Cosméticos que as mulheres podem usar na gravidez
Não é preciso aposentar todos os cremes de beleza pelos próximos nove meses. Saiba quais devem ficar no armário até o bebê nascer e quais podem ser usados
É verdade que a gravidez conspira a favor da beleza (os cabelos, por exemplo, ficam lindos e brilhantes), mas também traz problemas que exigem cuidados específicos. Tudo em função dos hormônios que entram em cena e causam reações que variam para cada grávida. Algumas mulheres ficam com a pele sensível, seca e sujeita a alergias. Para outras, oleosa e propensa a acne. A microcirculação sanguínea também aumenta, favorecendo a absorção dos ativos. Sem falar na sensibilidade aguçada para cheiros, que pode tornar insuportável até mesmo aquele perfume predileto. “Nessa fase, a mulher tem de rever os cosméticos que usa e substituir alguns por versões mais suaves ou específicas para gestantes”, diz o farmacêutico e cosmetólogo Maurício Pupo, de Campinas, coordenador do curso de pós-graduação em cosmetologia da Universidade Camilo Castelo Branco, em São Paulo.
Na lista de restrições da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), estão três substâncias: cânfora, ureia acima de 3% e chumbo, figurinhas carimbadas em creme para pernas e pés, hidratantes corporais e coloração, respectivamente. “A cânfora pode ser tóxica, causar defeitos no feto e até aborto, dependendo do tempo de exposição”, afirma o obstetra Márcio Coslovsky, do Rio de Janeiro, especialista em reprodução humana. Quanto à ureia, há estudos mostrando que ela atravessa a barreira placentária, a grande protetora do bebê, podendo prejudicar a formação e o crescimento dele. “Além disso, o ativo é um bom carreador de substâncias que não deveriam entrar na pele, como os conservantes”, completa Pupo. Já o chumbo, de acordo com a dermatologista Carla Góes Souza Pérez, de São Paulo, autora do livro Grávida e Bela (Ediouro), mesmo em baixa concentração, pode interferir no metabolismo, aumentar a pressão arterial e causar intoxicações na mãe, com prejuízos para os rins e os sistemas nervoso e cardiovascular. Os efeitos dependem do período de uso e da sensibilidade de cada mulher. “Também para o bebê, os perigos do contato com esse metal pesado são muitos, incluindo retardo mental, convulsão e até morte”, alerta Coslovsky.
Bye, bye aos ácidos
Os especialistas engrossam a lista do trio proibido pela Anvisa com outros ativos que também podem ser nocivos para mãe e bebê. Os ácidos, encontrados em produtos clareadores, antiacne e anti-idade, são alguns dos que estão na mira. “O ideal é que o retinoico, por exemplo, seja suspenso três meses antes de a mulher engravidar ou assim que ela descobrir que vai ser mãe, para prevenir malformações”, avisa Coslovsky.
O ginecologista e obstetra José Bento de Souza, dos hospitais Albert Einstein e Maternidade Pró-Matre, em São Paulo, chama a atenção para os ácidos glicólico, em concentrações acima de 10%, e salicílico. “Faltam estudos científicos que garantam a segurança do uso de altas doses de ácido glicólico durante os nove meses. Quanto ao segundo, apesar de não haver pesquisas com humanos, há análises mostrando que ele provoca alterações embrionárias em fetos de ratas em qualquer fase da gestação”, justifica.
Olho neles!
Também devem ir para o fundo do armário os cremes clareadores de pele à base de hidroquinona. Procure a informação na caixa ou entre os ingredientes do rótulo. Faça o mesmo em relação aos produtos que usa para tratar manchas, oleosidade, acne, celulite e gordura localizada. Se tiverem derivados da vitamina A, caso da tretinoína, do adapaleno e da isotretinoína, melhor deixar de lado. Não há estudos conclusivos sobre a segurança desses ativos – e não é agora que você vai arriscar, não é mesmo? “Aconselho descartar ainda os filtros solares com metoxicinamato. Esse elemento pode chegar à circulação e atravessar a placenta”, afirma a dermatologista Valéria Marcondes, de São Paulo. No lugar dele, a médica recomenda protetor formulado com óxido de zinco.
O conservante parabeno, encontrado em desodorantes, maquiagem e xampu, é outro a ser esquecido. “Estudo realizado com roedores mostraram alterações hormonais após exposição excessiva à substância”, diz a farmacêutica Juliana S. de Souza, coordenadora de estudos clínicos do Centro Brasileiro de Estudos em Dermatologia, em Porto Alegre. O farmacêutico Maurício Pupo alerta que as grávidas que trabalham com beleza, caso de cabeleireiras e manicures, devem conversar com o médico sobre o fitalato (o mesmo componente dos plásticos que foi recentemente banido das mamadeiras), muito usado em sprays fixadores e esmalte. “Pesquisa publicada em 2009 no Jornal Americano de Andrologia, dos Estados Unidos, revelou que altas doses desse composto causam malformação na genitália dos meninos”, completa ele.
Na hora de passar o pente fino no nécessaire, deixe de lado também os perfumes e as loções com álcool, que irritam a pele. Descarte ainda os nutracêuticos. Mais conhecidos como pílulas da beleza por combaterem os radicais livres que aceleram o envelhecimento, esses suplementos contêm ativos como as vitaminas C, E e do complexo B, além de minerais como zinco, cobre, selênio, ferro, cromo e cálcio. Dependendo da finalidade, vários outros componentes podem estar presentes na fórmula, como licopeno, aminoácidos essenciais, proteínas marinhas, ômegas 3, 6 e 9 e chá verde. “Não há garantia de que esses suplementos de beleza possam ser usados na gravidez. Um risco comum a qualquer multivitamínico ingerido por conta própria é que ele desequilibre a absorção de outros nutrientes, como o ácido fólico, fundamental para a grávida”, avisa o obstetra Alfonso Massaguer, professor responsável pelo curso de reprodução humana das Faculdades Metropolitanas Unidas, em São Paulo.
Arrumando o nécessaire
Se, por acaso, você se deu conta de que utilizou um dos ativos aqui relacionados, não precisa entrar em pânico. Basta suspender o uso imediatamente e conversar com o médico, que vai continuar atento ao resultado dos ultrassons para confirmar se está tudo bem com o bebê.