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Como lidar com os ataques de birra

Haja paciência! Contornar manhas de maneira eficiente, ensinando a criança a reagir de uma forma mais madura ao “não”, pode ser um grande desafio. Entender a origem desse comportamento é o primeiro passo para revertê-lo.

Por Thiago Perin (colaborador)
Atualizado em 27 out 2016, 22h37 - Publicado em 29 Maio 2015, 14h12
Getty Images
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A cena é clássica: diante da recusa do adulto em fazer exatamente o que a criança quer naquele momento, ela abre o berreiro, grita, esperneia, se joga no chão. E quando o show acontece em público, no meio do shopping, do supermercado, ou na casa de algum amigo? É um verdadeiro teste à paciência de qualquer pai. Mas é preciso ter muita calma e compreender que essa reação, em geral, não é uma escolha da criança.
 
A primeira coisa que se deve saber é que não existe vacina contra a birra. Essa fase difícil, que normalmente acontece entre os 2 e os 6 anos (mas pode começar antes e ir até os 8!), faz parte do desenvolvimento natural e da formação da personalidade da criança. Sendo assim, não há fórmula para evitá-la. “A birra é uma reação emocional intensa diante de um sentimento de frustração com o qual a criança ainda não aprendeu a lidar”, explica Rita Calegari, psicóloga do Hospital São Camilo, em São Paulo.
 
Até os 3 anos de idade, o pequeno está na fase de aquisição da linguagem. Ou seja, ainda não dispõe de recursos para expressar o descontentamento de outra forma, a não ser chorando e fazendo um escândalo. Dos 3 aos 6 anos, ele já conta com um repertório maior e consegue se expressar, mas ainda não tem maturidade ou controle emocional para evitar as cenas desagradáveis. “Os pais precisam ter em mente que a birra é um pedido de socorro e não uma provocação. Muitas vezes, é até inconsciente”, diz Rita.
 
Se não há como evitá-la, cabe aos pais lidar com esse período da forma mais paciente e bem-humorada possível. É a atitude do adulto em relação ao que o filho faz que vai ensiná-lo a não agir daquela forma. “Testar limites faz parte do processo de crescimento, e isso inclui testar o limite dos pais”, diz Ana Merzel Kernkraut, psicóloga do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Portanto, nada de perder a linha.
 
O que fazer
Seu filho está no meio de um ataque de birra. Qual a melhor forma de reagir? Antes de mais nada, tente entendê-lo. Pense se não há mesmo algum motivo para o mau comportamento. Talvez ele esteja cansado, com calor ou com fome, por exemplo. Lembre-se de que certas situações, como um longo dia de compras ou um evento no qual precise ficar sentado por muito tempo podem ser difíceis para uma criança. Se redirecionar a atenção do pequeno não for possível, mantenha a calma e espere o surto passar. Tentar conversar nessa hora não vai adiantar – a criança estará muito nervosa para prestar atenção.
 
Passado o pior, converse. Lembre-se de que ela agiu com descontrole por não saber lidar com determinados sentimentos e que essa é a hora de ensiná-la. Explique por que aquele “não” foi “não” e que a reação que ela teve não é aceitável. “Vale salientar que ser muito carinhoso nesse momento também não é bom, porque a criança entende que está ganhando uma recompensa, ainda que essa seja apenas o colo da mãe”, lembra Rita Calegari.
 
E nunca, em hipótese alguma, abra exceções. “Falar ‘não’ é muito chato. Muitos pais pensam ‘ok, vou deixar só dessa vez’ para agradar o filho ou acabar logo com o show. Mas é preciso ser consistente”, diz Ana Merzel Kernkraut. “É importante ter uma postura bastante rígida nesses momentos. Se a criança começa a chorar e o adulto cede, ela vai aprender que, sempre que agir dessa forma, vai conseguir o que quer”, reforça Marcelo Reibscheid, pediatra do Hospital São Luiz, em São Paulo. Usar chantagem (“se você parar de chorar, compro um sorvete”) também não é uma boa opção – é outra forma de mostrar à criança que agir mal traz recompensas.
 
Castigo: bom ou mau?
No caso das crianças mais novas, até os 3 anos, é provável que elas não façam a conexão entre o mau comportamento e a punição que estão recebendo. Sem entender o porquê do castigo, ficam ainda mais frustradas e não aprendem nada no processo. Mesmo quando a criança já é mais crescidinha, botá-la de castigo não é a melhor opção. Lembre-se de que os ataques de birra são uma resposta emocional a uma situação com a qual a criança não tem maturidade para lidar.
 
Especialistas concordam, no entanto, que criar um “cantinho do pensamento” e propor que a criança passe alguns minutos sentadinha, pensando no que fez, é uma alternativa válida. “Pode ser no sofá, em uma cadeira ou almofada em algum espaço específico da casa. O tempo que a criança deve passar ali é de um minuto para cada ano de vida. Se ela tiver 3 anos, peça que fique pensando no que fez durante 3 minutos; se tiver 5 anos, serão 5 minutos, e assim por diante”, diz Marcelo Reibscheid.
 
Passou da idade
Com o tempo, a criança assimila que os pais estão dizendo “não” para o bem dela, e suas manifestações de frustração tendem a se tornar bem menos dramáticas. Mas, caso o seu filho ultrapasse os 6 anos tendo ataques de birra constantes, vale a pena dar uma olhada mais cuidadosa no que está acontecendo – isso pode ser sinal de algum problema específico. Ele pode estar sofrendo com algum acontecimento recente, como problemas na escola ou até mesmo a falta de diálogo em casa. Examinar o que pode estar causando essa reação e até procurar a ajuda de um especialista são medidas aconselháveis.

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