Tudo sobre educação montessoriana na primeira infância
Do estímulo apresentado às crianças ao modo de impor limites, passando pelo papel do professor, entenda melhor o Método Montessori de ensino
“Ajuda-me a fazer sozinho”. O lema, cravado pela médica e educadora italiana Maria Montessori, é uma bela síntese do método de ensino criado por ela e que, por isso, foi batizado com seu sobrenome. A educação montessoriana baseia-se na autonomia dos alunos, mas com a observação e o auxílio pontuais do professor nos momentos necessários.
Venha entender melhor como ela funciona e por que está tão em alta – até o príncipe George e a princesa Charlotte, do Reino Unido, estudam em escolas montessorianas. Conversamos com Dayse Canano, psicóloga especializada no Método Montessori, diretora e coordenadora da Escola Petra do Rio de Janeiro, e com Katia Beltrame, coordenadora pedagógica de educação infantil do Colégio Sion de Curitiba, para desvendar esse universo.
Princípios montessorianos
Antes de irmos para o ensino em si, é legal entender que Maria Montessori definiu três princípios para o método. Eles têm tudo a ver com o que ocorre em sala de aula.
Paz – O aluno montessoriano é educado para ser um cidadão do mundo, que respeite a sociedade. Todo o conhecimento tem aplicação para o bem-estar comum fora dos muros da escola;
Ciência – É provado pela ciência que a criança tem fases evolutivas – e elas são respeitadas pela pedagogia montessoriana. Nenhuma etapa deve ser pulada;
Harmonia – O ensino montessoriano tem como objetivo a harmonia das pessoas com a natureza, o que significa a harmonia com a própria vida.
Estímulo é tudo
As salas de aula e os materiais didáticos montessorianos são coloridos e estimulantes, um verdadeiro convite ao saber. Isso não é à toa, como explica Katia: “Na educação infantil, o norteador é a educação dos sentidos. É uma fase em que as crianças estão bem abertas para a exploração sensorial, então o ambiente é todo preparado para esse trabalho, porque o sensorial é muito importante. A partir dele vêm o domínio de si, o respeito pelo ambiente”.
Dayse afirma que o mobiliário montessoriano, específico para o tamanho das crianças, é cientificamente preparado. “Há mesas únicas, mesas duplas, mesas para grupos e circulares, para o lanche. As estantes ficam em uma altura adequada para elas e não têm portas”, detalha. “A disposição de tudo é organizada pelo professor de acordo com as necessidades do grupo. Nada é fixo”.
O papel do professor no ensino montessoriano
Diante dessa organização e dos materiais à sua disposição – selecionados criteriosamente pelo professor, sempre de acordo com as necessidades e interesses da turma –, a criança tem a livre escolha de trabalhar com o que mais lhe interessar. O que está longe de ser uma atividade “solta”.
“O professor observa e acompanha tudo e atua como um mediador entre a criança, o material e o ensinamento que resulta dessa interação”, esclarece Katia. Dayse complementa: “O professor é o guia que vai junto. Ele dá crédito ao potencial da criança”.
Ajuda nessa dinâmica os materiais serem autocorretivos. Um jogo de encaixe, por exemplo, só funciona se as peças forem colocadas nos lugares corretos; ao notar isso, a crianças vai, entre erros e acertos, conseguir concluí-lo e passar naturalmente para as próximas etapas do aprendizado. “Cada material tem um objetivo, que é levar ao interesse pelo material seguinte”, sintetiza Dayse.
A estas alturas, muitos pais podem pensar: “Mas e se meu filho ou minha filha ‘cismar’ com em um material e não quiser largar dele? Como vai evoluir?”. Segundo as especialistas, não há risco disso acontecer, devido à própria natureza investigativa humana e ao fato de o método não colocar obstáculos na livre interação entre as crianças. Como Katia coloca, “uma criança acaba puxando a outra para as novidades e os professores mediam os interesses, auxiliando nessa evolução”.
Como ficam os limites diante dessa liberdade toda?
A liberdade de aprender não impede que os limites sejam muito bem estabelecidos no Método Montessori. Especialmente no Ensino Infantil, o professor atua com psicologia e gentileza nos momentos certos, mostrando que determinado comportamento não é socialmente aceito – o que é bem assimilado pela criança, já que ela está em um ambiente e uma filosofia que prega o respeito entre todos, como dito anteriormente.
“Os alunos obedecem não porque são reprimidos, mas porque alguém – o professor – conversa e explica os motivos pelos quais eles não devem ter atitudes que prejudiquem a harmonia e a paz”, diz Dayse.
Até nisso as crianças se autorregulam. “As regras são combinadas entre professor e alunos constantemente, a turma incorpora isso e elas próprias se corrigem quando alguma sai dos eixos. O perfil de respeito é muito forte”, acrescenta Katia.
Avaliação não é sinônimo de notas
O que rege os boletins montessorianos são conceitos – e não notas! A avaliação é diária, com anotações sobre os avanços pedagógicos, a relação com os outros e com o mundo. São feitos pareceres descritivos sobre o que o aluno conquistou, o que está desenvolvendo e o que ainda falta atingir.
Isso é o que se apresenta para os pais. Claro que, por uma questão de exigências burocráticas, os conceitos são convertidos em notas para possibilitar as devidas certificações, mas elas – as notas – não fazem diferença na avaliação contínua do Ensino Infantil.
A continuidade do Método Montessori após o Ensino Infantil
No Brasil, existem poucas escolas que seguem o Método Montessori até o Ensino Médio. O que normalmente se vê é o método ir até o Ensino Fundamental e acabar por aí.
Mesmo que a etapa seguinte siga outra filosofia de ensino, o que fica da montessoriana nos alunos é para sempre – e aqui estamos falando de capacidade de aprendizado. Tanto Katia quando Dayse contam que ex-alunos das escolas onde trabalham são campeões de olimpíadas de áreas variadas do conhecimento e sempre demonstram gratidão pela base humana e harmônica que tiveram.
Dayse avisa aos pais que, ao escolher o ensino montessoriano, “estão colocando os filhos em uma escola libertadora”. E Katia resume, para finalizar: “É uma educação para a vida”.