Nascida com 340 gramas, menor bebê do Brasil tem alta de hospital
Confira a impressionante história de luta e vitória de Rafaella, prematura extrema que nasceu no começo do ano passado e só agora foi para casa.
Teve alta hospitalar nesta quarta-feira, 24, Rafaella Victoria Amaral da Silva, a menor bebê já vista na rede de hospitais São Luiz e, suspeita-se, até no Brasil. Ela nasceu com 340 gramas em 28 de março de 2017 e iria completar dez meses no hospital no próximo domingo, 28.
O parto ocorreu na 25ª semana de gravidez, 12 semanas antes do período para o bebê ser considerado a termo. Foi a segunda gestação de Greici Kelly do Amaral, bancária, 30 anos, mãe de um menino de 7 anos, que veio ao mundo saudável e dentro do tempo previsto. Desta vez, entretanto, eram gêmeos e, além disso, ela desenvolveu dermatomiosite, uma inflamação crônica rara que atinge pele e músculos e acabou prejudicando o andamento da gravidez.
A doença evoluiu e Greici teve que ficar internada para observação. Até que, ao fazer um ultrassom com doppler de rotina, os médicos observaram que Rafaella estava com o tamanho muito menor do que o esperado para a idade. “O exame indicava ainda que o fluxo placentário para ela estava prejudicado, o que comprometia seu crescimento”, conta Graziela Del Ben, neonatologista do São Luiz Itaim, responsável pelo caso.
Recebendo pouco sangue, a vida de Rafaella corria perigo e, assim, os médicos precisaram fazer uma cesariana de emergência. “Podemos dizer que as chances dela sobreviver eram baixíssimas, menores do que 1%”, explica a médica. Na rede São Luiz, o limiar de viabilidade para a vida de um prematuro extremo é de 400 gramas de peso. “Ou seja, ela estava no limite”, completa.
O irmão, Hulisces, nasceu junto, mas pesando 780 gramas, o esperado para a idade gestacional. Mesmo assim, precisou ficar internado por quatro meses por conta da prematuridade. Já para Rafaella, a história foi diferente.
Vitória merecida
Depois do parto, Greici ainda estava mal e só pôde ver os bebês quando eles tinham 1 mês de vida. Enquanto a mãe lutava pela sua recuperação, Rafaella por sua vez batalhava na UTI neonatal. “Nessa idade e tamanho, o organismo todo ainda está muito imaturo”, aponta Graziela.
Tanto que Rafaella ficou entubada três meses, com a ventilação mecânica fazendo o papel dos pulmões, passou por cirurgias, teve paradas cardíacas e até hoje não consegue engolir ou respirar perfeitamente. “Ela continua precisando de uma fração mínima de oxigênio, mas estava na hora de ir para casa”, conta a neonatologista. Nesta quarta-feira, a bebê saiu do hospital pesando 6,3 quilos e saudável, na medida do possível.
Ela leva, ainda, um catéter que fornece o oxigênio e uma gastrostomia, sonda que fica no estômago por onde a criança é alimentada sem que precise da boca. “A ideia é que eles sejam retirados aos poucos, conforme ela cresce e a fonoaudióloga a ensine a deglutir os alimentos”, explica a especialista do São Luiz.
Ela precisará de fono para auxiliar nesse processo, mas os testes auditivos e oftalmológicos estão normais. “Consideramos um sucesso o fato dela ter sobrevivido e estar bem, agora é acompanhar o desenvolvimento e esperar”, celebra a médica. Independente do que o futuro reserva para Rafaella, depois desse início conturbado, certamente a pequena tirará de letra o que vier. “Não dá nem para entender tudo o que ela passou, mas ir para casa é uma vitória sem tamanho para todos nós”, comemora Greici.