Viajar para educar: a família que conheceu 10 países com 3 filhos pequenos
Depois de um acidente, Lucia e Guilber decidiram viajar com os filhos todo fim de semana. Com o tempo, expandiram os planos para rodar o Brasil e o mundo.
Há pouco mais de três anos, a família de Lucia Baeta Hidaka e Guilber Hidaka, donos de uma produtora de conteúdo em São Paulo, passou por um susto. Guilber sofreu um acidente e precisou ficar três meses de molho em casa. “Nessa época, ele trabalhava muito, inclusive nos finais de semana”, relembra Lucia.
Com o processo de recuperação, veio também a vontade de mudar o estilo de vida. “Ele percebeu que não precisaria trabalhar tanto, e nós estávamos sempre envolvidos em compromissos sociais que nos deixavam com pouco tempo livre para as crianças”, relata.
Assim, em 2017, os dois passaram de algumas viagens longas ao ano para fora do país para a decisão de viajar todos os finais de semana com a família por um ano inteiro. No começo, viagens curtas, perto de São Paulo. “Com o tempo, fomos percebendo as dificuldades, os hoteis sempre lotados e, quanto mais perto da cidade, mais caro eles eram”, conta.
Na época, o casal tinha Naomi, hoje com 6 anos, e Koa, 3 – depois veio Akira, que recentemente completou seu primeiro aniversário. Nesse meio tempo, eles já conhecerem 10 países e 16 estados brasileiros. Entre os destinos, Japão, Estados Unidos, Marrocos, Pantanal e Chapada dos Veadeiros.
Acampar, comprar um trailer, rodar o país
A iniciativa de viajar todo o fim de semana rendeu uma parceria com a Gol, que permitiu viagens para locais mais distantes no final de semana. “Conhecemos Fortaleza, Manaus, e muitos outros lugares bacanas. Dois dias parece pouco, mas quando estamos viajando as experiências são muito intensas”, conta Lucia.
“Começamos a perceber o quanto essas viagens curtas são boas não só para desligar da rotina, mas para as crianças”, relata a mãe. Depois disso, para seguir na estrada e ter mais opções próximas de destino, primeiro a família resolveu acampar. “Compramos uma barraca e íamos, mas dá um super trabalho e acaba limitando um pouco também”, relata.
Em busca de mais liberdade, surgiu a ideia de comprar um trailer. “Deixamos tudo pronto lá, mala, remédios, coisas para acampar, e quando chega sexta ou sábado é só sair”, diz. A família geralmente só decide o destino quando já está na estrada. Pode ser um camping perto de São Paulo ou mesmo viagens mais longas, quando há mais dias disponíveis.
“Em quatro dias, por exemplo, fomos para Foz do Iguaçu e voltamos. Parece loucura, mas essas doze horas dirigindo se apagam da memória quando relembramos os dois dias que passamos lá”, relata.
Como é viajar com crianças pequenas
A primeira preocupação da família sempre foi com a saúde. “Tenho uma pediatra que nos acompanha sempre à distância, então fico tranquilapois sei que mesmo no meio do mato terei a orientação adequada sobre o que fazer, além disso, levo eles periodicamente ao consultório para check-ups”, conta Lucia.
Agora, quanto a questões de conforto, alimentação e comportamento, Lucia garante que as crianças são flexíveis. “Não temos nenhum item obrigatório na rotina ou no cardápio, comem e bebem o que tem disponível, e se estiverem com os pais, está tudo bem”.
Eles optaram por não ter televisão em casa nem usar o celular para entreter os filhos durante as viagens longas. “Vamos conversando, e se eles chorarem, se entediarem, lidamos com isso. É cansativo, tem hora que você só quer parar de falar e escutar”, confessa.
Perrengues acontecem, e tudo bem
Contando assim, parece um conto de fadas, mas Lucia reconhece que é preciso muita dedicação e esforço para conseguir viajar tanto com as crianças. “Viajar é gerenciar problemas, mas colocamos isso como prioridade e vamos lidando com os empecilhos que acontecem”, relata.
O pneu fura, os filhos choram, a ida precisa ser reagendada… “Quem vê o Instagram não imagina o caos que é conseguir colocar o pé na estrada com tanta frequência”. Quando algo dá errado, a saída é a flexibilidade e o trabalho em equipe.
“Não nos questionamos quem errou, mas sim como resolver, e envolvemos as crianças também nessa resolução”, diz Lucia. “Eles dão as soluções mais criativas e ficam muito felizes de participar desse processo”, completa.
“A grande dica nesse sentido é aceitar o imprevisível, pois estamos saindo da nossa zona de conforto”. Por exemplo, uma vez a família atolou o trailer em uma praia deserta. Foram horas para resolver, muitas tentativas e erros. E, no fim das contas, essa foi a parte da viagem que as crianças mais gostaram!
Os aprendizados não tem preço
Para a família, as viagens são uma oportunidade ótima de passar tempo junto e melhorar a qualidade de vida dos pequenos. “Nós moramos em São Paulo, num ambiente que não é feito para crianças, que te força a consumir, seja comendo ou comprando, o tempo todo. Isso gera uma ansiedade forte nelas”, diz Lucia.
“Já estar na natureza é totalmente diferente, as crianças se conectam bastante e não precisam de nada para se divertir”, comenta a mãe, super antenada com os apelos recentes dos pediatras e até da Organização Mundial de Saúde (OMS) para que as crianças passem mais tempo ao ar livre.
O aprendizado “in loco” também amplia de maneira única o repertório das crianças. “A Naomi com seis anos já conhece as diferenças de vegetação da Mata Atlântica, da Amazônia e do cerrado, e o Koa com 3 sabe distinguir uma carpa de um pirarucu. Não porque ficamos explicando isso toda hora, mas porque eles viram tudo ao vivo”, conta Lucia.
“Essas experiências marcantes darão, mais tarde, outro significado para tudo o que eles forem aprendendo na escola”. O benefício notado foi tamanho que, inspirada por essas experiências, Lucia pretende abrir em 2020 uma escola bem focada na vivência com a natureza, no estímulo da autonomia da criança e no aprendizado por meio de experiências.
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