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Dia dos Pais em dobro: a vida de uma família com dois pais

Um spoiler: não tem nada de diferente, mas é cheia de fofura e muitos aprendizados! Veja o depoimento de um casal que adotou dois irmãos.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 12 ago 2017, 09h15 - Publicado em 12 ago 2017, 09h15

Se o Dia dos Pais é marcante para todos os papais, para Andre Nunes, produtor de TV de 42 anos, e Angelo Nunes, empresário de 41, a data tem um gosto ainda mais especial. Afinal de contas, na casa deles a comemoração é em dose dupla e a paternidade chegou depois de quase um ano de espera.

Em 2011, o casal de São Paulo adotou os irmãos Jonathan e Valentina, hoje com 8 e 6 anos de idade, respectivamente. Na entrevista a seguir, Andre relembra o processo de adoção, o cotidiano da família e as dores e delícias da paternidade. Confira!

Há quanto tempo vocês estão juntos?

Andre Nunes (A.N.): Eu e Angelo estamos juntos há 14 anos.

Quando veio a vontade de ter filhos? 

A.N.: Tanto eu quanto o Angelo gostamos muito de crianças e queríamos filhos, mas desde que nos conhecemos tínhamos consciência de que ter filhos é uma responsabilidade gigantesca, e nós não queríamos tomar nenhuma atitude movida por ilusões ou fantasias de que estaríamos juntos eternamente. Decidimos que primeiro teríamos uma base sólida em nosso relacionamento! Iríamos construir a nossa relação pautados não somente em nossas semelhanças e afinidades, mas principalmente em nossas diferenças e divergências, pois um relacionamento realmente sólido se dá quando as duas pessoas estão juntas não só por suas afinidades, mas também por causa de suas diferenças e apesar delas.

E assim foi! Quando estávamos para completamos 6 anos de relacionamento, e já morávamos juntos há esse tempo, decidimos que queríamos dar um passo a mais em nossa relação, que já identificávamos como sólida, e iniciamos o processo de cadastramento (de interessados em adoção no sistema judiciário). Isso aconteceu em outubro de 2009! De 2009 a 2011, nós iniciamos uma série de mudanças pessoais para poder receber nossos filhos: eu parei de fumar, nós nos mudamos do apartamento que vivíamos para uma casa, juntei dinheiro para poder ficar 6 meses sem trabalhar e assim me dedicar 100% à adaptação deles dentro de nossa família…Enfim, nosso processo de adoção começou muito antes de nos cadastrarmos.

Quando adotaram o Jonathan e a Valentina? Quantos anos eles tinham?

A.N.: Quando os conhecemos, o Jonathan tinha 1 ano e 11 meses e a Valentina tinha apenas 2 meses de vida! Quando a adoção foi efetivada, o Jonathan tinha 2 anos e 10 meses e a Valentina tinha acabado de completar 1 ano.

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Qual é a história deles?

A.N.: O Jonathan e a Valentina, como qualquer outra criança em situação de acolhimento, estavam em um abrigo. A Valentina era recém-nascida quando chegou ao abrigo. Eles são irmãos biológicos.

Como foi o processo de adoção? 

A.N.: Foi muito tranquilo. Fizemos o nosso cadastro na comarca da nossa região, o Fórum João Mendes, e como em qualquer processo de adoção, nos solicitaram diversos documentos, passamos pelas entrevistas com Assistente Social, Psicólogos etc. Tivemos também de participar das palestras que são realizadas como ultimo estágio para a aprovação do cadastro. Depois disso, ficamos na fila, porém o nosso processo foi um pouco diferente. Estávamos cadastrados em São Paulo e os nossos filhos estavam abrigados em Diadema. Levou cerca de 10, 12 meses desde que iniciamos o cadastro.

Deixa eu explicar melhor: eu e Angelo somos voluntários em algumas instituições de assistência e acolhimento. Uma delas é o abrigo onde os nossos filhos chegaram. Nós estávamos num dia de voluntariado quando vimos o Jonathan chegando ao abrigo. Foi amor à primeira vista… Nos apaixonamos, porém ainda não havíamos iniciado o processo de cadastro. Dois dias depois de conhecermos o Jonathan, soubemos que ele tinha uma irmã recém-nascida, ainda no hospital. Alguns empecilhos se tornaram nítidos pra gente: o maior deles foi o fato de que nós ainda não estávamos cadastrados para adoção e nem poderíamos fazer isso em Diadema, pois moramos em São Paulo. O segundo empecilho foi o fato de que eles ainda não estavam destituídos do pátrio poder (ou poder familiar, que são os direitos e deveres que os pais têm em relação aos filhos perante a Justiça).

Foi uma corrida contra o tempo e uma angústia enorme, pois sabíamos, do fundo de nossa alma, que os dois eram os nossos filhos. Mas eles estavam à disposição da justiça de Diadema, que por lei deve consultar primeiro o cadastro regional de adoção à procura de pretendentes de irmãos, para somente então abrir o cadastro em âmbito nacional. Podíamos perdê-los a qualquer momento, caso houvesse alguém em Diadema que estivesse em busca de adotar um casal de irmãos. Graças a Deus isso não ocorreu e nós fomos colocados como os primeiros na fila de adoção, para adotá-los. A partir daí, tanto o fórum de Diadema quanto o fórum da João Mendes passaram a atuar conjuntamente para a concretização da adoção. De uma maneira geral, nosso processo de adoção foi rápido e bem tranquilo.

Algum de vocês fica mais tempo em casa com as crianças?

A.N.: Não. Ambos trabalhamos fora, temos nosso próprio negócio e as crianças ficam em período integral na escola, meio período recreativo e meio período pedagógico. Mas quando estamos juntos em casa, estamos juntos mesmo, o tempo todo, grudados! Onde quer que eu vá, eu os levo comigo e o Angelo também.

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(Reprodução/Arquivo Pessoal)

Como vocês dividem os papéis na criação dos dois?

A.N.: Não há divisão de papéis em nossa família. Tanto eu quanto o Angelo assumimos o papel que for necessário e estamos sempre em sintonia um com o outro, temos uma sintonia muito fina neste sentido! Pensamos de maneira muito semelhante no que se refere a como deve ser a criação deles. Por exemplo:  a lição de casa é feita imediatamente após o jantar e eles podem assistir TV somente até 20h. Às 21h os dois já estão com a luz do quarto apagada, com música tocando em um volume agradável, para que possam aos poucos baixar a adrenalina do dia e adormecer calmamente.

Quando as crianças passaram a entender que viviam em uma família diferente? Houve algum momento, por exemplo, deles fazerem perguntas sobre não comemorar o Dia das Mães? 

A.N.: Desde o inicio sempre foi muito claro pra eles que a família deles era diferente. Sempre abordamos este assunto com muita naturalidade e pelo menos, até o momento, nunca houve um questionamento sobre o assunto!

Quais são os valores que vocês fazem questão de repassar aos seus filhos?

A.N.: Acima de qualquer coisa: o respeito! Não existe nenhum tipo de relação saudável sem que haja respeito, todo o resto vem como consequência disso. Eu costumo dizer para os meus amigos que, no alto dos meus 42 anos de idade, eu aprendi uma lição muito valiosa: você pode ser capaz de respeitar qualquer pessoa que você não ame ou sequer conheça, mas nunca será capaz de amar aqueles a quem você não respeita.

Ensinamos também sempre que ninguém é melhor do que ninguém, que somos todos diferentes e que isso deve ser respeitado. O Jonathan passou por uma fase que não queria praticar esportes na escola pois não conseguia chutar direito a bola… Nós o ensinamos que o mais importante não é vencer sempre ou saber como fazer algo com perfeição, ensinamos que o mais importante é participar e competir, sempre oferecendo o seu melhor, não importa o resultado! Enfim, nós somos bem rígidos com a criação e educação dos dois! Bem diferente do que a maioria das pessoas pode pensar, nós somos uma família normal, com rotinas, tarefas, responsabilidades, dias bons e dias ruins, como em qualquer outra família.

Quais foram as principais lições que a paternidade trouxe para vocês?

A.N.: Eu acho que a maior lição que a paternidade nos trouxe foi a percepção de que existe um amor muito maior do que o amor que sentimos por nós mesmos! Não que deixamos de nos cuidar e amar enquanto indivíduos, mas percebemos a grandeza que é o amor de um filho quando, no final do dia, cansados e estressados, recebemos um sorriso simples, livre de qualquer interesse, motivado apenas pelo sentimento mais puro que é o amor.

O que vocês gostam de fazer com os pequenos durante o fim de semana?

A.N.: Sempre procuramos fazer algo com eles. Não temos locais prediletos, qualquer lugar é lugar! Tem dias que eu saio de casa com Jonathan e Valentina e volto só no final do dia. Vamos visitar tios, primos, vamos ao shopping, almoçamos, às vezes rola um cineminha infantil com direito a pipoca e refrigerante… Aos domingos, normalmente almoçamos fora, passeamos na Paulista, tomamos um lanche na parte da tarde… Fazemos muita coisa juntos!

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Como as crianças enxergam o fato de terem dois pais? Já houve alguma conversa sobre o assunto? 

A.N.: Desde que eles chegaram, nós explicamos pra eles que temos uma família diferente da família convencional e que tudo bem ser assim! Nós sempre conversamos com eles, de forma super clara e bem lúdica, e explicamos que o mais importante para qualquer pessoa é ter alguém que a ame, que cuide dela, que a respeite e que a faça feliz. Não importa se você tem dois pais, duas mães, um pai, uma mãe, papai e mamãe, vovó, tio ou padrinho… O que importa é que você tem alguém e que toda criança precisa de um adulto para que seja assistida! Triste e errado é não ter alguém pra te abraçar quando você está com frio e te fazer cócegas pra você dar risadas. Até o momento, nunca sofremos qualquer tipo de preconceito seja em locais públicos, família ou escola. Mas estamos preparados para acolher nossos filhos caso aconteça e explicar que aquela pessoa apenas não consegue lidar com o diferente – e que aquele julgamento não nos define, nem define quem eles são. Somente o amor e o respeito definem!

 

 

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