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Aprender a Sentir, Aprender a Ser

Cecília Rocha, ou Ciça Rocha (@ceciliacicarocha), é psicóloga e arteterapeuta, autora do livro A Casa de Pedro, mãe do Heitor e do Henrique e madrasta do Enzo.
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O melhor presente para o Dia das Crianças: brincadeiras, leitura e filme

Ideias simples, mas que proporcionam conexão e inúmeras conversas e reflexões entre pais e seus filhos

Por Cecília Rocha
12 out 2023, 07h00

Ela tinha 12 anos quando chegou ao meu consultório. Vinha de outras profissionais psicólogas para as quais não expressava seus sentimentos, ficando inviável o trabalho terapêutico. A queixa era de uma anorexia severa que a levou à internação.

Depois de alguns meses de um trabalho cuidadoso e de muita conexão, a menina começou a falar e enfim relatar acontecimentos, emoções e sentimentos da sua vida. Em uma sessão em que falávamos sobre a emoção da tristeza, descreveu uma cena da sua infância, quando tinha aproximadamente seis anos (sim, a primeira infância sempre está no processo terapêutico, independentemente da idade do paciente que entra pela porta do consultório).

Ela contou, enfim emocionada, que brincava na festa do seu aniversário, quando as amigas resolveram que ela não podia mais brincar com elas. Então, a garota foi brincar sozinha e assim ficou, triste e se sentindo excluída e inadequada, até o final da comemoração.

Ela não disse para ninguém o que tinha acontecido e, quando questionei o porquê, falou: “Não tinha muita intimidade para falar essas coisas com meus pais”. Senti meu peito apertar e essa frase ficou gravada em mim por muito tempo. Eu conhecia seus pais das sessões familiares anteriores e sabia o quanto genuinamente se preocupavam com os sentimentos daquela menina. O que teria feito ela não se sentir à vontade para falar sobre seu mundo interior para aquela família? O que teria feito se formar um muro de falta de intimidade emocional entre eles? O que teria feito a distância ganhar da proximidade e da familiaridade?

criança de braços esticados segura um coração. Um adulto está com a mão embaixo da dela
(manusapon kasosod/Getty Images)

Vejo claramente, atendendo muitas famílias, que não fomos acostumados a falar das nossas emoções. Percebo que, muitas vezes, não sabemos nem por onde começar. Vejo que criamos abismos emocionais ao invés de pontes por pura falta de manejo, prática ou até por não sabermos da importância dessa conexão para a saúde mental nossa e dos nossos filhos.

Então, no Dia das Crianças, vou sugerir caminhos de encontro. Recursos que podemos usar para mostrar para nossos filhos que o mundo interno é importante e que sabemos e podemos falar sobre ele.

Espero que aos 12 anos tudo mude para essa menina e ela não precise mais não expressar e assim possa encontrar novos lugares dentro e fora dela mesma. Afinal, é Dia das Crianças. E já que o dia é delas, vamos ajudá-las a passar pela primeira infância de um lugar mais confiante, saudável e genuíno com elas mesmas. E isso necessariamente passa pelo olhar para as emoções e por aprendermos a nos relacionarmos com elas.

Aqui vão algumas sugestões de brincadeiras, leituras e filmes que podem auxiliar na construção dessa ponte e proporcionam inúmeras conversas, reflexões e abertura para novos jeitos de nos comunicarmos e de nos relacionarmos.

Livros

O Livro dos Sentimentos – Todd Parr (Editora Pandas Book)
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A Casa de Pedro – Ciça Rocha (Editora Literare)
Compre aqui!

Filme

Divertida Mente (2015) – Disney Pixar
Assista no Disney+!

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Brincadeiras lúdicas

Jogo de Mímica

A ideia é propiciar maior intimidade da criança com suas emoções através de cenas do dia a dia. Você pode fazer perguntas sobre como seu filho se sente em determinadas situações e ele vai encená-las. Por exemplo: “Seu melhor amigo vem te visitar, como você se sente?”

Desenhos

Os desenhos costumam ser bem aceitos pelas crianças e são recursos muito legais para explorarmos emoções e sentimentos. Sugestão: após ler um dos livros sugeridos ou assistir ao filme indicado, peça para a criança desenhar um momento que ela sentiu cada uma das emoções. E não se esqueça de conversar com ela sobre o assunto depois!

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Crianças desenhando
(Karolina Grabowska/Pexels)

Teatro de fantoches

Entrar no mundo da imaginação é entrar no mundo da criança. É falar a linguagem dela e se aproximar das suas emoções e sentimentos. Você pode usar os bonecos que tem em casa e preparar cenas e histórias, sempre enfatizando os sentimentos dos personagens. Pode ser divertido e revelador. Muitas vezes, as crianças projetam seus medos, angústias e necessidades nas brincadeiras desse tipo.

Jogo do espelho

Você pode utilizar o jogo do espelho para ajudar a criança a identificar e nomear emoções. Esse é um passo extremamente importante no processo da educação socioemocional. O jogo consiste na criança identificar e nomear as expressões faciais que você fizer, demonstrando raiva, medo ou alegria, por exemplo. Depois, vocês alternam os papéis.

Quando pensamos em presentear nossos filhos, logo vem à nossa mente presentes materiais. Mas não devemos nos esquecer dos maiores presentes que podemos dar para nossas crianças seguirem a vida mais fortes e confiantes: o investimento em autoconhecimento, os recursos emocionais e a intimidade com a natureza humana. Aposte neles! Esses são presentes impalpáveis, mas eternos e indispensáveis.

Feliz Dia das Crianças!

Converse com Ciça Rocha no @ceciliacicarocha

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