e ioga, ou exercícios físicos, como hidroginástica e alongamento. Também é importante a grávida ter oito horas por dia de sono. O sono é o grande reparador.

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Quais os seus conselhos para mulheres envolvidas em profissões muito estressantes, como médicas e policiais?

Carlos Czeresnia: Elas têm que encontrar uma forma de relaxar. Isso é obrigatório. Quem não tem condições de se abster de situações estressantes precisa ter essa ideia bem presente o tempo todo. A escolha da válvula de escape vai depender de cada pessoa.

Quais são as recomendações que o senhor dá a suas pacientes sobre a alimentação para evitar o estresse digestivo?

Carlos Czeresnia: O importante é se alimentar o suficiente para garantir as condições necessárias e adequadas para ter um bebê saudável. Existem trabalhos que mostram que jejum prolongado, por exemplo, prejudica o fornecimento de nutrientes para o bebê. Fora da gestação, a mulher pode comer uma vez por dia se quiser. Mas, quando se descobre grávida, tem que passar a se alimentar a intervalos bem curtos, porque o jejum é ruim para a formação da criança. Por outro lado, se comer muito de uma só vez, corre o risco de passar mal, pois a digestão é bastante lenta durante a gravidez. Além disso, quando o estômago se distende rapidamente, pode desencadear o reflexo do vômito. Digo a minhas pacientes que elas não precisam almoçar nem jantar, mas, sim, dividir a quantidade de calorias que devem consumir diariamente pelas 24 horas do dia comendo como um passarinho: pequenas quantidades em tempo curto. Mesmo à noite, quando acordam para fazer xixi, devem comer alguma coisinha, principalmente as que têm vômitos frequentes. Oriento para uma alimentação de fácil digestão. Também alerto contra o risco da contaminação alimentar: em casa ou em restaurantes, não corram o risco de consumir alimentos deteriorados. Isso porque infecções intestinais podem provocar lesões fetais. A ideia básica é: preste atenção no que come; dê preferência a alimentos leves, de fácil digestão; e que sejam frescos e de procedência segura.

Até quando seria ideal uma grávida trabalhar?

Carlos Czeresnia: Depende de cada pessoa e do tipo de trabalho. Mas seria interessante que parasse no nono mês ou pelo menos nos últimos 15 dias. A mulher que dá expediente até o finalzinho da gravidez chega muito cansada ao parto, sem reservas para o que virá depois. O grande estresse vem nos 15 dias seguintes. Aí, com a pilha gasta, ela corre o risco de ter depressão e dificuldade para amamentar, sem falar nos problemas de relacionamento com o bebê e o marido. Se estiver mais descansada na hora de dar à luz, todos saem ganhando. Principalmente o bebê.

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