Especialista de Harvard fala sobre a importância da alimentação balanceada na gravidez

Autora da obra "O livro de Receitas da Grávida Saudável", a obstetra Hope Ricciotti, da Faculdade de Medicina de Harvard, revela como o consumo de determinadas vitaminas e nutrientes durante a gestação contribui para o desenvolvimento do pequeno.

Por Gabriela Agustini (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 23h54 - Publicado em 1 jun 2015, 12h16
g-stockstudio/Thinkstock/Getty Images
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Toda a atenção ao selecionar os ingredientes que vão para o prato da gestante é pouca. Novas pesquisas mostram que o risco de diversas doenças, como obesidade, diabetes e problemas cardíacos, pode surgir da alimentação do bebê quando ele ainda está no útero. O alerta é da ginecologista e obstetra Hope Ricciotti. “Há provas de que, se a mãe consome uma dieta com muita gordura, o bebê apresenta maior probabilidade, no futuro, de vir a desenvolver doenças cardíacas, como a aterosclerose (formação de placas na parede das artérias)”, explica.

Hope enfatiza que a prevenção a esse tipo de mal pode ser feita com a ingestão de gorduras insaturadas e monoinsaturadas, como o azeite de oliva e os óleos de amendoim, de canola e de girassol, em detrimento das gorduras saturadas ou trans, presentes nos produtos industrializados e margarinas, por exemplo.

Casada com um chef de cozinha, Hope trabalha com nutrição de mulheres, em Boston, EUA, há 15 anos. Ao todo, já escreveu cinco livros sobre o assunto, além de contribuir frequentemente com artigos para diversos jornais e revistas norte-americanos. Sobre a obra lançada pela editora Publifolha (The Yummy Mummy Pregnancy Cookbook, título original em inglês), ela conta que “o objetivo é juntar a ciência da nutrição com a arte da culinária, aplicados a esse período especial da vida da mulher”. Na entrevista a seguir, a obstetra explica por que é fundamental se alimentar de maneira saudável durante a gravidez.
 
Como a alimentação da grávida influencia o feto?
Hope Ricciotti: Pesquisas recentes apontam que problemas de saúde comuns entre os adultos, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, podem ter origem ainda no útero da mãe. Os dados mostram que a prevenção também pode começar aí. Entre a 28ª e a 40ª semana de gestação, por exemplo, o bebê cresce 350%. É nesse intervalo que o feto acumula camadas de gordura. O aumento de glicose na corrente sanguínea da mãe está relacionado ao crescimento da circunferência abdominal do bebê. Crianças que nascem muito gordas apresentam mais riscos de vir a desenvolver obesidade, diabetes e problemas cardíacos. É importante manter o nível de glicose baixo e estável, o que pode ser alcançado com a substituição de carboidratos simples (refinados) pelos complexos (não refinados). A nutrição adequada nos primeiros estágios da gravidez garante ainda o completo desenvolvimento da placenta (o órgão responsável pela oxigenação e alimentação do feto) e do sistema circulatório do bebê.
 
Como a futura mãe pode estimular o desenvolvimento do bebê?
H. R.: Determinadas vitaminas e alguns nutrientes estão associados ao desenvolvimento do sistema nervoso e cerebral do feto e podem prevenir anomalias. Um dos problemas congênitos mais comuns, a má-formação do tubo neural (que deixa a medula óssea parcialmente exposta), por exemplo, pode ser prevenido com a ingestão de alimentos ricos em ácido fólico. Para maximizar o desenvolvimento do cérebro e de todo o sistema nervoso do feto, indico uma dieta rica em ácidos graxos ômega-3 (presente na linhaça e nos peixes de água fria, como salmão e truta). Os benefícios irão se estender pelos primeiros anos de vida da criança. É importante sempre lembrar que o crescimento do bebê é impulsionado por aquilo que a mãe come.
 
O que a grávida deve comer para ter um bebê saudável?
H. R.: Ela deve manter uma dieta balanceada e diversificada. A gravidez não exige uma dieta com pouca gordura e carboidratos. Atualmente, os especialistas recomendam que as gestantes consumam de 50 a 60% das calorias diárias na forma de carboidrato, de 25 a 35% de gorduras e 20% de proteínas. Não é necessário contar. Ela deve apenas se lembrar de, durante a semana, ingerir as porções recomendadas de cada grupo alimentar. Frutas, legumes, verduras, grãos integrais, proteínas boas para o coração e gorduras saudáveis fornecem quase todos os nutrientes de que o corpo precisa. A única exceção é o ferro, que, em muitos casos, precisa ter sua dose garantida por meio de suplementos vitamínicos.
 
Uma dieta rica em carboidrato não pode gerar um bebê acima do peso?
H. R.: Sabe-se que uma das principais causas do excesso de peso do feto é o nível elevado de glicose na corrente sanguínea da mãe, que é afetado pelo consumo de carboidratos. Por isso, a grávida deve optar pelos açúcares e grãos não refinados ou integrais. As moléculas desse tipo são quebradas de maneira mais lenta no organismo, liberando a glicose num fluxo constante, sem os picos que experimentamos ao comer carboidratos refinados. Não é difícil fazer essa substituição. Pães, cereais, massas e bolachas são facilmente encontrados na opção integral. Recomendo o consumo de farinha e arroz brancos apenas ocasionalmente. Já os doces devem ser ingeridos em porções pequenas.
 
Na amamentação, existe alguma recomendação para auxiliar o desenvolvimento do bebê?
H. R.: O pós-parto é o momento de restaurar os nutrientes do corpo. Quem amamenta precisa de 200 a 500 calorias a mais por dia e um pouco mais de proteína (cerca de 70 g diários). É importante, nessa fase, ficar atento à hidratação do bebê, por isso, são recomendados cerca de oito copos (de 175 a 240 ml) de líquidos todos os dias. Estudos mostram que o leite materno estimula a inteligência dos bebês quando os ácidos graxos ômega-3 estão presentes na dieta da mãe. O consumo de complexo vitamínico durante a amamentação é uma boa ideia, já que os cuidados com o recém-nascido dificultam uma alimentação adequada.

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