TDAH é hereditário? Entenda se o transtorno é transmitido na família
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade altera o funcionamento de neurotransmissores - e as causas disso vêm sendo investigadas
Muito se fala sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) nos dias de hoje. Há pessoas que teimam em dizer que a condição não existe, apesar de já haver um Consenso da Federação Mundial de TDAH publicado desde 2021. Ele é o transtorno neurobiológico mais comum na infância – ocorre em 5% das crianças, segundo a publicação – e não há dúvidas sobre sua existência. Um campo que ainda pode gerar debate, no entanto, é se há ou não um componente genético para o TDAH.
É inevitável que um pai ou mãe que tenham um diagnóstico se questionem se o filho “herdará” o transtorno – ainda mais se outro parente próximo apresenta os sintomas. E, na verdade, é bem possível que isso aconteça. “Sabe-se, sim, que o TDAH tem uma base genética – o que significa que existe uma influência significativa dos genes na sua ocorrência”, explica Marina Zavitoskil, orientadora parental na clínica multidisciplinar Genial Care. Porém, essa hereditariedade é um pouco mais complexa.
Luciana Brites, psicopedagoga e CEO do Instituto NeuroSaber, por exemplo, conta que o marido tem TDAH, mas, na família, apenas seu filho do meio possui o transtorno. Isto porque “suas causas são multifatoriais”, diz.
A criança vai herdar o TDAH da família?
Não necessariamente. Ter um pai ou mãe com TDAH aumenta as chances de que a criança possa herdar uma predisposição genética, mas isso não é uma garantia. “Ele não segue uma linha reta de herança genética, mas sim uma combinação de questões”, explica Mariana Amorim, psicóloga sênior do Instituto Paulista de Déficit de Atenção. Por isso, dizemos que a hereditariedade do transtorno não é completamente direta.
Para ilustrar, podemos pensar nos genes como “peças de um quebra-cabeça”, ilustra Marina Zavitoskil: “Vários genes estão relacionados ao TDAH, e diferentes combinações deles podem aumentar a probabilidade de desenvolver o transtorno. No entanto, a presença dessas combinações genéticas não é uma garantia de que o TDAH será transmitido para todos os membros da família”. De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), pesquisas com gêmeos, por exemplo, sugeriram que os fatores genéticos contribuem em cerca de 70% para a condição.
É importante lembrar também que, diferente das alterações ou mutações nos genes ainda na fecundação, como a Síndrome de Down, um transtorno hereditário, como o TDAH, traz apenas uma predisposição genética a ser transmitida de geração em geração. “Ele pode ou não se manifestar em algum momento da vida, mas isso não quer dizer que obrigatoriamente o indivíduo terá”, ressalta Ariádny Abbud, psicóloga e fundadora do Instituto de Neuropsicologia e Psicologia Infantil – INPI.
É aí que entra a influência do ambiente em que a criança vive para o diagnóstico. Todo transtorno se desenvolve por uma soma de fatores de risco. Além da genética, a qualidade da educação ou da estimulação cognitiva e emocional na infância, a ingestão de álcool ou nicotina pela mãe na gravidez, complicações no parto e até exposição a chumbo podem desempenhar um papel determinante para a condição.
O TDAH
Indivíduos com TDAH apresentam alterações no funcionamento dos neurotransmissores – substâncias químicas, como a dopamina e a noradrenalina, responsáveis pelas trocas de informação entre os neurônios). Isso ocorre na região orbital frontal do cérebro, onde armazenamos a memória, a atenção, a organização e o planejamento, assim como o autocontrole.