Meu parto (nada) humanizado

Infelizmente, por diversos motivos, muitas mulheres não vivenciam o parto que planejaram. Confira o relato de uma mãe que não teve suas escolhas respeitadas nesse momento tão importante.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 09h21 - Publicado em 9 mar 2015, 08h00
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Verônica Bergamim Pataro, 32 anos, é advogada, mãe da Iasmin, de 2 anos e 5 meses, e idealizadora do blog Pipocas em Aquarela. Aqui, ela conta as complicações que enfrentou no parto da pequena e o sentimento desesperador que sentiu. Confira!

“Assim que eu descobri que estava grávida, fiz escolhas que considerava importantes para viver essa nova fase da minha vida. Desde o início comecei a me preparar para o parto que queria: o normal.  Sempre tive medo da cesariana devido aos riscos que a intervenção cirúrgica poderia trazer e, para mim, ela só seria feita se surgissem complicações. Eu sonhava em ter um parto humanizado e tranquilo, então, comecei a me informar, estudar e pesquisar para que tudo acontecesse como eu havia planejado. Eu me preparei fazendo exercícios para fortalecer a região pélvica – o que me ajudaria muito no parto normal –, cuidei da alimentação, tive o ganho de peso ideal na gravidez. Tudo corria bem.

Quando faltava um dia para completar as 40 semanas de gestação, marquei uma consulta médica, pois já estava sentindo algumas pequenas contrações. A obstetra me disse que não havia nenhuma dilatação do colo do útero e que eu deveria voltar para casa. No mesmo dia, à noite, comecei a sentir que as contrações estavam ficando cada vez mais fortes e com intervalos longos. A recomendação era que eu ligasse para a médica quando as contrações estivessem com um intervalo de 10 minutos entre uma e outra. Às 20h30 tentei o primeiro contato com minha médica, mas não obtive sucesso. Fiz cerca de 30 ligações, mas nenhuma delas foi atendida.

As contrações estavam fortes, por isso, decidimos ir para o hospital por conta própria. Dei entrada às 21h40 com 7 centímetros de dilatação. Detalhe: eu e meu marido ainda estávamos ligando desesperadamente para a médica, que não atendia o celular. Passei a madrugada toda com contrações. Apesar de estar acompanhada por minha mãe e meu marido – que tentavam me acalmar – eu me sentia sozinha, desamparada e muito assustada. Eu tinha feito todo o pré-natal com a obstetra e esperava que ela estivesse ao meu lado naquele momento. Além disso, o médico plantonista do hospital era extremamente bruto e demonstrava que estava ansioso para que o seu plantão acabasse logo. Ele aplicou um remédio na minha veia – sem nem me consultar ou conversar comigo sobre – e me levaram para a sala de parto com a dilatação máxima de 10 centímetros.

Apenas uma pessoa poderia me acompanhar e decidimos que seria a minha mãe. De repente as contrações pararam e eu não sentia mais nada porque o remédio havia tirado a dor. Com isso, eu não conseguia identificar qual era o momento em que deveria fazer força. O médico também não me instruía e estava me pressionando para que o parto acontecesse o mais rápido possível. Como não recebi as orientações corretas, eu fazia força quando deduzia que estava em uma contração – ao sentir a barriga endurecer. Tudo foi muito rápido e o parto aconteceu em menos de 30 minutos. Pouco tempo depois da minha filha nascer, minha mãe passou mal e foi expulsa da sala. Mais uma vez eu me senti desamparada. Eu queria ver a minha filha, saber como ela estava, então, me contorcia toda para enxergá-la enquanto ela estava sendo examinada pelo pediatra. Antes de levarem a pequena para o berçário, consegui ficar com ela por alguns minutos preciosos.

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Tudo parecia bem até que eu senti o meu útero se contrair todo e percebi que havia uma bolinha na parte inferior da minha barriga. Fiquei morrendo de medo, só estavam duas enfermeiras comigo e quando olhei para o lado vi minha mãe, que havia entrado sem permissão na área dos partos. Tentei acenar para ela que sentia algo errado e vi sua expressão preocupada. Senti uma dor muito forte e comecei a ter uma hemorragia. Eu percebi que descia muito sangue e imediatamente uma das enfermeiras foi correndo chamar o médico que estava indo embora. Quando ele chegou, eu já havia perdido muito sangue e me sentia extremamente fraca. Percebi que os monitores estavam em alerta, as setas vermelhas que indicavam pressão arterial e batimentos cardíacos apontavam para baixo – o aparelho piscava e ecoava um som alto, indicando que as coisas não estavam nada bem.

Eu não confiava no médico que estava me atendendo, mas tenho muita fé em Deus. Então, fechei os meus olhos enquanto ele fazia os procedimentos necessários e comecei a rezar. Pedi uma nova chance de vida, afinal, o que eu mais queria era poder cuidar da minha filha e vê-la crescer bem. Eu não conseguia parar de pensar na minha pequena dando os primeiros passos, falando mamãe, sorrindo para mim, indo para a escola e no quanto havia sonhado que aquele momento fosse o mais mágico e bonito da minha vida. Ao abrir os olhos percebi que tinha chorado muito. O médico me disse que eu ficaria bem e, por incrível que pareça, ele estava certo: tive alta no dia seguinte e a minha recuperação foi ótima. A hemorragia – pouco comum em partos normais – foi causada pela força excessiva que fiz devido à falta de instrução médica. Além disso, o remédio atrapalhou todo o processo natural do parto, tirou a minha sensibilidade para perceber as contrações e fez com que a minha pressão arterial caísse muito. Infelizmente, fui parar nas mãos de um médico que não respeitou minhas escolhas. A minha obstetra, por sua vez, disse que não atendeu os telefonemas porque os seus filhos estavam jogando videogame no seu celular.

Esse foi o parto que eu tive. Não podemos controlar tudo e nem sempre as coisas acontecem como planejamos, mas acredito que a minha fé só cresceu depois desse episódio. Penso que talvez eu precisasse ter passado por tudo isso para que pudesse entender certas coisas e me tornasse a mãe que eu sou hoje. Depois do que passei, vejo a vida com mais clareza e beleza, até porque fui presenteada com uma menininha incrivelmente carinhosa, inteligente e cheia de amor. Sou uma mulher realizada, pois a maternidade sempre foi o sonho da minha vida! Por fim, eu gostaria que as grávidas que lessem a minha história não se sentissem desmotivadas. Continuem fazendo planos, sonhem, mas entendam que não temos o controle de tudo. Nessas horas, acredito que a família, o parceiro e a fé são as coisas que mais nos ajudam! Eu não tive o parto que sonhei, mas ainda sim consigo enxergar que ele foi milagroso e renovador”.

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