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Adoção: a minha gestação do coração

Por diversos motivos, muitas mulheres optam pela adoção para realizar o sonho da maternidade. A autora do blog Mamy Antenada é uma delas!

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 03h24 - Publicado em 8 jun 2015, 08h22

Priscilla Aitelli, 36 anos, é bióloga e idealizadora do blog Mamy Antenada. Aqui, ela fala sobre o longo caminho que percorreu até entrar na fila de adoção.

“Sempre quis ser mãe – tenho esse desejo desde criança. Mas como a maioria das mulheres contemporâneas, me deixei levar pela imposição da sociedade de que faculdade, carreira, estabilidade financeira vem à frente dos filhos – além de um marido e de um casamento. Eu me formei, fiz duas pós-graduações, casei, busquei a carreira que eu achava que me faria feliz, me estabilizei financeiramente e me separei. Depois disso, conheci uma pessoa muito especial e logo no começo do namoro já disse “não quero demorar para ter filhos”. Ele não titubeou e abraçou a ideia. Vivemos uma vida cheia de sentimentos, aprendizados e companheirismo.

Tentamos por alguns anos a gravidez “natural” e por diversas vezes a reprodução assistida. Entre uma e outra iniciamos nosso preparo para a gestação do coração: a adoção. Levamos todos os documentos necessários e aguardamos os novos passos: curso para futuros pais adotantes, entrevista com a Assistente Social, visita à nossa casa, finalização do estudo psicossocial, sentença judicial, inclusão no Cadastro Nacional da Adoção, intimação. 

Minha vida de tentante é bem longa, começou em 2007. Nesse tempo, realizei três cirurgias para a retirada de focos de endometriose, quatro inseminações artificiais e uma fertilização in vitro. Como a gravidez não aconteceu naturalmente após um ano de tentativas, começaram as investigações e muitos exames até o primeiro diagnóstico: possível endometriose. Cirurgia feita, focos eliminados e, a princípio, tudo certo para novas tentativas, mas os meses se passaram e nada. O sentimento de impotência, insegurança e ansiedade só aumentavam.

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Fomos atrás de clínicas de reprodução humana e a primeira inseminação artificial foi feita em agosto de 2010. Infelizmente, o resultado foi negativo. Decepção, impotência, incertezas – eram esses sentimentos que me invadiam. Resolvemos dar um tempo, procurar outros médicos especialistas e ouvir novas opiniões. Depois, nos preparamos para mais uma etapa, com as esperanças renovadas, mas ansiedade e apreensão iguais como sempre! Foram injeções hormonais diárias na barriga, controles diários por ultrassonografia para a verificação de crescimento dos folículos. Eu vivia com altas doses de hormônios circulando no sangue… Acho que vocês podem imaginar como era difícil!

Quando esse procedimento acabava, vinham os 15 dias mais longos da história, que se arrastavam até poder fazer o primeiro teste de gravidez. Em um deles, finalmente veio o resultado que esperávamos: o positivo! Os exames evoluíam bem, fizemos o primeiro ultrassom e até escutamos o coraçãozinho do bebê. Quando chegou o segundo exame, veio a bomba! Descobrimos que o nosso filho tinha parado de se desenvolver na oitava semana. Meu mundo caiu! Vivi dor, luto, foram dias muito difíceis… Mas eu sentia que tínhamos que superar e seguir em frente.

Fiz mais duas inseminações artificiais – uma negativa e outra positiva, mas essa gestação também não evoluiu. Nesse meio tempo, encontramos um médico em São Paulo, que nos informou que o problema poderia ser a incompatibilidade entre eu e o meu marido. Meu organismo identificava o bebê como um corpo estranho, em razão da informação genética do pai e, por isso, ele o expulsava. Teoricamente, esse diagnóstico explicava os dois abortos, pois não havia outras anormalidades. De certa forma, essa notícia veio como um alívio, por ter algo concreto a ser tratado, mas também como um balde de água fria. Como o meu corpo não aceitava algo que a minha alma e o meu coração desejavam tanto?

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Partimos para o tratamento, que foi feito com a chamada “vacina do papai” ou Imunoterapia com Linfócitos Paternos. A incompatibilidade não existia mais, então fomos para uma nova etapa da reprodução assistida, mas infelizmente esse procedimento também não deu certo. Eu não respondi bem aos medicamentos, fazendo poucos folículos e, consequentemente, poucos embriões, que não resistiram até serem implantados no meu útero. Conheço vários relatos de mulheres que engravidaram normalmente após a vacina do papai, mas isso não aconteceu comigo.

Já estávamos no nosso limite do investimento emocional pela busca do filho biológico. Valeu cada passo dado, inclusive para saber que era hora de parar, sentar, questionar, olhar para dentro de nós e refletir. A única certeza que vinha na minha cabeça era a de que eu queria ser mãe. Foi nessa hora que eu percebi que não importava como os meus filhos chegariam e comecei a viver a minha gestação do coração com plenitude. A partir desse momento, assumi isso para a sociedade – que impõe que as gestações são somente aquelas nas quais as mães geram os filhos pela barriga.

Acompanhei intensamente, como um pré-natal, o processo se encaminhando na Vara da Infância e Juventude. Comecei a dar forma e voz a essa gestação linda, prazerosa, aguardada, compartilhada, que deve ser vista como uma gravidez normal – apesar de não ter data prevista para o parto, muitas vezes não saber o sexo da criança, sua idade certa ou mesmo quantos filhos virão. A adoção também exige muito preparo e busca de informações.

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Após dois anos e oito meses do primeiro passo, em novembro de 2014, nosso positivo chegou junto com a inclusão no CNA (Cadastro Nacional de Adoção)! Aguardamos ansiosamente por nossos filhos – aqui, pode ser mais de um, menino ou menina! Como qualquer outra mãe, estou vivendo a minha gestação do coração com plenitude, alegria, expectativas, paparicos e ansiedade. Depois de todo o caminho que percorri, hoje tenho consciência de que cada coisa acontece no tempo certo. Eu sei que chegará o momento de realizar o meu grande sonho de ser mãe e meu coração diz que será em breve!”

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