“Nós sempre fomos unidas, com briguinhas como todas as irmãs, mas como nossa diferença de idade é pequena, nós crescemos grudadas, brincando com as primas. Nós somos diferentes, mas temos algumas coincidências, como por exemplo termos escolhido a mesma graduação, Ciências da Computação. Tem um fato curioso também que tanto eu quanto minha irmã, tivemos longos relacionamentos antes de casar. Eu namorei cerca de 10 anos e a minha irmã um pouquinho mais até. Depois nos separamos e conhecemos os atuais maridos.
Eu sempre quis ser mãe, mas nunca falamos muito sobre o assunto, porque, na verdade, eu queria várias coisas antes de ter filho, queria construir minha carreira, viajar… E nem mesmo quando comecei a tentar a engravidar, não contamos uma pra outra, nunca planejamos isso de gestar ao mesmo tempo. Cada uma tem sua vida e seu ritmo. Foi realmente uma coincidência.
Aconteceu que, em 2019, eu descobri que estava grávida. Contei apenas para o meu marido, no aniversário dele, mas pensei em esperar as 12 semanas pra ter certeza antes de anunciar para todos. Eu tinha até planejado uma surpresinha para os meus pais, mas aí durante um almoço de Páscoa, minha irmã que mora na Espanha fez uma videoconferência, porque disse que queria falar com toda a família. Na hora, ela pediu para meu irmão entregar uma roupinha de bebê para os meus pais, que ficaram muito emocionados.
Eu só consegui olhar surpresa para o meu marido. Minha mãe virou para mim, brincando, e disse: ‘Mas e você? Você tinha que ser a primeira, é a mais velha’. E aí eu acabei falando: ‘Pois eu também tenho uma notícia, estou grávida!’. Foi a maior choradeira! Depois, fiquei até pensando que eu não deveria ter falado, porque era o momento dela contar, mas a emoção foi tanta que não consegui me conter.
Ficamos muito surpresas também, porque as datas prováveis do parto seriam muito próximas. O meu filho estava previsto para o dia 17 de novembro e o dela para o dia 21. E naquele momento, nenhuma de nós sabia que seriam dois meninos também. Por aqui, eu planejava fazer uma cesárea, enquanto lá na Espanha eles estimulam muito que o parto seja normal. Essa era a única diferença.
Foi uma felicidade tão imensa que decidimos compartilhar com todos da nossa família, que é muito grande. Durante a festa de aniversário de casamento dos meus pais, a gente fez um vídeo muito legal revelando que nós duas estávamos esperando bebês ao mesmo tempo. Foi uma festa!
– (Thammy Gritti/Arquivo Pessoal)
Foi muito gostoso estar grávida ao mesmo tempo que ela, passamos a gestação trocando informação. Só conseguimos nos ver uma vez durante a gestação toda. Ela veio ao Brasil e eu organizei um chá de bebê para ela.
Achamos que poderia acontecer sim das pessoas compararem as nossas gestações, mas se rolou, foi algo bem banal como dizer que uma barriga estava maior que a outra. Eu trabalhei bastante meu psicológico para não me incomodar se rolasse, porque, na verdade, isso sempre existiu na nossa vida, já que tínhamos idades muito próximas. Até acho que se ela morasse aqui no Brasil, isso teria acontecido mais. Eu também sou bem mais reservada, então não dou muita liberdade para este tipo de comentário”.
No dia do parto…
“Lembro de ter acordado no dia 14, um dia antes do marcado pra minha cesárea, e de ter lido no celular que a bolsa da minha irmã tinha estourado. O fuso é de cerca de 5 horas, então logo pensei que meu sobrinho seria mais velho que meu filho.
Naquele dia eu estava com uma sensação muito estranha. Fui ao banheiro e percebi que tinha saído um líquido vermelhinho. Como já tinha acontecido outras vezes, não me assustei. Até falei pro meu marido que tinha dúvidas se a bolsa tinha estourado, mas ele achou que eu pudesse estar preocupada porque minha irmã estava entrando em trabalho de parto. Me acalmei e fui ao cabeleireiro, mas quando cheguei lá, comecei a sentir umas dores nas costas, mas não sabia que isso era uma contração. Só que começou a aumentar e achei melhor ir pro hospital. Meu marido arrumou tudo e fomos. Aí eu já imaginei que estava em trabalho de parto também.
Cheguei ao hospital com 6 cm de dilatação e acabei decidindo tentar o parto normal, afinal, já estava mesmo sentindo todas as dores, que eram meu grande medo. Nesse meio tempo, o grupo da família no WhatsApp estava um alvoroço e ninguém acreditava que as duas estavam parindo no mesmo dia, na mesma hora, ambas de parto normal. Meus pais estavam desesperados!
Quando foi 18h39, o Guilherme, meu filho, veio ao mundo. E exatos 27 minutos antes, o Nicholas tinha nascido em Barcelona. Até hoje a gente conta esta história e todo mundo fica perplexo, brincam que eles eram ‘gêmeos de barrigas diferentes'”.
– (Luana Gritti/Arquivo Pessoal)
Conectadas, mesmo de longe
“A gente troca muitas figurinha, né? Afinal, os dois são da mesma idade, mas com ritmos muito diferentes. O Nicholas, por exemplo, começou a andar antes do Guilherme. Esse tipo de coisa não é uma preocupação nem para mim e nem para ela, a gente sabe que cada criança tem seu tempinho. Nos falamos muito e colocamos os bebês para se verem em chamadas de vídeo. No entanto, eles ainda não se conhecem pessoalmente. Minha irmã viria pra cá em agosto, mas a pandemia começou em março e infelizmente, eles não puderem vir.
O Guilherme é um bebê muito espertinho, é bem aquelas crianças que já acordam gargalhando, muito alegre e decidido. Tem só 1 aninho, mas é bem extrovertido e brincalhão. Eu teria que voltar da licença-maternidade em junho, mas por conta da quarentena, pude ficar de home office. É bem complicado porque ele me vê aqui, quer colo, quer mamar, não entende que eu preciso trabalhar. Acho que se estivesse na escolinha, eu estaria morrendo de saudade dele, mas talvez fosse um pouco mais tranquilo, porque em casa fica tudo mais corrido, né?
– (Luana Gritti/Arquivo Pessoal)
Foi um dos anos mais desafiadores da minha vida. Eu sendo mãe de primeira viagem, tendo que voltar a trabalhar e minha mãe ainda enfrentou um câncer de intestino. No fim, deu tudo certo, mas foi uma correria muito grande por tratamento e tudo isso junto com a rotina com um bebê pequeno, trabalhando e cuidando da casa. Passei meses sem ninguém pra me ajudar, apenas meu marido. Tinha dia que o Guilherme dormia, eu terminava o trabalho e ainda fazia as coisas de casa até meia-noite. E como ele ainda é muito bebê, acorda muito picado durante a madrugada… Eu fiquei bem cansada, foi um ano complicado.
Agora está mais tranquilo, mas eu estou muito feliz que está acabando, sabe? Espero que 2021 seja um ano muito melhor para todos. Sinto, porém, que não posso reclamar e tenho muito a agradecer, pois pude passar o primeiro ano de vida do meu filho com ele, podendo acompanhar todo o crescimento de pertinho. No fim, tanto o Nicholas quanto o Guilherme estão bem e se desenvolvendo feliz. Só espero que no ano que vem, minha irmã possa vir e os dois possa finalmente se conhecer.
Eu acredito em sincronidade. Que nada acontece por acaso ou é apenas uma coincidência. Acredito que talvez tenha um motivo para eles terem nascido no mesmo dia e na mesma hora. Talvez quando eles estiverem um pouco maiores e se conhecerem melhor, descobriremos o porquê. Quem sabe eles não combinaram já no mundo espiritual de virem à Terra juntos e se teve algum significado maior pra mim até agora com certeza foi me unir mais ainda à minha irmã que tanto amo”.