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“Eu só me sentirei completa quando for mãe”

Mulher relata os desafios que enfrenta para realizar o desejo de ter um filho nos braços.

Por Luísa Massa
Atualizado em 28 out 2016, 20h42 - Publicado em 5 mar 2016, 07h00
Valio84sl/Thinkstock/Getty Images
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Flávia Desidério Gomes, 25 anos, é feirante, sofreu três abortos espontâneos, foi diagnosticada com trombofilia, mas não desistiu do seu maior sonho: a maternidade!

“Eu e meu marido estamos juntos desde 2005. No início de 2014, começamos a viver em união estável e em abril decidimos que eu pararia de tomar o anticoncepcional para termos um filho. Começamos as tentativas em maio e no início de setembro recebemos o tão esperado positivo! Porém, sofri um aborto espontâneo no mês seguinte. Consultei com o médico e, depois de um tempo, fomos liberados para tentarmos novamente. Em janeiro de 2015, recebemos o segundo positivo! Nós estávamos muito felizes com a notícia, mas também receosos. O dia do ultrassom chegou e meu bebê estava lá – um ‘pontinho’ lindo com coração forte! Tudo corria bem e enchemos o nosso coração de esperança. Só que no segundo exame, quando eu estava com 10 semanas, meu pequeno não apresentava batimentos cardíacos. Infelizmente, tive que fazer uma curetagem para retirar o nosso filho.

Decidimos procurar um especialista e fizemos vários exames, que mostraram que estava tudo certo comigo e com o meu esposo. Depois do prazo estipulado pelo médico, voltamos a tentar confiantes de que Deus iria nos conceder a benção de ter uma criança. Em agosto de 2015, recebemos o terceiro positivo! No ultrassom, o bebê estava bem e nós comemorávamos cada dia da gravidez, mas confesso que o medo me acompanhava. No final de setembro, fui informada novamente sobre a morte do meu filho. Tive que fazer mais uma curetagem e uma tristeza enorme invadiu a minha vida.

Resolvemos marcar uma consulta com um geneticista, pois não achávamos normal um casal saudável perder três bebês. Depois de muitos exames, ele descobriu que eu sou portadora de trombofilia – uma alteração na coagulação sanguínea, que resulta em maior chance de ter trombose. Comecei a usar o anticoagulante subcutâneo diariamente. O remédio faz com que as veias do cordão umbilical não se ‘entupam’ e, no meu caso, as injeções devem ser usadas durante toda a gestação e até 40 dias após o parto, mas eu não ligo porque para ter o meu filho nos braços eu tomo quantas picadas forem necessárias! Agora, fomos liberados e estamos indo para a quarta tentativa.

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Quando um casal decide ter filhos, planeja tudo com muito amor e nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar que passaria por isso. São quase dois anos de lutas e três anjinhos no céu, mas não há como desistir do meu maior sonho. De alguma forma, eu já me sinto mãe e o meu marido me presenteia em maio no Dia das Mães, pois nós somos pais de anjos. Perder um filho é assim: tudo está lindo, você se sente especial e nunca está sozinha, só que em um piscar de olhos ele não está mais lá. Não existe mais brilho e nem planejamentos. Não será necessário comprar o enxoval ou pintar o quarto para recebê-lo. Eu acredito que a cobrança interna é muito maior do que as pressões externas. Depois de tudo o que vivi, comecei a ficar ansiosa e o que mais quero é engravidar. Dizem que após muitas perdas há duas reações das mulheres: uma que diz que não quer mais tentar e a outra que quer gerar imediatamente. Eu me encaixo no segundo tipo.

Depois da primeira perda, eu fiquei muito mal, pois esse era um mundo novo para mim. A segunda também foi bem impactante porque eu já havia visto no ultrassom que a criança estava bem. Fiquei muito sensível com essas experiências e chorava por qualquer coisa, principalmente quando via um bebê, uma gestante, uma roupinha infantil na vitrine da loja. Hoje lido melhor com essas frustrações e tenho esperança porque a causa dos abortos já foi descoberta. Mesmo assim, ainda me emociono muito ao ver histórias parecidas com a minha. Eu tento não colocar todas as minhas expectativas em cima do meu filho, pois sei que ele não merece esse peso, mas eu tenho certeza absoluta de que me sentirei completa quando ele estiver comigo. Quando ouço uma mãe dizer que está cansada e que não consegue dormir de noite por causa do bebê, eu penso: ‘é exatamente isso que eu quero para a minha vida. Desejo ficar acordada vendo o meu filho, quero vê-lo crescer, dar carinho e ser sempre sua amiga!’.

Para encarar tudo isso, eu faço terapia. Também converso com algumas mães que compartilham suas histórias nas redes sociais, o que alivia bastante. Eu recebo muito apoio da minha família, mas o meu marido é a minha maior base. Ele é um companheiro excepcional, que esteve ao meu lado em todos os momentos me acalmando e dando forças. Todos esses desafios nos fortaleceram como casal e nos fizeram dar mais valor em coisas pequenas como estarmos juntos, em gestos que mostram carinho, companheirismo e amor. O meu filho ainda não está nos meus braços, mas ele já está no meu coração. Eu e o papai o amamos muito e seguimos a vida com a certeza de que a nossa hora vai chegar e o milagre virá lindo e saudável para nos alegrar ainda mais! Sei que nesse momento eu vou saber que tudo valeu a pena: cada lágrima derramada, oração, esforço”.

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