“Como foi adotar um bebê filho de usuários de crack”

Conheça a história da fotógrafa que encontrou na adoção o caminho para a maternidade.

Por Carla Leonardi (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 20h22 - Publicado em 24 out 2016, 13h49
Annie Baracat
Annie Baracat (/)
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No dia em que completou 38 anos, a fotógrafa Annie Baracat recebeu o melhor presente de aniversário que poderia ter: seu filho. Fruto de uma adoção – os pais biológicos do pequeno eram usuários de crack –, Lilo agora tem uma família que é só afeto e amor. Conheça essa história!

“Meu nome é Annie Aline Baracat. Entre muitos apelidos, Anninha. Sou nascida e criada em São Paulo, capital. Sou fotógrafa por paixão e secretária por vocação. Criei o Place for Pics para fotografar famílias e crianças e para poder ter uma renda extra quando meu filho chegasse. Entre mil e uma utilidades, hoje também sou mãe – meu melhor papel.

No dia em que completei meus 38 anos, dia 5 de agosto de 2016, meu filho vindo da adoção chegou. Foi sem dúvida o melhor presente de aniversário que eu poderia ter recebido. Fiquei na fila da adoção por somente cinco meses e um bebezinho alegre, lindo e muito abençoado entrou na minha vida para me mostrar que a maternidade, era – sem dúvida nenhuma – muito melhor do que eu pensava.

Esse amor aumenta a cada dia. Lilo, como o chamo, é meu primeiro filho. Sempre quis ser mãe. Tenho esse desejo desde os vinte e poucos anos e hoje não sei dizer se teria vontade de engravidar. Eu sempre quis ser mãe independentemente da forma que ele chegasse à minha vida, se pelo meu ventre ou pelo meu coração.

Como estava solteira, a adoção entrou de forma natural. Foi uma mistura de sentimentos e expectativas. Tive que enfrentar certas críticas duras e alguns preconceitos de pessoas que estão presas a padrões familiares arcaicos. Até porque poucas pessoas sabiam qual poderia ser a origem do meu filho. Elas me questionavam por que adotar sendo solteira, por que não engravidar. Me perguntaram se eu não tinha medo de criar uma criança sozinha, diziam que era muito difícil ser mãe (ninguém fala isso para uma mulher grávida, não é mesmo?). E que já que eu queria ser mãe, deveria engravidar, enjoar, engordar… Passar por todo o processo e não ‘pegar’ um bebê pronto. Apesar disso, tive o apoio e o carinho de pessoas maravilhosas, enfrentando não somente essas críticas, mas também a espera com muita força e amor.

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Annie Baracat Annie Baracat

Minha habilitação para a adoção durou exatos doze meses, desde a entrega da documentação, o curso, as entrevistas com a assistente social e a psicóloga até a conclusão. Nos últimos encontros com a psicóloga eu me sentia muito mal… Para mim, era muito difícil convencer uma pessoa que não me conhecia de que eu era uma pessoa do bem, além da dificuldade em escolher o perfil de uma criança. Se poderia ter problemas de saúde tratáveis ou graves, a cor da pele, a idade, a origem… Não é fácil se fazer esses questionamentos e nem decidir. Durante todo o processo eu me emocionei muito! Cada etapa concluída era comemorada como uma vitória e foi da mesma forma quando, em janeiro deste ano, eu fui habilitada. Sabia que a qualquer momento poderia receber a tão aguardada ligação do fórum. E no final de julho, num dia qualquer, recebi a esperada chamada.

A chegada do meu Lilo foi muito mais do que eu imaginava. É um amor puro, incondicional, profundo, que nada tem a ver com caridade. As pessoas confundem a maternidade do coração com caridade. Não é. A maternidade pela adoção, na minha opinião, é tão verdadeira e válida quanto uma gestação normal. Não somos melhores ou piores que ninguém por ter optado pela adoção, somos apenas diferentes.

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Na reunião que tive no fórum, pouco antes de conhecer o bebê, foram passadas a mim informações sobre a saúde dele, dos genitores (tudo o que sabiam) e do nascimento. Então, quando fui conhecê-lo, já sabia a história de vida que ele tinha. O fato de a genitora ser usuária de drogas não me assustou. Minha maior preocupação era quando poderia ir para casa. Mas é claro que, antes da chegada dele, eu tinha inseguranças em relação à saúde, se poderia ter contraído alguma doença, por exemplo. Também me preocupava com o desenvolvimento dele por conta do uso de drogas. É claro que como qualquer mãe quero que meu filho se desenvolva de uma forma saudável, tanto física quanto emocionalmente.

Caso você pense na adoção para construção da sua família, eu diria: vá em frente. É muito melhor do que você pode imaginar.

Para isso, hoje tenho oferecido estímulos, afeto e muito amor para que ele cresça forte e saudável. Se algo pintar pelo caminho, teremos condições e amparo de familiares e amigos para cuidar disso. Nossa rotina é baseada em horários fixos de alimentação e fiz em casa um espaço parecido com o que ele tinha no abrigo, para estimulá-lo e para ele brincar com segurança.

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A escolha de perfil para adoção é muito pessoal, mas se eu pudesse dar um conselho para quem está em dúvida, seria: siga seu coração e reflita. Procure grupos de apoio. Foi frequentando o Gaasp (Grupo de Apoio a Adoção de SP) que meu coração se aquietou em relação a algumas questões, como pais usuários de drogas, doenças e também como tratar a adoção de forma lúdica e natural para uma criança. O Gaasp é um grupo formado por pessoas que já adotaram e por pessoas que estavam na mesma situação que eu. Além disso, eu busquei informações num blog muito informativo e carinhoso, do qual hoje sou colunista, o Gravidez Invisível. Lá, as pessoas podem encontrar informações sobre o início do processo e trocar experiências sobre a ansiedade da espera.

Como futura mãe, outros pontos também me preocupavam. Eu pensava nas questões da maternidade, que ainda era um ambiente totalmente desconhecido para mim. Não sabia se eu daria conta, como eu cuidaria dele ou dela. Nesse ponto, minhas preocupações eram mais coisas de mãe de primeira viagem mesmo, não tão ligadas à adoção em si. Mas assim que o Lilo chegou, ele mesmo me transformou em mãe e o tal ‘ensinamento’ que eu achava não ter já se mostrava dentro de mim. Deve ser o tal instinto materno.

Antes da chegada do Lilo eu tinha medo, mas quando recebi a ligação do fórum, dizendo que um bebezinho de seis meses estava ‘me esperando’ tudo isso passou mesmo antes de conhecê-lo. Ele já era meu filho. Esperei dois longos dias para encontrá-lo, mas agora temos uma vida toda pela frente.

Ele chegou há pouco mais de dois meses e tem se desenvolvido normalmente, deixando pra trás o abandono sofrido e construindo uma nova história, cheia de amor e afeto”.

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