Vivendo em sociedade, sabemos que o dinheiro faz diferença na criação dos filhos. Ele é necessário tanto para o básico da sobrevivência e da saúde, como alimentação e higiene, quanto para o que abastece cérebro e alma, como cursos extracurriculares, viagens e sair para tomar um sorvete. Desde a década de 1990, diversas pesquisas são dedicadas a avaliar a importância de cada um desses aspectos no desenvolvimento infantil, mas um passou a ser assunto de interesse apenas recentemente: a origem da renda familiar.
Um dos estudos a trazer este olhar foi conduzido pela University College London (Inglaterra) e pelo Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW) e publicado em 16 de setembro de 2020. Nele, quatro pesquisadores analisaram as diferenças entre crianças de famílias que têm riqueza (ou seja, patrimônio – casa própria e a possibilidade de viver apenas de rendimentos de investimentos sólidos) e de famílias que dependem de salários regulares para pagar aluguel e todas as contas da casa.
Os focos foram a evolução das habilidades cognitivas (desenvolvimento verbal) e as condições gerais de saúde emocional (comportamentos) e física de crianças de 9 meses e 3, 5, 7, 11 e 14 anos de idade. O estudo contou com a participação de pouco mais de 19 mil famílias.
Mais estabilidade, melhor comportamento? Não é bem assim…
De acordo com as análises, o comportamento social infantil tende a ser melhor nas famílias ricas do que naquelas que dependem de salários para pagar as contas. Mas na vida privada a situação é inversa: as crianças de pais assalariados se portam melhor dentro de casa e apresentam mais respeito pelos adultos do que as do outro grupo.
Isso pode ocorrer devido a um maior repertório dos pais que trabalham e recebem salários, o que incrementa as conversas familiares e abre caminho para uma construção mais sólida de diálogo e respeito mútuo. Crianças que conversam mais com os adultos tendem a ser mais seguras diante deles.
Conversar em casa é fundamental!
Diante desta última informação, não é de se estranhar que o desenvolvimento verbal tenha se apresentado mais avançado entre os filhos de pais assalariados – aqueles que conversam mais em casa.
Não que as crianças de casas com renda garantida tenham dificuldades verbais, mas, nesta amostra analisada, elas ficaram um pouco atrás do outro grupo tanto em evolução da fala quanto em repertório de vocabulário.
Hábitos falam mais alto do que dinheiro
Já quando o assunto é saúde física, os dois grupos praticamente se igualaram: não há uma diferença significativa de resultados entre as crianças dos dois tipos de famílias.
Boa ou má alimentação, atividades físicas regulares ou raras e cuidados gerais com a saúde apresentaram porcentagens semelhantes entre as famílias que têm segurança financeira e as que contam com seus pagamentos regulares para fazer frente aos boletos.