6 frases para não dizer ao seu filho quando ele estiver em um ataque de birra
Para acabar com o chororô, podemos acabar falando coisas que não serão bacanas para o desenvolvimento do pequeno. Veja formas mais positivas de lidar com a birra!
Você diz que está na hora de sair do banho, nega uma brincadeira no meio do expediente, não deixa o pequeno comer aquele docinho antes do almoço ou se recusa a contar a terceira historinha do dia antes de dormir. A lista de situações como estas que vivenciamos diariamente é enorme, mas em grande parte das vezes o resultado é o mesmo: a criança chora, esperneia e reage abrindo o maior berreiro.
Saber lidar com os comportamentos que aparecem na hora da birra não é uma tarefa fácil e não existe manual de instruções que funcione para todas as famílias. O que existe, porém, são algumas falas que usamos na tentativa de acalmar nossos filhos e que, mesmo que pareçam inocentes à primeira vista, podem gerar o efeito inverso e serem prejudiciais lá na frente.
Pensando nisso, conversamos com especialistas no cuidado infantil e separamos frases que você pode evitar quando seu filho estiver em um ataque de birra. Você já deve ter dito alguma delas – mas nunca é tarde para fazer diferente, né?
1. “Se você fizer isso de novo, vai ficar de castigo”
“Castigos e punições são artifícios que não tendem a ser nada pedagógicos ou educativos”, adianta Raul Spitz, psicólogo consultor pedagógico do LIV – Laboratório Inteligência de Vida. Embora ainda sejam muito utilizados pelos adultos, eles apenas colocam a criança em uma posição de que, se fizer novamente algo que os pais não gostaram, vai perder alguma coisa prazerosa.
“Não tem nada de elaborativo nisto”, conclui o o consultor pedagógico. Ele complementa dizendo que é importante que a criança crie recursos para saber o que fazer quando sentir raiva ou tristeza, e o castigo não contribui de forma alguma para este aprendizado. “Ele inibe e tira toda a possibilidade da criança de criar por conta própria novas soluções para lidar com seus próprios sentimentos”, afirma.
2.“Não foi nada”
Deslegitimar o que a criança está sentindo é algo muito comum e que os adultos não costumam fazer por mal. “Nós, pela angústia de não querermos ver o nosso filho com dor ou chorando, dizemos ‘não foi nada’, mas não podemos sentir pela criança”, explica Raul. Assumir essa postura acaba conduzindo os pais a uma direção oposta a do acolhimento – e pode levar o pequeno a ter pensamentos como “ele não me enxerga” ou “ele não se importa, porque eu estou sentindo isto e ele está dizendo que não”.
3. “Se comporte ou o bicho-papão vai te pegar”
Bicho-papão, homem do saco, monstros e outras criaturas… Quem nunca ouviu falar deles na infância? Embora seja um recurso efetivo para interromper a birra do pequeno, ele é pra lá de negativo quando pensamos no desenvolvimento da criança e nas marcas que ficarão em seu imaginário.
“Este tipo de fala acaba criando traumas e crenças que a criança pode levar para a vida adulta”, conta a pedagoga e Analista Comportamental Mariza Baumbach. “Temos que tomar cuidado com as palavras, porque há coisas que dizemos na infância e que ficam guardadas no inconsciente. Além disso, o adulto ao criar uma ameaça acaba limitando a personalidade da criança”, acrescenta.
Assim como o castigo, provocar medo no pequeno não dá possibilidades para que ele elabore e entenda o por quê sua atitude é prejudicial naquele contexto. “A ameaça não é recomendada. Ela simplesmente impõe uma pena e pode mexer com as fantasias da criança”, concorda Raul.
4. “Se você parar de gritar eu te dou um presente”
Chantagear e fazer promessas são jeitos prejudiciais de lidar com a situação, pois podem dar o entendimento para a criança de que tudo na vida é negociável, como indica o psicólogo. Além disso, o adulto se coloca no mesmo patamar da criança, quando deveria estar em uma posição de cuidado e suporte.
“É importante que eles sejam as pessoas que vão informar os limites, que expliquem que existem regras na casa, e que nem sempre elas são negociáveis”, ressalta Raul. “É preciso saber suportar a frustração da criança ao ficar chateada, porque se frustrar faz parte do processo de desenvolvimento”, diz.
5. “Amanhã a gente compra o brinquedo que você quer”
Se as promessas já não são interessantes por si só, rebater a birra dizendo algo que você não será capaz de cumprir é pior ainda. Como explica Mariza, falar que no dia seguinte comprarão tal coisa e não comprar ou então jurar que na semana que vem o filho poderá se encontrar com os avós – quando isto não é verdade – frustra a confiança da criança. “Em algum nível, a palavra do pai ou da mãe perde a relevância”, pontua.
6. “Não chore por besteira!”
Assim como o “não foi nada” deslegitima o sentimento da criança, o “não chore por isto” faz parecer que a reação do pequeno não é válida. Lembre-se que os pequenos não tem bagagem emocional para manipularem como os adultos. “Se é a forma que ele tem para extravasar, deixe que chore e deixe-o à vontade para sentir”, aconselha a pedagoga.
“Cada um reage de uma maneira e temos que dar vazão a estas questões. Precisamos ensiná-los a reconhecer os seus sentimentos, para que consigam entender o que os aborrece e consigam construir uma vida emocional saudável”, enfatiza ela.
Cuidado com o tom!
No momento da birra – e levando em conta todo o incômodo que ela é capaz de ocasionar – pode ser que os pais acabem extravasando na maneira como falam com os filhos. Nesta hora, a dica da analista do comportamento é respirar fundo e evitar levantar a voz. “Gritar apenas vai deixar a criança mais irritada e estimular que fique mais agitada e birrenta”, afirma ela.
“É muito comum misturarmos o que a criança faz com o que ela é”, diz Raul. “Isso é danoso, porque estamos confundindo como somos afetados com o que o filho está fazendo de fato”, completa. O especialista também alerta que é importante endereçar a nós mesmos o que estamos sentindo no momento para não acabar projetando na criança uma frustração ou desejo nosso.
Seu conselho é que a conversa aconteça em um tom firme, mas sem ser impositivo. Desta forma, os adultos tomam as rédeas da situação e mostram que estão prontos para ajudar, o que dá segurança e ao mesmo tempo fornece acolhimento.
Mas então o que fazer quando a birra vier?
Depois de tantas dicas do que não dizer durante a birra, fica o questionamento: afinal, o que podemos usar como estratégia quando o comportamento do nosso filho atinge o ápice?
- Distraia: O primeiro artifício que Mariza recomenda é chamar a atenção da criança para outros elementos do ambiente, mudando o foco da situação. “Se estiver na sacada de casa, por exemplo, mostre para seu filho como está o céu, dizendo ‘olha só o passarinho, olha o formato daquela nuvem’, afirma.
- Mude o discurso: Uma mudança que pode parecer singela, mas que faz toda a diferença, é tirar a palavra negativa de algumas frases. “Não adianta repetir o ‘não’. Temos que priorizar sempre um reforço mais positivo, dizendo o que queremos que a criança faça”, comenta a especialista.
- Nomeie os sentimentos: E olha só que interessante, apesar de lidar com a criança birrenta ser desconfortável, a situação tem lá o seu lado positivo, já que podemos aproveitá-la para ensinar o pequeno a nomear o que está sentindo. “Crianças sentem, só que de forma diferente. Por isso a importância do pai dar nome ao que está percebendo no comportamento da criança – como ‘estou vendo que você está ansioso ou que está com medo”, sugere Raul.
- Acolha: Muitas vezes a birra é causada por algo que a criança não sabe que está sentindo, por não ter uma sofisticação psíquica para entender. Ela apenas manifesta com seu corpo, e é nesta hora que os adultos podem adotar a postura de acolhimento, funcionando como anteparo para aquilo que a criança ainda não conhece.
- Estabeleça limites: Mas não é porque o seu filho ainda é novo que você não deve explicar para ele os motivos dos impedimentos (por que ele não pode comer a sobremesa antes das refeições ou por que está na hora de desligar a televisão, por exemplo). “É necessário começar a trabalhar os limites e exercitar o diálogo. Só assim as crianças conseguirão entender que existem razões para os seus comportamentos”, finaliza a pedagoga.