Momo causa polêmica na internet; entenda tudo sobre a lenda urbana

Para especialistas, divulgar as imagens não é a melhor maneira de proteger os filhos da personagem que incentivaria o suicídio e outros atos violentos.  

Por Chloé Pinheiro
19 mar 2019, 18h46
 (dolgachov/Envato)
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De olhos arregalados e feições estranhas, a boneca Momo está tirando o sono dos pais nos últimos dias. Corre entre as redes sociais deles a notícia de que a personagem apareceria de repente entre vídeos inocentes do Youtube Kids, incentivando as crianças a cometerem delitos, agredir os pais e até tirar a própria vida.

A notícia ganhou força depois de um relato de uma mãe, publicado no final de semana na imprensa e viralizado em massa nas redes sociais. Ao receber o alerta sobre a Momo em um grupo de Whatsapp, uma mãe mostrou a foto da boneca para a filha, que chorou e afirmou já ter visto a imagem e ter medo dela.

O Youtube declarou em nota que não encontrou nenhum vídeo do tipo em seu aplicativo dedicado ao público infantil até agora.

 Outras mães, inclusive nos comentários da matéria feita pelo Bebê.com.br no último dia 18, dizem ter ouvido de seus filhos relatos de ter visto o video ameaçador. Para este grupo de pais, as aparições já foram deletadas pelo site.

 

 

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(Reprodução/Instagram)
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(Reprodução/Facebook)
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(Reprodução/Facebook)
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É real ou não?

Para os especialistas, é difícil dizer se os vídeos de fato apareceram na plataforma. “Não temos confirmação, e provavelmente nem teremos pois trata-se de um volume enorme de vídeos em um ambiente livre, onde qualquer usuário pode publicar conteúdo”, aponta Kelli Angelini, gerente da assessoria jurídica do NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR), organização do Comitê Gestor da Internet do Brasil.

Na nota enviada pelo Youtube ao Bebê.com.br, a empresa afirma que não recebeu evidências recentes de vídeos mostrando o “Desafio Momo” e que “conteúdo desse tipo violaria as políticas e seria removido imediatamente”. A ONG Safernet Brasil, referência em segurança digital, afirmou em nota oficial no dia 18 que, até o momento, os vídeos que continham a personagem só apareceram no Whatsapp.

A Safernet chama a atenção ainda para a checagem feita pela agência de notícias Snope, que aponta para uma campanha de desinformação sobre a Momo e contesta informações dadas pela imprensa norte-americana, onde o burburinho também correu (confira o texto da ONG na íntegra). 

Também no dia 18, o youtuber Felipe Neto, popular entre o público infantil, publicou um vídeo sobre o caso. Na postagem, ele afirma que a primeira onda de boatos sobre a Momo — que em agosto de 2018 foi acusada de entrar em contato com crianças pelo Whatsapp fazendo as mesmas proposições bizarras — foi desmentida. Para Neto, a nova aparição é uma “grande mentira coletiva criada com o objetivo de gerar pânico”.

As mães argumentam que Felipe está tentando evitar a queda de audiência do Youtube, o seu principal canal de comunicação com o público.

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Caso de polícia

O Ministério Público da Bahia, por meio de seu Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos (Nucciber), instaurou um inquérito para apurar a presença dos vídeos em plataformas infantis no dia 16 de março. O órgão enviou notificações ao Google e Whatsapp solicitando a remoção de conteúdos relacionados à personagem.

No último dia 18, o coordenador do Nucciber, Moacir Nascimento, afirmou em entrevista à rádio do MP-BA que desde o ano passado há denúncias de aparições da Momo e de assédio de crianças via Whatsapp com a foto do personagem. E que, até agora, não há registros de incidentes com o vídeo no estado. A denúncia da mãe, veiculada na imprensa nacional e viralizada no último final de semana, foi a principal motivação para a abertura do inquérito.

As empresas envolvidas deveriam se manifestar até o dia 18. O próximo passo é a colheita de dados e provas e elementos que permitam a adoção de providências. Por meio da assessoria de imprensa, o órgão declarou ao Bebê.com.br que não dará mais entrevistas sobre o tema para não atrapalhar as investigações.

Histórico

Entre agosto e setembro, o “Desafio Momo”, enviado pelo aplicativo de mensagens, ganhou popularidade mundial e alguns casos de automutilação e até morte foram ligados a ele, todos não confirmados. A CNN, dos Estados Unidos, chegou a publicar uma matéria pedindo aos pais que não ficassem apavorados, pois provavelmente o caso se tratava apenas de uma anedota virtual de péssimo gosto.

A origem da lenda urbana do Desafio Momo é misteriosa, provavelmente fruto dos fóruns de sites clássicos da internet, de onde saem a maior parte dos memes e lendas urbanas, como o reddit. A boneca, contudo é inocente: foi criada em 2016 pelo um artista japonês Keisuke Aiso, da empresa de efeitos visuais Link Factory.

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Publicidade negativa, mas ainda publicidade

Enquanto a aparição da Momo em vídeos infantis não pode ser confirmada, a recomendação dos especialistas é tomar cuidado na divulgação de conteúdos sobre ela, mesmo que com a intenção de alertar outros pais. “A publicidade, ainda que negativa, pode dar mais visualização e dimensão ao caso do que ele deveria ganhar”, comenta Kelli.

“Se o pai recebe o material, é natural que fique em pânico, mas ao mostrar para o filho pode expô-lo a uma situação negativa que muitas vezes nem chegaria ao conhecimento da criança”, aponta a jurista. Isso não quer dizer que os pais não devam tomar atitudes preventivas ou tocar no assunto com os filhos, mas sim que o diálogo deve ser feito com calma e sem alarmismo.

Ou seja, o ideal é não exibir imagens da Momo aos filhos. A orientação é explicar, sem mostrar, que há uma figura em circulação que não é real, que não pode fazer mal a ele e ensiná-lo a não compartilhar conteúdos do tipo, pois podem oferecer perigos reais. O mesmo vale para o encaminhamento e compartilhamento de mensagens entre os grupos de pais.

“Diante de um tema polêmico com esse, é necessário fazer uma reflexão antes de adotar medidas drásticas ou proibições que não necessariamente impedirão a criança de ver o personagem”, orienta Kelli. A Safernet orienta os pais a bloquearem números desconhecidos que enviarem mensagens sobre o assunto e pede que verifiquem a origem de informações recebidas em grupos. Outra dica é desconfiar sempre de correntes alarmistas.

Como proceder

Para prevenir incidentes, o melhor é agir antes que eles ocorram. Se os filhos forem pequenos, prefira que eles vejam conteúdos somente em plataformas fechadas, com filmes e desenhos, como as de streaming. Os aplicativos de controle parental, como softwares que bloqueiam termos maliciosos, sites e até o próprio Youtube Kids ajudam, mas não devem ser a única proteção dos pequenos.

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“Nada é 100% confiável e mesmo a restrição provavelmente não impedirá a criança de entrar em contato com conteúdos inapropriados, então o ideal é orientar os filhos para que reconheçam riscos e se sintam seguros para conversar com os pais sobre qualquer incidente”, encerra Kelli.

Há vários conteúdos que ensinam a proteger os filhos na internet — que é, afinal de contas, um lugar onde eles também correm perigo, como a rua. “É um ambiente de oportunidade e uma ferramenta incrível, mas a criança precisa ser ensinada a usá-la e ter senso crítico para evitar ameaças”, completa Kelli.

Veja mais sobre o assunto na cartilha de ferramentas de controle parental da ONG Safernet, na página sobre segurança infantil do Youtube e no site do NIC.br sobre o assunto, internetsegura.br.

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