O papel do pai nos cuidados com o filho

Pais que dividem as tarefas e acompanham de perto a educação dos filhos criam laços afetivos mais fortes na família. Saiba mais!

Por Cristiane Marangon (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 23h29 - Publicado em 31 Maio 2015, 17h14
monkeybusinessimages/Thinkstock/Getty Images
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A rotina começa bem cedo. Na verdade, ela se emenda com as tarefas do dia anterior. Nem são cinco horas da manhã e o bebê já mamou. Agora, ele dorme uma soneca que deve durar até por volta de 8h30. A vontade de voltar para a cama é enorme, mas não posso. O dever me chama! Aproveito esse tempo para fazer todas as coisas que não dizem respeito diretamente ao pequeno. Pagar contas na internet, relacionar as compras de mercado, tomar café da manhã (é tão básico, mas, às vezes, não dá tempo) e trabalhar (muito!)… Na agenda, não sobra um espacinho livre.
 
Na hora de conceber o bebê, todo mundo sabe, é preciso um homem e uma mulher. Trata-se de uma questão biológica. No entanto, depois que ele nasce, entra em cena só a mãe (ou quem ocupa esse lugar). “Na linha evolutiva, ela tem preparo filogenético para a maternidade, o que envolve o zelo, o cuidado, o amor, a alimentação e a higienização”, explica a psicóloga Juliana de Brito Lima, de Teresina (PI), e também colunista do blog do Instituto de Psicologia Aplicada (InPA), de Brasília (DF).
 
O fato é que a mulher contemporânea faz muito mais do que só cuidar do bebê. Eu, por exemplo, ainda tenho de me dividir entre os carinhos e os cuidados destinados à filha mais velha, que tem 6 anos, além de ser esposa e dona de casa. Com quem dividir essa sobrecarga? “O papel do pai é tão importante quanto o da mãe para promover acolhimento, crescimento e desenvolvimento adequados para a criança. Isso fortalece os vínculos familiares”, afirma a pediatra neonatologista Vera Fidelman Ramalho Valverde, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo. “Com exceção da amamentação, que é realmente exclusiva da mãe, o pai pode contribuir muito ao dar apoio à mulher, além de ajudar em outros afazeres.”
 
Embora ainda em um ritmo não satisfatório, Vera destaca um avanço. “Tenho percebido cada vez mais o pai presente nas consultas ao pediatra, demonstrando o seu interesse em participar ativamente no acompanhamento do seu filho, algo que, há alguns anos, era muito raro”, constata. Ainda que o homem não possa estar presente na consulta, o que se espera é que ele se interesse pelo desenvolvimento do pequeno. Lembrar-se de administrar a vitamina ou o medicamento receitado e das datas de vacinação ajuda bastante.
 
Em casa
Desde sempre, meu marido se envolve com a rotina caseira. Logo que acorda, ele lava toda a louça do jantar do dia anterior, mas logo tem de sair para o trabalho. Quando volta para casa, ele se encarrega do jantar, do banho dos filhos e de outras coisinhas que vou pedindo para ele, como segurar o bebê, trocar a fralda, pegar um brinquedo para a nossa filha. “Dar afeto, garantir segurança, alimentar, higienizar, brincar e educar são os cuidados que podem ser assumidos pelo homem”, orienta Vera. “Com o crescimento da criança, o pai poderá continuar contribuindo em várias situações.”
 
Muitas mulheres, no entanto, não contam com a mesma sorte. Há companheiros que não se implicam no processo. “O modo como o parceiro foi criado sinaliza qual a visão que ele tem de mãe”, explica Juliana. “Se há a concepção de que a mulher deve concentrar todos os cuidados da criança, provavelmente, ele só fará tarefas se solicitado.” Então, um aviso para quem é dessa turma: “Quanto mais o pai se faz presente no cotidiano do filho, melhor se desenvolvem os laços afetivos e o apego da criança com ele”, constata a psicóloga. Por outro lado, vale também a observação de que nem sempre o homem consegue espaço, pois, muitas vezes, mãe e avó materna se alternam entre os cuidados com as crianças, deixando-o sem função específica.
 
Quando o homem fica por perto, acompanhando as tarefas, pode aprender por observação. Se a mulher passa as instruções de como trocar a fralda, por exemplo, passo a passo, a aprendizagem se torna ainda mais efetiva. Caso ele tenha dificuldades na execução, é importante que sua parceira não aja com intolerância, agressividade ou ironia. “É necessário ter paciência, incentivar a fazer novamente, corrigindo a falha e reconhecer quando ele se engajar em algo, agindo de modo carinhoso, como agradecer com um beijo. Indiretas do tipo ‘ninguém me ajuda mesmo’, expressões faciais que indiquem raiva ou chateação, ou qualquer outro sinal não verbal que revele a sobrecarga costumam desgastar a relação”, analisa Juliana.
 
Não vou negar que já perdi a paciência algumas vezes. No auge do cansaço, quando o sono não está em dia, a casa está uma bagunça e ainda tem uma pilha de roupinhas do bebê para passar, já parti para a ofensiva. Para mim é tão óbvio o que deve ser feito… Mas não posso desconsiderar que a rotina é muito familiar a mim. Eu gostaria sim de mais proatividade, mas, assim como no mundo profissional um bom gestor diz claramente o que espera de sua equipe para que todos alcancem o sucesso, meu papel é ser clara nessa comunicação para, só assim, cobrar resultados.
 
Na escola
Não bastasse a rotina em casa, à mulher também cabe a tarefa de acompanhar o percurso educacional dos filhos. “É possível perceber não só na fala, mas na expressão reveladora das mães que, muitas delas, devido o acúmulo de tarefas, estão cansadas e solitárias nesse processo”, pontua Bete Godoy, do Instituto Para Além do Cuidar e coordenadora pedagógica da rede municipal de ensino de São Paulo. “Quando a instituição escolar acolhe, respeita e estabelece uma parceria compartilhada, ela se sente mais segura nessa caminhada.”
 
No entanto, é mais democrático dividir entre os adultos os direitos e os deveres também no que diz respeito à educação escolar dos filhos e os demais afazeres que uma criança necessita para o seu desenvolvimento. Em casa, eu e meu marido acompanhamos, participamos e decidimos em conjunto sobre o rumo da educação escolar de nossa filha. Além de marcarmos presença em todos os eventos da escola (festas, feira do livro, reuniões e palestras), nos alternamos nas tarefas de levar, de buscar, de preparar o lanche, de ajudar nas lições de casa, de arrumar a mochila, de deixar o uniforme em ordem etc. “Quando isso acontece desde cedo, os laços afetivos, morais e sociais são mais intensos e saudáveis”, ressalta a pedagoga.
 
Os pais que participam das reuniões, colegiados, eventos realizados na escola e também do acompanhamento mais próximo, seja nas tarefas que a criança realiza, seja conversando com os professores sobre o que elas sabem ou têm dificuldade contribuem muito para uma parceria entre escola e família e para o desenvolvimento infantil.
 
Quando o pequeno sabe que pode contar com o cuidado e a atenção dos pais, cada um à sua maneira, ele se sente amado, seguro na constituição de sua identidade e no desenvolvimento da autonomia moral e intelectual. A alegria que as crianças demonstram quando a família prestigia suas produções, quer saber como foi que realizaram ou mesmo quando são capazes de reconhecer sua marca é um enorme convite para novas experiências e aprendizagens.

 

Fontes: 

Bete Godoy, do Instituto Para Além do Cuidar e coordenadora pedagógica da rede municipal de ensino de São Paulo; Vera Fidelman Ramalho Valverde, pediatra neonatologista, do Hospital e Maternidade Santa Joana, em São Paulo; Instituto de Psicologia Aplicada (InPA).

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