Flávia Calina: “A dificuldade de engravidar só me mostrou o quanto eu era forte”

Sucesso no YouTube, ela enfrentou muitas frustrações a cada tentativa para se tornar mãe, mas aprendeu a valorizar as pequenas coisas da vida.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 28 out 2016, 06h17 - Publicado em 15 mar 2016, 13h44
André Luiz Fotografia
André Luiz Fotografia (/)
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Aos 33 anos, Flavia Calina é uma youtuber de sucesso que conta com mais de 1 milhão de pessoas inscritas em seu canal, no qual fala sobre maternidade, família, comportamento infantil… O vídeo de maior sucesso e porta de entrada de muitos aos registros da família Calina – o parto de sua pequena Victoria, hoje com dois anos – é emocionante e retrata a realização de um sonho: ser mãe. Mas Flavinha, como é carinhosamente chamada por suas espectadoras, passou por um longo período de tentativas e precisou recorrer à reprodução assistida para ter sua filha nos braços e, finalmente, sentir-se completa. Aqui, ela revela como foi todo esse processo:

“Quando eu era criança, sempre ouvia meus amigos e meus primos contando o que queriam ser quando se tornassem adultos: dentistas, professores, médicos… Eu nunca soube o que queria ser profissionalmente, mas já sabia que queria ser mãe. Para mim, isso era uma coisa tão certa como 2+2=4 e queria ser mãe nova, por volta dos 22 ou 24 anos, e todos diziam que eu era louca.

Eu me casei aos 22 anos e pensei que estava no caminho certo, pois tudo estava seguindo como o “planejado” – só precisava convencer meu marido de que deveríamos ter filhos logo. Ele não abraçou a ideia logo de cara, mas concordou em começar a tentar um ano depois de casados. Como tomei pílula por alguns anos, sabia que poderia levar um tempo para engravidar, então não me preocupei logo nos primeiros meses, mas, depois de um ano tentando, resolvi pedir alguns exames. Como eu ainda era nova, os médicos sempre diziam para eu ficar despreocupada que uma hora iria acontecer, mas depois de mais 6 meses resolveram fazer testes de ultrassom e checaram as minhas trompas. Da minha parte estava tudo ok, então meu marido fez um exame e o resultado veio alterado: os espermatozoides estavam no número limite e a morfologia deles estava comprometida.

Foi então que nos sugeriram fazer uma inseminação artificial. No segundo ano de tentativa, fiz uma no próprio consultório médico e tomei um remédio muito conhecido no mundo das tentantes. Era um tratamento via oral, tranquilo e nada invasivo. Mas o resultado foi negativo e fiquei arrasada. Ainda tentamos mais uma vez no mês seguinte e não tivemos sucesso. Como minha médica disse que não valeria a pena tentar mais uma vez, pois esse método não se mostrou eficaz, tivemos que começar a pensar em outras alternativas. Dois anos depois, meu convênio mudou e passou a cobrir uma inseminação artificial com medicações injetáveis (que era mais agressiva) e, como não tínhamos verba para fazer uma fertilização in-vitro, que seria uma alternativa mais promissora, tentamos a IA dessa forma. Mais uma vez, o resultado foi negativo e, a decepção, muito, muito grande.

Meu marido não é muito religioso, mas eu sou e queria entender por que estávamos passando por toda aquela prova. Será que Deus não queria que eu fosse mãe? Será que não era a hora? De novo, dois anos depois da última tentativa com ajuda médica, minha mãe me ligou e disse que queria me dar a fertilização in-vitro. Nós ficamos muito emocionados e fomos para o Brasil, onde começamos o processo em fevereiro de 2013 e levamos um mês do começo ao fim do tratamento. Quando fiz o teste de gravidez deu POSITIVO! Foi uma emoção tão grande que não cabia dentro da gente. A gente gritava, chorava, agradecia… Foi uma loucura. Depois de 7 anos tentando, a chance de ter meu bebê nos braços estava mais próxima.

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Como tivemos que fazer todo o processo de engravidar artificialmente, meu sonho era ter um parto normal. Queria sentir todas as dores, tudo aquilo que uma mulher com um corpo saudável poderia sentir. Por isso, passei grande parte da minha gravidez pesquisando sobre qual seria a melhor forma de me preparar. Li livros, artigos, relatos, assisti a todos os tipos de programas, vídeos no YouTube, enfim, tudo o que estava ao meu alcance. Nunca tive medo da dor, pois sempre pensei que era algo natural. Deus fez nosso corpo perfeito e por quantos anos as mulheres tiveram partos em casa antes de existirem as intervenções médicas? Também nunca fui contra a nenhuma delas, pelo contrário, acabei tomando anestesia durante o parto e sinto que foi a melhor decisão que poderia ter tomado para mim e para minha filha, pois tive um parto tranquilo e estive muito focada.

Durante a gestação, resolvi fazer um diário de gravidez no YouTube para compartilhar minhas experiências, emoções, comprinhas de enxoval… Nunca soube exatamente se iria compartilhar o parto ou muito menos a vida da minha filha, mas tudo foi acontecendo tão naturalmente. As pessoas que interagem nos vídeos são como uma grande família que me acompanha e que torce por mim, então senti que deveria pelo menos gravar todos os passos para depois decidir o que iria para o ar. No fim, coloquei quase todo o processo do trabalho de parto e o parto em si no YouTube e hoje penso que foi a melhor decisão, pois é um vídeo que toca muita gente e que dá muita esperança devido a nossa trajetória.

Sei que muitas pessoas se inspiram nele para terem um parto normal, mas percebo que muitos profissionais ainda resistem à ideia e acabam convencendo suas pacientes de que a cesárea é a melhor opção. Eu espero de coração que um dia essa seja uma decisão única da paciente e não de pressões médicas ou de hospitais (salvo, claro, casos de emergência e de segurança da mãe e do bebê). Se alguém me pergunta o que eu recomendo, sempre digo para tentar fazer o parto normal, mas é claro que nunca fiz uma cesárea, então não posso opinar sobre o assunto, mas acredito que a recuperação do parto normal seja mais tranquila.

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É interessante olhar para trás, ver toda nossa história e aprender com todo esse caminho de lágrimas, dor, espera e alegria. Aprendi muuuito ao longo desse tempo. Aprendi que existem coisas na vida das quais não temos controle e aprendi a ser grata pelas coisas que eu tinha. No meio da minha dor, descobri o diário de gratidão e comecei a reparar nas pequenas coisas que estavam à minha volta e a perceber o quanto minha vida era boa – eu só não tinha ainda o meu maior sonho. Mas tive que aprender a ser feliz com a minha situação, independentemente de ela ser a ideal ou não. Então, a dificuldade de engravidar só me mostrou o quanto eu era forte e o quanto eu poderia conquistar meus objetivos de vida, aos quais eu nem dava atenção. Foi uma jornada incrível e não trocaria ela por nada neste mundo.

Compartilhar toda essa história no YouTube também fez com que eu me tornasse uma pessoa melhor, pois podia avaliar minhas ideias, meus valores e todas as escolhas para minha vida assistindo aos meus vídeos e interagindo com as pessoas. Muitos concordam com o meu jeito de ser e de viver a vida, mas outros desafiam meus ideais e isso também é muito bom, pois me tira da minha zona de conforto. Sinto uma responsabilidade muito grande quando ligo uma câmera e começo a falar, mas é uma responsabilidade gostosa, pois sinto que estou prestando um serviço ou adicionando valor a quem está disposto a trocar experiências.

Meu sonho é de aumentar a minha família e, apesar de isso trazer um enorme desafio de adaptação aqui em casa, não vejo a hora que aconteça. Para engravidar, terei que recorrer à ajuda médica de novo, mas farei isso quantas vezes for necessário e até quando meu corpo aguentar, pois as recompensas são infinitas e não vejo a hora de compartilhar todo esse processo com as pessoas”.  

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Ainda não viu o vídeo do parto de Flavia? Assista:

 

 

 

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