Família

“Tive bebê na mesma hora que minha irmã. Eu no Brasil, ela na Espanha”

por Fernanda Tsuji 25 dez 2020
10h00

Lá de Barcelona, Thammy Gritti Rahman preparou uma surpresa: comprou uma roupinha de bebê e pediu ao irmão, Danilo, que entregasse aos pais deles no momento em que ela fizesse uma chamada de vídeo no almoço de Páscoa da família no Brasil. E tudo saiu como o esperado, com lágrimas e abraços. O que ela não imaginava é que não seria a única a anunciar uma gestação naquele mesmo dia. Sua irmã Luana Gritti Rahman De Almeida, que também havia descoberto que seria mamãe dias antes, acabou contando a mesma novidade. Nem precisa dizer que a emoção foi em dobro, né?

Mas a coincidência na vida destas irmãs de Santo André (SP)  ia além deste anúncio duplo inesperado. Durante toda a gestação, uma deu suporte para a outra, sem nem imaginar que seus bebês também tinham sua sincronicidade particular e que, veja só, viriam no mesmo dia, separados por menos de 30 minutos de nascimento um do outro. “Acredito que talvez tenha um motivo para eles terem nascido no mesmo dia e na mesma hora. Talvez quando eles estiverem um pouco maiores e se conhecerem melhor, descobriremos o porquê”, conta Luana.

E é esta história especial e cheia de amor dos “primos gêmeos” Guilherme e Nicholas – e, claro, das irmãs Thammy, de 34 anos, e Luana, de 36 – que a gente conta neste dia de Natal.

Confira os depoimentos na íntegra:

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"Acredito que talvez tenha um motivo para eles terem nascido no mesmo dia e na mesma hora."

“Nós sempre fomos unidas, com briguinhas como todas as irmãs, mas como nossa diferença de idade é pequena, nós crescemos grudadas, brincando com as primas. Nós somos diferentes, mas temos algumas coincidências, como por exemplo termos escolhido a mesma graduação, Ciências da Computação. Tem um fato curioso também que tanto eu quanto minha irmã, tivemos longos relacionamentos antes de casar. Eu namorei cerca de 10 anos e a minha irmã um pouquinho mais até. Depois nos separamos e conhecemos os atuais maridos.

Eu sempre quis ser mãe, mas nunca falamos muito sobre o assunto, porque, na verdade, eu queria várias coisas antes de ter filho, queria construir minha carreira, viajar… E nem mesmo quando comecei a tentar a engravidar, não contamos uma pra outra, nunca planejamos isso de gestar ao mesmo tempo. Cada uma tem sua vida e seu ritmo. Foi realmente uma coincidência.

Aconteceu que, em 2019, eu descobri que estava grávida. Contei apenas para o meu marido, no aniversário dele, mas pensei em esperar as 12 semanas pra ter certeza antes de anunciar para todos. Eu tinha até planejado uma surpresinha para os meus pais, mas aí durante um almoço de Páscoa, minha irmã que mora na Espanha fez uma videoconferência, porque disse que queria falar com toda a família. Na hora, ela pediu para meu irmão entregar uma roupinha de bebê para os meus pais, que ficaram muito emocionados.

Eu só consegui olhar surpresa para o meu marido. Minha mãe virou para mim, brincando, e disse: ‘Mas e você? Você tinha que ser a primeira, é a mais velha’. E aí eu acabei falando: ‘Pois eu também tenho uma notícia, estou grávida!’. Foi a maior choradeira! Depois, fiquei até pensando que eu não deveria ter falado, porque era o momento dela contar, mas a emoção foi tanta que não consegui me conter.

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Ficamos muito surpresas também, porque as datas prováveis do parto seriam muito próximas. O meu filho estava previsto para o dia 17 de novembro e o dela para o dia 21. E naquele momento, nenhuma de nós sabia que seriam dois meninos também. Por aqui, eu planejava fazer uma cesárea, enquanto lá na Espanha eles estimulam muito que o parto seja normal. Essa era a única diferença.

Foi uma felicidade tão imensa que decidimos compartilhar com todos da nossa família, que é muito grande. Durante a festa de aniversário de casamento dos meus pais, a gente fez um vídeo muito legal revelando que nós duas estávamos esperando bebês ao mesmo tempo. Foi uma festa!

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(Thammy Gritti/Arquivo Pessoal)

Foi muito gostoso estar grávida ao mesmo tempo que ela, passamos a gestação trocando informação. Só conseguimos nos ver uma vez durante a gestação toda. Ela veio ao Brasil e eu organizei um chá de bebê para ela.

Achamos que poderia acontecer sim das pessoas compararem as nossas gestações, mas se rolou, foi algo bem banal como dizer que uma barriga estava maior que a outra. Eu trabalhei bastante meu psicológico para não me incomodar se rolasse, porque, na verdade, isso sempre existiu na nossa vida, já que tínhamos idades muito próximas. Até acho que se ela morasse aqui no Brasil, isso teria acontecido mais. Eu também sou bem mais reservada, então não dou muita liberdade para este tipo de comentário”.

No dia do parto…

“Lembro de ter acordado no dia 14, um dia antes do marcado pra minha cesárea, e de ter lido no celular que a bolsa da minha irmã tinha estourado. O fuso é de cerca de 5 horas, então logo pensei que meu sobrinho seria mais velho que meu filho.

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Naquele dia eu estava com uma sensação muito estranha. Fui ao banheiro e percebi que tinha saído um líquido vermelhinho. Como já tinha acontecido outras vezes, não me assustei. Até falei pro meu marido que tinha dúvidas se a bolsa tinha estourado, mas ele achou que eu pudesse estar preocupada porque minha irmã estava entrando em trabalho de parto. Me acalmei e fui ao cabeleireiro, mas quando cheguei lá, comecei a sentir umas dores nas costas, mas não sabia que isso era uma contração. Só que começou a aumentar e achei melhor ir pro hospital. Meu marido arrumou tudo e fomos. Aí eu já imaginei que estava em trabalho de parto também.

Cheguei ao hospital com 6 cm de dilatação e acabei decidindo tentar o parto normal, afinal, já estava mesmo sentindo todas as dores, que eram meu grande medo. Nesse meio tempo, o grupo da família no WhatsApp estava um alvoroço e ninguém acreditava que as duas estavam parindo no mesmo dia, na mesma hora, ambas de parto normal. Meus pais estavam desesperados!

Quando foi 18h39, o Guilherme, meu filho, veio ao mundo. E exatos 27 minutos antes, o Nicholas tinha nascido em Barcelona. Até hoje a gente conta esta história e todo mundo fica perplexo, brincam que eles eram ‘gêmeos de barrigas diferentes'”.

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(Luana Gritti/Arquivo Pessoal)

Conectadas, mesmo de longe

“A gente troca muitas figurinha, né? Afinal, os dois são da mesma idade, mas com ritmos muito diferentes. O Nicholas, por exemplo, começou a andar antes do Guilherme. Esse tipo de coisa não é uma preocupação nem para mim e nem para ela, a gente sabe que cada criança tem seu tempinho. Nos falamos muito e colocamos os bebês para se verem em chamadas de vídeo. No entanto, eles ainda não se conhecem pessoalmente. Minha irmã viria pra cá em agosto, mas a pandemia começou em março e infelizmente, eles não puderem vir.

O Guilherme é um bebê muito espertinho, é bem aquelas crianças que já acordam gargalhando, muito alegre e decidido. Tem só 1 aninho, mas é bem extrovertido e brincalhão. Eu teria que voltar da licença-maternidade em junho, mas por conta da quarentena, pude ficar de home office. É bem complicado porque ele me vê aqui, quer colo, quer mamar, não entende que eu preciso trabalhar. Acho que se estivesse na escolinha, eu estaria morrendo de saudade dele, mas talvez fosse um pouco mais tranquilo, porque em casa fica tudo mais corrido, né?

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(Luana Gritti/Arquivo Pessoal)

Foi um dos anos mais desafiadores da minha vida. Eu sendo mãe de primeira viagem, tendo que voltar a trabalhar e minha mãe ainda enfrentou um câncer de intestino. No fim, deu tudo certo, mas foi uma correria muito grande por tratamento e tudo isso junto com a rotina com um bebê pequeno, trabalhando e cuidando da casa. Passei meses sem ninguém pra me ajudar, apenas meu marido. Tinha dia que o Guilherme dormia, eu terminava o trabalho e ainda fazia as coisas de casa até meia-noite. E como ele ainda é muito bebê, acorda muito picado durante a madrugada… Eu fiquei bem cansada, foi um ano complicado.

Agora está mais tranquilo, mas eu estou muito feliz que está acabando, sabe? Espero que 2021 seja um ano muito melhor para todos. Sinto, porém, que não posso reclamar e tenho muito a agradecer, pois pude passar o primeiro ano de vida do meu filho com ele, podendo acompanhar todo o crescimento de pertinho. No fim, tanto o Nicholas quanto o Guilherme estão bem e se desenvolvendo feliz. Só espero que no ano que vem, minha irmã possa vir e os dois possa finalmente se conhecer.

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Eu acredito em sincronidade. Que nada acontece por acaso ou é apenas uma coincidência. Acredito que talvez tenha um motivo para eles terem nascido no mesmo dia e na mesma hora. Talvez quando eles estiverem um pouco maiores e se conhecerem melhor, descobriremos o porquê. Quem sabe eles não combinaram já no mundo espiritual de virem à Terra juntos e se teve algum significado maior pra mim até agora com certeza foi me unir mais ainda à minha irmã que tanto amo”.

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"Foi uma experiência única de vida estar grávida ao mesmo tempo que ela"

“Como minha irmã contou, não tínhamos nenhum plano de engravidar juntas, nem sabíamos que a outra estava tentando, então foi uma surpresa mesmo. Neste dia do almoço de Páscoa, eu preparei a surpresa com meu irmão com um body escrito ‘oi, vovô e vóvó’ e na hora, percebi que minha irmã ficou séria e sem saber o que fazer. Pensei ‘tá acontecendo alguma coisa’, e não deu outra! Ela acabou contando que também estava de pouco mais que 10 semanas. Percebemos que estávamos com quatro dias de diferença. Imagina a felicidade dos meus pais, né? Foi em dobro!

Foi uma experiência única de vida estar grávida ao mesmo tempo que ela. Pudemos tirar dúvida uma da outra, entender ultrassom, desvendar uma dorzinha, vitaminas… Era legal porque estávamos passando mais ou menos pelas mesmas coisas. Tipo, eu sentia uma contração e perguntava para ela, e ela também estava sentindo. Pudemos compartilhar muita coisa nestes meses.

Eu sempre fui muito de postar foto, já minha irmã é mais reservada, então as pessoas cobravam muito de ver mais a barriga da Luana, mas assim, nada que nos chateasse ou que houvesse uma comparação muito grande das nossas gestações, pelo menos nunca chegou aos nossos ouvidos”.

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(Thammy Gritti/Arquivo Pessoal)

Parto junto, através do oceano

“Aqui na Espanha eles não indicam a cesárea, na maioria dos casos é parto normal, o que é o oposto do Brasil, né? Minha irmã tinha marcado a cirurgia dela para o dia 15 e quando foi na madrugada do dia 14, eu senti vontade de ir ao banheiro e quando vi, minha bolsa tinha estourado. Ainda não tinha contração nenhuma, eu e meu marido até chegamos a pensar que pudesse ser xixi, mas seguimos para o hospital. Quando chegamos lá, confirmaram que eu estava mesmo entrando em trabalho de parto.

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Pela manhã, avisei minha família por mensagem e minha irmã logo respondeu que também estava com dor e passado um tempinho, avisou que também estava tendo o bebê. Sinceramente, eu estava com muito medo da dor e acabei fazendo praticamente sem anestesia, porque deu um problema no caninho que levava o remédio até as costas e a equipe médica só percebeu depois. Eu lembro de estar sentindo muita dor e do Rodrigo, marido da minha irmã, dizer no grupo que ela também estava do mesmo jeito.

Quando foi 18h12 (contando com o fuso horário), meu filho nasceu e eu fiz um vídeo com a família toda, menos minha irmã, já que quando deu 18h39 nasceu o Guilherme.

A gente fala que foi coisa de Deus, né? Se fosse uma cesárea, até daria pra ter programado para o mesmo dia, mas as duas entrarem em trabalho de parto ao mesmo tempo, acho que era para ser assim. Foram muitas coincidências boas. Descobrir juntas, as duas serem mães de primeira viagem, descobrir que eram dois meninos, o parto… Uma coisa atrás da outra”.

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(Thammy Gritti/Arquivo Pessoal)

Tão longe, tão perto

“Um fala uma palavrinha antes, enquanto o outro começa a engatinhar… Cada um vai no seu ritmo e sem comparações. Nicholas é muito curioso, presta muita atenção no que a gente faz e fica repetindo. Ele é muito simpático, menino de riso fácil, tranquilinho…

A gente achava que iria em agosto ao Brasil, nas nossas férias daqui, e estava tudo preparado para os bebês se conhecerem. Só que em março veio a pandemia… E isso foi bem complicado pra mim, porque queria compartilhar com a família a felicidade de ter um bebê e infelizmente não consegui.

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(Thammy Gritti/Arquivo Pessoal)

Claro que a gente faz vídeo todo dia com meus pais, eu ligo muito para meus irmãos e primos, mas não é a mesma coisa, né? Muita gente me diz que queria ter pego o Nicholas no colo quando ele ainda era pequenininho. A minha mãe mesmo diz que queria muito ter participado do aniversário de 1 ano dele. São comentários inocentes, mas que me fazem sofrer, porque realmente são momentos que eu também queria ter passado junto deles.

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Aqui de longe eu também me sinto meio impotente. Minha mãe está enfrentando uma doença bastante complicada, um câncer, e eu também não pude estar aí. Eu sei que tenho que esperar passar, porque não posso arriscar colocar meu filho num avião para ele pegar a doença ou transmiti-la pra outras pessoas. Essa pandemia mudou bastante meus planos de vida. Acho que se você me perguntar qual o meu maior sonho agora é que isso tudo acabe logo e eu possa dar um abraço na minha família, que eu possa conhecer meu sobrinho e possa apresentar meu bebê para todos”.

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