Ciúme do novo irmão: como contornar

Quando nasce um novo membro da família, esse o sentimento é o mais natural do mundo. Saiba mais!

Por Márcia Lobo (colaboradora)
Atualizado em 21 nov 2016, 17h43 - Publicado em 29 jun 2015, 20h02
Getty Images
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Na algazarra do playground, o silêncio de Lucas era ensurdecedor. Você já viu um menino de 3 anos infeliz? Pois ali estava um, sentado na caixa de areia, a testa franzida, os lábios apertados, agarrado ao balde e à pazinha, que não usava nem emprestava a ninguém. Acostumada à energia esfuziante de Anna Carolina – que naquele exato momento pedia ao pai, às gargalhadas, para empurrar o balanço “mais forte, mais forte” -, Larissa se aproximou da mãe do garoto. “Tudo bem? Ele é sempre assim tão quietinho?”

A outra pareceu só estar esperando um pretexto para desabafar. “Que nada! Ficou assim depois que a irmã nasceu”, disse, apontando para o bebê de uns 2 meses que dormia placidamente no carrinho a seu lado. “Parou de falar e de comer. Voltou para a mamadeira, não aceita mais nada. Diz a médica pra gente ter paciência, que não é manha. Mas às vezes fico tão enlouquecida que minha maior vontade é de dar uns tapas nele.”Larissa ficou interessadíssima. Grávida de três meses, temia a reação da buliçosa e esperta Carol quando deixasse de ser filha e neta única.

Foi a vez de a mãe de Lucas se interessar: “Na idade dela – tem quanto, 2 anos, 2 e meio? -, não tem escapatória: você vai enfrentar ciumeira da braba. Sorte sua se não for um tipo de regressão, que nem está acontecendo com o meu. Estou virando especialista no assunto, leio tudo que aparece. Tem até um francês aí que garante que, para evitar problemas como esses, a diferença de idade ideal entre irmãos deveria ser de seis, sete anos. Muito bonito na teoria, mas, se eu tivesse de esperar esse tempo todo para ter o segundo, acabaria não tendo”.

O francês em questão é o psiquiatra infantil Marcel Rufo, com mais de 30 anos de experiência clínica e autor de Irmãos – Para Entender Essa Relação (Editora Nova Fronteira). No livro, ele diz que o nascimento de um irmão quando o mais velho tem entre 3 e 4 anos provoca um inevitável “cataclismo interno”, porque nessa idade a criança está numa fase de mudanças (ida para a escola, por exemplo) e ainda não conseguiu acumular recordações de família suficientes para se sentir segura.

Diz também – para grande alívio dos pais – que o ciúme, além de normal, pode levar a uma competição sadia que ajuda os dois irmãos a crescer. É difícil, porém, pensar nesse lado positivo quando o mais velho começa a ter dificuldades para dormir, “desaprende” a calçar os sapatos se a mamãe não ajudar ou volta, por exemplo, a usar fralda e a fazer xixi na cama.A pura verdade é a seguinte: mesmo usando toda a psicologia do mundo, dificilmente os pais conseguirão fazer uma criança pequena adorar a idéia de ter um irmãozinho. E, quando chegar, são imensas as probabilidades de ser recebido com agressividade mais ou menos explícita. Um amiguinho do taciturno Lucas foi apanhado em flagrante apertando a manta no rosto da irmã recém-nascida “para ela parar de chorar”.

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Outra foi surpreendida trepada no berço, enfiando os dedos nos olhinhos do bebê. Pedir para os pais devolverem o intruso ou fingir que ele não existe (fazendo, por exemplo, desenhos da família só com “mamãe, papai e eu”) são atitudes bastante comuns. Mesmo a menina de 3 anos que pegou o irmão no berço e estava prestes a jogá-lo na lata de lixo apenas dava vazão a um naturalíssimo desejo de se livrar da concorrência.Nada disso significa, porém, que as crianças vão crescer às turras. Mas é bom saber que tal fase de rejeição agressiva – mais comum quando a mais velha tem entre 1 e 3 anos – não passa tão depressa assim.

Os especialistas calculam que leva em torno de um ano e piora por volta dos 4, 5 meses da mais nova – época em que se torna mais “perigosa”, porque já faz gracinhas – e outra vez perto do primeiro aniversário – aí, a rival deixou de ser um simples bebê. Em compensação, se os pais (em especial, a mãe) souberem levar a coisa com jeito, podem transformar cada novidade do caçula numa manifestação de afeto pelo outro tipo “viu só?, o sorriso da Duda era só pra você!”.Dar uns tapas, como a mãe de Lucas às vezes tem vontade de fazer, é uma atitude compreensível, mas nem pensar: até porque a criança vai se sentir no direito de também bater no bebê por pura vingança.

Veja só o que os especialistas recomendam para amenizar esse primeiro ano de ciumeira e sufoco:

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– Lembrar sempre que o ciúme e a vontade de agredir são naturais e nunca dizer que a criança está sendo má ou fazendo uma coisa feia.

– Esforçar-se para lhe dar a mesma atenção de antes.

– Ter em casa brinquedos novos embrulhados para presentear o mais velho sempre que o outro ganhar um.

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– Elogiar os progressos dele para que não fique tentado a se comportar como um bebê.

– Evitar que o caçula use objetos do outro (berço, mamadeiras, carrinho) se perceber que ele não está feliz com a idéia. Menos ainda, forçá-lo a dividir brinquedos.

– Falar e mostrar fotos do tempo em que ele também era bebê.

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– Não cair na tentação de deixar o pai dar dedicação total ao mais velho como compensação – só aumentará a sensação de que a mãe não tem mais tempo para ele.

– Mostrar ao ciumento as vantagens de ser mais velho – sabe falar, andar, fazer um monte de coisas sozinho.

– Providenciar brinquedos que permitam à criança dar vazão à agressividade – massinha, material para desenho e um tambor são boas idéias.

– Não exigir silêncio por causa do bebê. Recém-nascidos são capazes de dormir em meio à maior confusão e o outro ficará mais ressentido.

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