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Mãe faz relato sobre racismo: “É muito triste ver sua filha ser rejeitada”

"O racismo é aprendido pelas estruturas e reproduzido pelos pequenos de forma assustadora", afirmou Ana Paula.

Por Luísa Massa
23 Maio 2018, 19h40

Há aproximadamente uma semana, Ana Paula Xongani publicou um desabafo sincero nas suas redes sociais. Ela falou sobre as condutas racistas que as crianças reproduzem ao relatar um episódio que aconteceu com a sua filha Ayoluwa, de 4 anos. A empresária disse que levou a pequena ao parquinho e observou quando três meninas que estavam brincando simplesmente se afastaram dela.

“Ser mãe de uma menina preta me trouxe muitos medos, muitos desafios e muita força. É muito triste ver a sua filha sendo rejeitada! Mesmo antes de dizer ‘olá!’, ela chega perto e todas correm, ela se aproxima, e todas as outras se agrupam, ela chama e ninguém responde. Isolam-a, excluem-a, a machucam. Ela não entende, mas sente. Não reclama, mas entristece“, afirmou na publicação.

É claro que a cena, que foi registrada por Ana Paula, partiu o seu coração. Diante disso, ela resolveu chamar a garotinha para uma conversa. Depois de abraçá-la, a mãe fez questão de forçar o quanto ela é bonita, inteligente e amada. A empresária também confessou que ficou apreensiva ao pensar nos momentos em que, infelizmente, a filha passará por isso sem a sua presença.

“A gente sempre fala da solidão da mulher negra, muitas vezes relacionada com a afetividade adulta. Mas essa solidão começa muito cedo, começa na infância. O racismo é aprendido pelas estruturas e reproduzido pelos pequenos de forma assustadora. Tivemos avanços, mas as nossas meninas negras ainda são preteridas, rejeitadas, isoladas”, ressaltou no texto.

Ela também reproduziu o diálogo que teve com a pequena. Ao questionar se as amigas não gostavam de brincar, logo ela respondeu que é sempre assim, mas que não se importa porque gosta se divertir sozinha. “Será que gosta? Ou aos 4 anos já se protege na solidão? E para você que acredita que é ‘coisa de criança’, certamente você não é uma mulher negra”, comentou Ana Paula.

Leia o relato na íntegra:

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Em lágrimas escrevo: Tem muita coisa linda na maternidade, mas tem muitas dores também. Ser mãe de uma menina preta me trouxe muitos medos, muitos desafios e muita força. É muito triste ver a sua filha sendo rejeitada! Mesmo antes de dizer “Olá!” ela chega perto e todas correm, ela se aproxima, e todas as outras se agrupam, ela chama e ninguem responde. Isolam-a, excluem-a, a machucam. Ela não entende, mas sente. Não reclama, mas entristece. Meu coração parte! Dessa vez eu tava aqui espiando, chorando e pensando em formas de acolher a minha filha. Dessa vez eu chamei ela pro meu colo, abracei, disse que ela era linda e inteligente, falei que a amava. Mas e quando eu não estiver? A gente sempre fala da solidão da mulher negra, muitas vezes relacionada a afetividade adulta. Mas essa solidão começa muito cedo, começa na infância. O racismo é aprendido pelas estruturas e reproduzido pelos pequenos de forma assustadora. Tivemos avanços, mas as nossas meninas negras ainda são preteridas, rejeitadas, isoladas. A minha filha eu perguntei: – Suas amigas não querem brincar? E ela me respondeu: – É sempre assim mãe, mas eu não me importo, gosto de brincar sozinha. Será que gosta? ou aos 4 anos já se protege na solidão? E pra você que acredita que é “coisa de criança” certamente você nao é uma mulher negra. Nós mulheres negras vivemos esses mesmo traumas na infância, foi ruim mas com o passar do tempo a gente esqueceu, superou ou refletiu em outros momentos da vida. Mas ser mãe te faz reviver alguns deles, e dessa vez de forma mais intensa e muito mais dolorosa. Doe muito! . . *Fiz um vídeo no canal Ana Paula Xongani sobre o assunto chama “Tenho Pressa” e o link ta na bio!*

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Dias após publicar o relato, Ana Paula também fez um vídeo para falar sobre a solidão da mulher negra e o racismo. “As crianças aprendem com as estruturas muito cedo a reproduzirem o racismo. As crianças aprendem de uma forma assustadora a serem racistas. Eu, nesse momento, acabo de viver essa situação e liguei a câmera para dizer que eu preciso de ajuda para continuar lutando porque é muito difícil”, afirmou.

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Assista:

 

 

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