Confesse: não é só o bebê que se maravilha ao entrar numa loja de brinquedos. Você também se deixa seduzir pelas formas graciosas, as cores vibrantes e a promessa de gostosas tardes vendo seu fofo brincar. Dá vontade de levar tudo. Mas é preciso escolher e aí surgem as dúvidas. Um bebê de 6 meses consegue mesmo empilhar blocos ou se divertirá mais com um bichinho de pelúcia? Um menino de 1 ano já entende o que é um carrinho?
A melhor pessoa para responder, acredite, é você! Quem afirma é a psicopedagoga Angela Cristina Munhoz Maluf, de Cuiabá, autora dos livros Brincar: Prazer e Aprendizado e Atividades Recreativas para Divertir e Ensinar (ambos da Vozes). “Participar do dia a dia do filho dá aos pais pistas das habilidades que o bebê já domina e dos interesses dele a cada fase”, diz ela. É verdade que, depois de um dia de trabalho, nem sempre resta disposição para sentar no chão e encaixar pecinhas. Mas procure reservar os fins de semana e pelo menos 30 minutos diários para essa convivência. “Nesses momentos, há uma troca de carinhos, olhares e gestos muito importante para o desenvolvimento social, afetivo e físico da criança”, garante a especialista.
Voo livre
Que fique bem entendido: brincar junto não é brincar por ele nem ensinar como se faz, mesmo porque não existe um jeito certo – afinal, num terreno em que a imaginação comanda, promover o telefone a carrinho não é nenhum problema. A brincadeira deve ser livre e estimular a autonomia. O aprendizado vem justamente do esforço do seu filho para desvendar os recursos do brinquedo e criar soluções para os desafios que ele apresenta – significa, por exemplo, descobrir que o trenzinho apita e achar o ponto onde é preciso apertar para que ele faça isso. “Imagine uma borboleta saindo do casulo. A força que ela fizer é que vai estabelecer sua capacidade de voar mais ou menos alto”, compara Maurício Garcia, coordenador do setor de fisioterapia do Instituto Cohen de Ortopedia, em São Paulo. Não significa que sua borboletinha voará melhor se for direto para as diversões mais complexas. “O desenvolvimento acontece em etapas. É como subir uma escada: os ganhos motores, sensoriais, afetivos e intelectuais têm que ser conquistados degrau por degrau. E ninguém corre sem antes ter aprendido a andar”, diz Angela.
Ao dar um brinquedo novo, deixe seu filho explorá-lo livremente. Depois de alguns minutos ou no dia seguinte, mostre como ele funciona, mas de maneira casual – “Olha, essa argola gruda na outra”. Depois, apenas observe as tentativas do pequeno de fazer igual, sem corrigi- lo. Também não se decepcione caso ele resolva que é mais divertido atirar as argolas para você pegar do que encaixá-las umas nas outras. “A criança não deve ser obrigada a seguir regras nas brincadeiras. Ela precisa de liberdade para experimentar”, ensina a socióloga Cecília Aflalo, consultora da Fundação Abrinq, em São Paulo, e coordenadora do site abrinquedoteca.com.br.
A seguir, nossos especialistas desvendam as habilidades mais comuns do bebê a cada fase para você acertar nos brinquedos e nas diversões que deve oferecer a ele. Garanta a brincadeira, pois, como diz o pediatra Silvio Luiz Zuquim, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, ela é o melhor estímulo para um desenvolvimento saudável.
Até 6 meses
No primeiro mês de vida, o recém-nascido não controla o movimento das mãos e enxerga apenas de 20 a 30 centímetros de distância. Em compensação, tem uma audição bem desenvolvida – tanto que vira a cabecinha na direção da voz dos pais. A partir do segundo mês, ele já sorri voluntariamente, acompanha objetos e pessoas com o olhar e reconhece papai e mamãe. Mas o grande salto acontece entre o terceiro e o quarto mês. Aí, seu filho já sustenta a cabeça e controla melhor o tronco – no final do quarto mês, fica sentado com apoio por alguns minutos. Ele aprende a rolar na cama e, com a visão mais amadurecida, está muito interessado em descobrir o mundo. Observa tudo e se distrai até quando está mamando. Também explora o próprio corpo olhando para as mãos e tocando voluntariamente orelhas, bochechas e genitais. As mãozinhas tentam alcançar objetos suspensos e conseguem pegar e soltar brinquedos pequenos. Se está irritado, feliz, surpreso ou com medo, sua expressão facial demonstra essas emoções, e ele começa a emitir as primeiras vocalizações, em forma de gritinhos e balbucios. Do quinto mês até o final desse período, vai afinar essas habilidades e aprimorar a coordenação motora a ponto de segurar objetos.
Escolha certa: móbiles com argolas de cores fortes; bichinhos coloridos e bolas de diferentes texturas; chocalhos e brinquedos musicais; mordedores; livrinhos de tecido ou de plástico.
De 6 a 12 meses
Prepare-se para uma (boa) surpresa a cada dia. Aquele bebezinho que mal conseguia se manter ereto já consegue sentar sem apoio e girar o tronco, transferir objetos de uma mão para a outra e manusear duas ou mais coisas ao mesmo tempo. Com a coordenação motora mais afinada, ele é capaz até de pegar brinquedos e alimentos usando o polegar e o indicador. Aos 7 meses, vocaliza vários sons indiscriminadamente e reconhece o tom de aprovação ou de desaprovação quando um adulto fala com ele. Sua musculatura fortalecida permite que ele vire de bruços sozinho e se apoie nos antebraços para observar o ambiente. Em algum momento, até o final desse período, começa a se locomover engatinhando, se arrastando ou se deslocando com o bumbum. No oitavo mês, de um jeito ou de outro, vai atrás dos objetos que despertam sua atenção e, quando os alcança, experimenta virá-los, sacudi-los, apertálos, batê-los. É um curioso profissional! Para completar, descobre os prazeres da música e mexe o corpinho dançando para acompanhar os ritmos. Aos 9 meses, enquanto explora os brinquedos, começa a formar o conceito de causa e efeito, percebendo, por exemplo, que o boneco cai toda vez que ele o solta. Logo, estará dando “tchauzinho”, ficando de pé e ensaiando os primeiros passos. Alguns começam até a pronunciar duas ou três palavras, além de “mamã” e “papá”.
Escolha certa: bichinhos flutuantes de borracha para a hora do banho; cubos ilustrados ou com guizos embutidos; brinquedos de encaixe e com superfícies espelhadas; argolas; coisas para martelar, empilhar e desmontar; telefoninhos e objetos que produzam sons por meio de botões para apertar, girar ou empurrar.
De 12 a 24 meses
Até os 18 meses, seu filho vai andar com desenvoltura e conseguirá subir escadas de mãos dadas com você. Nessa fase, está a mil tentando alcançar, segurar e explorar tudo. Começa a empilhar blocos, rabisca, dobra papel imitando um adulto e coloca objetos em aberturas é capaz, por exemplo, de pôr, sozinho, um CD para tocar. Falando nisso, tire do alcance dele tudo aquilo que você não quiser ver transformado em brinquedo, porque ele achará divertido descobrir as possibilidades lúdicas de chaves, escovas, vasos, controles remotos… e o que mais estiver dando sopa. Ah, sim, ele também come sozinho, imita os mais velhos e aponta as principais partes do corpo quando lhe pedem que mostre a cabeça, o pé ou o braço. Sua comunicação melhora bastante – já fala de seis a dez palavras e responde apropriadamente a expressões como “não”, “me dá” e “tchau”.
No semestre final dessa fase, o desenvolvimento motor se aprimora e a imaginação entra em cena, permitindo brincadeiras simbólicas, como dar de comer para a boneca com um pratinho vazio. Prepare-se agora para lidar com alguns galos e muitos ralados nos joelhos, pois seu bebê vai descobrir que consegue correr, subir escadas sem ajuda e criar soluções como usar uma varinha ou trepar em uma cadeira para alcançar um brinquedo que esteja no alto. Quando quebra alguma coisa, percebe o que aconteceu e leva para os pais consertarem. Ironicamente, tanta independência e autonomia o assustam – afinal, se ele pode ir para todo lugar e ficar distante significa que a mamãe também pode se ausentar. Sua resposta para a insegurança que essa descoberta traz é ficar mais agarradinho aos pais. Ao mesmo tempo, elege um cobertor, um paninho ou um brinquedo que faça o papel de “pais substitutos” quando está sozinho na hora de dormir, por exemplo. Chega ao segundo aniversário com um vocabulário de cerca de 100 palavras.
Escolha certa: bonecos; brinquedos de empurrar e puxar e de montar e desmontar; objetos com texturas, sons e cores variados; livros e álbuns de fotos com ilustrações dos familiares e objetos conhecidos; escorregador, balanço e triciclo.
Para ver, escutar e se divertir
A partir do sexto mês, a tecnologia pode entrar em cena para aumentar o leque das diversões em família. Afinal, no mundo moderno, é impossível manter o bebê alheio à sedução da TV, dos smartphones e dos computadores, especialmente com o surgimento dos tablets. Os pequenos ficam alucinados com as imagens coloridas que se movimentam na tela. E não há nada de errado em deixar que se distraiam com esses aparelhos, desde que isso não se torne um hábito nem ocupe muito tempo – 30 minutos por dia, entre TV e outros eletrônicos, é o limite recomendado pelos especialistas. “O bebê precisa de diferentes estímulos de luz, sons, cor e movimento para ampliar plenamente a visão e a audição”, lembra a psicopedagoga Angela Cristina Munhoz Maluf. Mas não é só. Nos primeiros anos, o aprendizado depende de experimentações físicas. Por exemplo, é levantando e caindo que seu filho desenvolve o equilíbrio; é pondo a peça maior sob a menor que ele percebe que, se fizer o inverso, os blocos caem; e é tocando em água, areia e diferentes texturas que descobre que as coisas podem ser quentes ou frias, duras ou moles, macias ou ásperas. “Não há tela de computador que propicie essas experimentações. Para quem está descobrindo o mundo, empilhar bloquinhos de madeira é muito mais construtivo do que empilhar bloquinhos virtuais”, garante o pediatra Sílvio L. Zuquim.
De olho na segurança
Atenção a alguns detalhes evita que a brincadeira acabe em choro ou até em incidentes mais graves. É o que ensina a socióloga Cecília Aflalo, consultora da Fundação Abrinq, em São Paulo, e coordenadora do site abrinquedoteca.com.br.
– Evite brinquedos pesados, que possam cair sobre o bebê e feri-lo.
– Descarte objetos com bordas, pontas afiadas ou que soltem farpas, capazes de causar cortes e arranhões.
– Dispense efeitos sonoros muito altos, pois prejudicam a audição.
– Confira se há peças pequenas que possam ser engolidas – há risco de engasgo e sufocamento.
– Verifique a pintura – brinquedos que soltam tinta certamente não têm bom controle de qualidade e podem causar alergias e intoxicações.
– Meça eventuais fios e cordinhas – eles não devem ultrapassar 30 centímetros; senão, o bebê pode enrolá-los no pescoço.
– Prefira peças que sejam facilmente higienizáveis, porque o bebê leva tudo à boca.
– Procure sempre o selo do Inmetro e respeite a classificação etária indicada pelo fabricante – são garantias de segurança e adequação.