Quem nunca ouviu falar que, se o bebê ouvir Mozart dentro da barriga, terá boas notas em matemática? Ou que, para estimular a atividade cerebral, a criança precisa de lições de francês por volta dos 3 anos de idade? Pois saiba que essas e muitas outras teorias vêm por água abaixo no livro A ciência dos bebês: da gravidez aos 5 anos (Zahar Editora). Com tanta informação, os pais não sabem em quem acreditar. São livros, blogs, parentes sem filhos e sogras falando sobre paternidade, mas pais precisam de fatos e não apenas de conselhos. Por isso, entrevistamos John Medina, autor do livro, que é biólogo especialista em desenvolvimento molecular e pai de dois meninos. Além de ser uma leitura deliciosa, Medina promete ajudá-la a economizar um bom dinheiro.
Ter filhos inteligentes, saudáveis e felizes é o desejo de todos os pais e mães. Existe receita para conseguir?
John Medina: Nenhum de nós é um pai perfeito. Nós fazemos o melhor que podemos, a qualquer momento, com o conhecimento que temos. O livro A ciência dos bebês simplesmente coloca as melhores instrumentos em nossa caixa de ferramentas de paternidade.
O que dizer para os inúmeros parentes sem filhos, sogras e outras pessoas que vivem dando conselhos que os pais não solicitaram?
John Medina: Você sempre vai receber conselhos! O jeito é aprender a lidar com eles. Algumas das maneiras que respondi:
- “Na verdade, a última pesquisa diz que…”
- “Você não acredita quantas vezes nosso médico disse: “nós costumávamos fazer deste jeito, mas agora nós pensamos assim…”
- “Entendo que você diz isso porque funcionou com você. Mas agora eu só preciso do seu apoio, ser pai já é duro o bastante.”
- “Isso é uma boa ideia. Obrigado.”
Como suprir o que o corpo precisa através da alimentação?
John Medina: O corpo precisa de 45 nutrientes diferentes, sendo que 38 deles são essenciais para o desenvolvimento do cérebro. Você não vai consegui-los comendo porcaria. Podemos olhar para trás e aprender com os nossos ancestrais quais são os melhores combustíveis para o nosso corpo e cérebro. Como diz o jornalista Michael Pollan: “Coma comida. Não muito. Principalmente plantas.”
No caso de a grávida não consumir os nutrientes necessários, o bebê pode vir a ser uma criança com QI mais baixo? Qual a importância do ômega-3 na dieta de uma grávida? E o que a falta deste nutriente pode causar ao bebê?
John Medina: Preste atenção a quatro coisas:
- Coma os alimentos certos: evite comida processada e esteja atenta para ingerir ácido fólico e ômega-3, que são essenciais para o desenvolvimento do cérebro;
- Ganhe peso o suficiente (mas não muito);
- Faça 30 minutos de exercícios físicos moderados por dia, porque os bebês de mães que se exercitam são mais inteligentes (e isso é ótimo para o seu cérebro, também);
- Evite o estresse tóxico, que danifica as partes do cérebro do bebê que regulam as emoções e memórias. Curiosamente, o exercício aeróbico bloqueia os efeitos do estresse tóxico no cérebro.
A chegada de um bebê sempre muda o casal. Há maneiras de proteger o casamento do desgaste?
John Medina: Com empatia, os casais podem livrar-se de alguns problemas que levam ao divórcio. Isso é muito importante, principalmente nos primeiros meses, quando os dois estão dormindo menos que o desejado. Além disso, ter empatia significa equilibrar a carga de trabalho dentro de casa – literalmente fazer uma lista do que cada um precisa fazer. A carga de trabalho desigual é uma das principais queixas de novas mães. Por fim, não importa se o casal está junto ou divorciado, é preciso criar um ambiente familiar seguro para os filhos. A segurança é a primeira preocupação do cérebro. Precisamos prestar muita atenção às emoções dos nossos filhos.
Onde é que os pais mais erram na expectativa de criar filhos felizes e bem sucedidos?
John Medina: O que não funciona é comprar qualquer produto que prometa aumentar o poder do cérebro do bebê. Nenhum deles tem eficácia cientificamente comprovada. Enquanto está na barriga, o cérebro do bebê está ocupado criando 15 mil conexões de neurônios por segundo! Ele não precisa da sua ajuda ainda.
Como impor limites às crianças?
John Medina: Nada de TV antes dos 2 anos de idade. Televisão tira o tempo que a criança estaria convivendo com outras pessoas, o que dá a elas a prática extremamente importante de ler as expressões faciais e gestos, além do desenvolvimento da linguagem. Para crianças mais velhas, limite o acesso à televisão, lembrando sempre que os pequenos têm uma forte tendência a imitar o que veem.
Se você pudesse dar apenas um conselho para pais que estão esperando o primeiro filho, qual seria?
John Medina: Escolha rir em vez de chorar.