“Como foi descobrir que eu estava grávida durante o tratamento de câncer”
Conheça a história da mulher que recebeu a notícia de que seria mãe em um dos momentos mais complicados da sua vida.
Nayara Coutinho, 24 anos, é auxiliar administrativa e está grávida de 14 semanas. Aqui, ela conta como foi descobrir a gravidez durante o tratamento de câncer na tireoide.
“Sempre tive o sonho de ser mãe, mas eu esperava que isso acontecesse em um momento planejado e que eu tivesse uma gravidez saudável. Para minha surpresa, as coisas não saíram como eu havia idealizado. Casada desde março de 2009, eu e meu marido pensávamos em ter um filho, mas ainda não tínhamos definido nada ao certo.
Resolvi fazer um check-up no final de 2014, já que eu tinha um nódulo na tireoide desde 2010. O médico pediu que eu realizasse vários exames – entre eles, uma biópsia. Fiz tudo o que o médico tinha orientado e todos os resultados foram positivos. Mesmo assim, fui indicada para um cirurgião porque o nódulo era grande e já desviava a traqueia – eu deveria retirá-lo.
Fiz a cirurgia no dia 08 de junho de 2015. Tudo correu bem, a recuperação foi ótima e eu tive poucos incômodos, mas que eram esperados nesse processo cirúrgico. Eu tomava muitas medicações e sentia que elas me deixavam com um grande mal estar, enjoada e nauseada. Cerca de 20 dias depois, voltei para o retorno com o meu médico e descobri que o nódulo que eu tinha era maligno, ou seja, eu estava com câncer. Recebi a orientação para começar a fazer radioiodoterapia – tratamento indicado para o tipo de doença que eu tinha.
No momento em que ouvi as palavras do médico, fiquei arrasada. Apesar de saber que eu não tinha uma doença extremamente grave, a palavra câncer é muito assustadora e, momentaneamente, eu não conseguia enxergar uma saída para o problema. Eu estava sozinha na consulta e fui prestando atenção nas recomendações que recebia: em tudo o que deveria fazer a partir daquele momento. Aproveitei para comunicar ao médico sobre o mal estar que eu estava sentindo nos últimos dias. Ele suspendeu algumas medicações e antecipou os exames para iniciar a radio – entre eles, havia um pedido de Beta HCG, pois a gravidez deve estar totalmente afastada durante o tratamento.
Saí do consultório e fui imediatamente fazer os exames. Tudo o que eu mais queria era me curar e o quanto antes começasse o tratamento, melhor. Ao chegar em casa e olhar o resultado pela Internet, descobri que eu estava grávida! Fiquei enlouquecida, eu só conseguia chorar e duvidar daquilo. Desesperada, pedi para o meu marido comprar testes de farmácia para confirmar o que o exame de sangue dizia. Fiz todos eles e novamente recebi positivos. Passei três dias chorando, pois eu não conseguia enxergar aquela criança como uma benção naquela hora.
A única coisa que eu conseguia pensar era se os remédios e a cirurgia teriam afetado o bebê que eu estava carregando, de quantas semanas eu estava, o que poderia acontecer dali para frente, como iria me tratar… Enfim, várias dúvidas passavam pela minha cabeça e eu não sabia o que fazer. Informei o meu médico sobre o resultado do exame e ele me orientou a procurar um obstetra imediatamente, levar a gestação com calma e só depois fazer o tratamento oncológico, pois a radio não pode ser feita durante a gravidez.
Confesso para vocês que eu tive muita dificuldade em aceitar a gestação. Eu não queria ser mãe naquele momento, eu só desejava me curar, ficar saudável para ter um filho. Comecei a procurar obstetras e a primeira médica que eu fui disse que não cuidaria de mim, pois a gravidez era de alto risco. Isso me deixou ainda mais arrasada – eu tinha certeza de que nada estava bem! Eu sempre pude contar com o apoio do meu marido e da minha família, que foram amorosos e compreensíveis comigo. Eles tentavam me tranquilizar e mostrar que aquele bebê era uma benção que eu estava recebendo e que ele estava me livrando de todo o sofrimento que o câncer pode trazer.
Depois de muito procurar, encontrei uma médica que também me ajudou e disse que não era para eu me preocupar com nada que tivesse acontecido antes. Eu deveria esquecer e levar a vida dali para frente. Fiz a ecografia para saber de quantas semanas eu estava e fiquei encantada quando ouvi o coraçãozinho do meu filho bater! Não existe emoção maior do que essa!
Aos poucos, fui me acalmando e descobrindo que eu carrego dentro de mim o maior amor de todos. Eu tento levar uma vida normal: me alimento bem, tenho sintomas típicos da gravidez e tomo algumas medicações para a tireoide. Ainda não sei quem vem por aí – se é a Laura ou o Heitor – mas tenho certeza de que o meu filho é um guerreiro, que vence todas as lutas diárias com a mamãe!
Quanto ao tratamento, farei a radioiodoterapia depois que eu tiver o meu bebê e que parar de amamentá-lo (segundo os médicos, essa é a conduta certa). Não sei quanto tempo levará para isso acontecer e quem vai decidir é o meu filho: quero que ele tenha liberdade para escolher quando não será mais alimentado com o leite materno. Falando sobre o parto, o meu desejo é ter o normal e por enquanto não existem contraindicações.
Eu tento levar os meus dias de forma mais natural e leve possível. É claro que às vezes me sinto triste e insegura, principalmente por não saber ainda se as medicações que eu tomei afetaram ou não meu pequeno. Mas tenho muita fé e me apeguei em Deus – tenho certeza de que Ele me dará forças para os próximos exames que mostrarão que está tudo bem com o meu grande amor. A gravidez é a maior dádiva que existe: é isso que eu quero passar para as mães que, por algum motivo, descobriram a gestação em uma hora difícil. Não se apeguem ao problema, mas nas soluções! No primeiro momento, o meu filho não foi visto por mim como uma alegria. Achei que ele fosse um empecilho para eu me curar, mas hoje compreendo como fui iluminada. Deus me livrou da pior fase do câncer: o tratamento. Fui poupada disso – mesmo que momentaneamente – e acredito que eu ganhei a oportunidade de me preparar melhor e ver o mundo com outros olhos. Eu consigo enxergar que todos os meus problemas, dúvidas, anseios existem e sempre vão existir, mas nada se compara à alegria de saber que eu fui presenteada no momento em que o julguei ser o mais complicado da minha vida!“