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Diálogos de uma Mãe Solo

Tainá Goulart (@tainagoulart) é jornalista, cantora, mãe solo do Francisco e filha da dona Laura, também mãe solo.

Educação financeira para mães solo: verdade ou mentira?

Com diversas realidades e orçamentos, a maternidade adiciona um novo papel, o de estrategista em finanças - o que vem para somar, dentro do possível!

Por Tainá Goulart
Atualizado em 26 jul 2023, 13h36 - Publicado em 23 jul 2023, 14h00
vista de cima de uma mesa: um computador aberto, uma xícara de chá, um caderno sobre o qual há um óculos e uma calculadora. As mãos de uma mulher encostam nos objetos
 (krisanapong detraphiphat/Getty Images)
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Tinha escrito duas páginas de texto para esta coluna, com o tema “Educação Financeira” e, então, mandei para algumas amigas avaliarem. A devolutiva? Eu estava escrevendo para mim mesma, sem dialogar com várias outras parcelas da maternidade solo e até com as mães que integram um núcleo familiar tradicional.

“Então, eu entendo seu ponto. Mas não acho que o problema das mães seja falta de Educação Financeira. É falta de dinheiro mesmo, de suporte. Não adianta ensinar uma pessoa a poupar, sendo que ela mal tem dinheiro para pagar as contas básicas”, pontuou uma delas, a Xuxu.

Na primeira versão, falei muito sobre a história da minha mãe com o dinheiro, sobre o fato dela ser administradora e ter me ensinado como lidar com as minhas finanças, sendo criada em um lar de classe média e com vários recursos. Mas era preciso estourar a minha bolha para olhar além, para fazer jus ao título de Jornalista e passar informação bem apurada. Tipo o filme da Barbie, sabe? Sair da Barbilândia e ir para o mundo real, para ver a realidade não tão perfeita assim. Então, para falar de um tema tão delicado dentro da vida de uma família, a pesquisa e os diálogos se tornaram meus parceiros.

fotos 3 por 4 de duas mulheres bem parecidas lado a lado
Tainá, década de 2010. Laura, década de 1970. Não só temos feições parecidas, mas também a maternidade solo. Desde que Francisco nasceu, ela finalmente saiu do discurso “Cresce, minha filha” e passou para o “Estou vendo mudanças, hein!” Uma hora vai, né? (Foto/Arquivo Pessoal)

A Educação Financeira funciona para todos: MENTIRA

“Como falar de dicas de Educação Financeira para as classes menos favorecidas ou para mulheres que estão tentando encontrar um emprego que pague um salário mínimo?”. Não posso deixar de fazer recortes sociais para abordar um assunto como esse. No Brasil, segundo recente pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a metade da população com os menores rendimentos recebeu, em média, R$ 537, uma alta de 18% em relação a 2021, quando o valor foi o menor da série histórica: R$ 455. Até o fechamento desta coluna, o preço de um pacote de fralda estava entre R$ 35 e R$ 200 (ou até mais). Um kit de três bodies infantis chega a uma média de R$ 100 ou R$ 120. A conta não fecha…

A educadora financeira Aline Soaper comenta que as despesas variam muito em relação ao estilo de vida da família, mas têm aumento considerável para todas elas. “Um estudo feito pelo Insper mostrou que os gastos com um filho até os 18 anos se transformou em uma missão milionária para a classe média no Brasil. Para as famílias que integram a classe C – aquelas com renda familiar mensal de R$ 5.281 até R$ 13,2 mil -, o gasto estimado varia entre R$ 480 mil e R$ 1,2 milhão. Na classe B (entre R$ 13.201 e R$ 26,4 mil de renda mensal), o gasto vai de R$ 1,2 milhão até R$ 2,4 milhões. Apesar desses números, é importante lembrar que cada família se adapta às condições financeiras existentes e algumas se endividam para conseguir suprir todas as necessidades dos filhos”, conta.

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E mãe se endivida por quê? Porque quer o melhor para seus filhos, ponto. No entanto, na maternidade solo, a carga financeira pesa mais ainda com esse tal de “melhor”, a saúde mental piora, e, muitas vezes, a pessoa se vê sozinha na hora de prover, de colocar dinheiro em casa. A rede de apoio pode até ajudar a resolver uma ou outra coisa, mas com o tempo esse auxílio pode acabar e deixá-la na mão.

A Educação Financeira passa de geração em geração: AINDA NÃO SEI

A forma como minha mãe, da geração Baby Boomer, aprendeu a se relacionar com o dinheiro e a se virar financeiramente quando eu nasci, lá em 1990, não funciona para mim, que sou Millennial. Ela se preocupou com a casa própria, com minha jornada escolar até a faculdade, em fazer uma boa poupança para viagens, emergências e luxos. Um ponto fora da curva dentro da maternidade, né?

Hoje, o dinheiro que eu ganho não vale nada e tenho muito mais preocupações com oscilações políticas, econômicas, trabalhistas e sanitárias. No Brasil, de acordo com uma pesquisa da Deloitte com a geração Z, nome dado às pessoas nascidas entre 1995 e 2003, e os millennials, os nascidos entre 1983 e 1994, o futuro financeiro de longo prazo (62% geração Z e 50% millennials), as finanças do dia a dia (57% da Z e 46% dos millennials), as preocupações com a saúde mental (53% e 47%, respectivamente) e o trabalho/carga de trabalho (35% e 26%) são os principais fatores que geram estresse e ansiedade.

Em casa, o salário cai, porém, preciso dar meus pulos para fechar o orçamento no azul, contando com a ajuda da dona Laura, mas sem conseguir fazer a poupança que ela fez. Aliás, voltei a dar aulas de Inglês, algo que sempre fiz quando precisava de dinheiro extra, especialmente na faculdade, para iniciar essa lição que minha mãe fez questão de passar para mim. Só que, ao analisar o recorte de gênero neste querido país, infelizmente, sou sortuda só pelo fato de saber um segundo idioma tão bem para ensiná-lo.

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duas mulheres lado a lado apontando para uma espécie de roleta com números
Para minha mãe, ter o “Pião da Casa Própria” é quase que uma obrigação. Para minha geração, os Millennials, ter casa própria virou artigo de luxo! (Foto/Arquivo Pessoal)

A Educação Financeira pode ser ensinada: VERDADE

Pensando no serviço que me propus a fazer com esta coluna às mães solo (e não solo também), é preciso encontrar novas e efetivas formas de fazer com que a Educação Financeira esteja mais perto da realidade das famílias e suas diferentes formações e contextos. Se os gastos aumentam desde antes da fecundação, para quem faz tratamento de fertilização, passando pelos exames e consultas de pré-natal, e sem a previsão de um momento final, entender as práticas de poupar e guardar são imprescindíveis.

Se puder, dentro da sua realidade, faça uma poupança, para começar, ou, como dona Laura me ensinou, programe a saída de uma quantia, nem que seja R$ 5, da conta corrente para a reserva ou para uma aplicação. Escreva no papel os gastos reais, sempre com uma margem para cima, para que, quando possível, haja um extra para imprevistos.

Procure por brechós e franquias de moda circular, para garimpar peças de roupas com preços melhores, e veja se há mães que possam passar para frente utensílios caros, como cadeirão para alimentação, carrinho de bebê e berço. No meu caso, pedi para as amigas mandarem sacolas de bodies, mijões, meias, independentemente do gênero, que vieram em tamanhos maiores do que havia feito o enxoval. Isso me ajudou muito, pois Francisco nasceu comprido, acima da média, e acabei não usando mais da metade das peças que havia comprado. Além disso, pesquisei muito o preço de itens do quartinho, já pensando no que eu poderia vender futuramente.

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Mais um papel dentro das centenas que já temos: o de estrategista. Porém posso garantir que esse é para o nosso bem! Vamos juntas?

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