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Estudo brasileiro aponta relação entre amamentação e QI na vida adulta

Pesquisa gaúcha demonstra que pessoas que se alimentaram com leite materno por mais tempo têm QI mais alto e maiores níveis de escolaridade e renda.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 26 out 2016, 19h55 - Publicado em 20 mar 2015, 15h47

Não é novidade que o leite materno é o alimento mais completo que existe. Sabe-se que crianças que mamam exclusivamente no peito ao menos até os seis meses de vida – como o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – contam com uma série de benefícios, entre eles os ganhos cognitivos. Diversos estudos já mostraram que o aleitamento está ligado não só a uma melhor constituição do sistema nervoso central, mas também a um quoeficiente de inteligência (QI) mais alto na infância e na adolescência. Agora, uma pesquisa brasileira, divulgada em março de 2015 no respeitado periódico científico The Lancet, aponta que esse efeito se estende até a fase adulta e estaria relacionado, consequentemente, a um maior nível de escolaridade e renda.

Realizado por um time de cientistas da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e da Universidade Católica de Pelotas, ambas no Rio Grande do Sul, o trabalho tinha o objetivo inicial de analisar a mortalidade dos bebês nascidos na cidade gaúcha em 1982 e acabou acompanhando 3493 indivíduos, do nascimento até completarem 30 anos de idade. Esses voluntários foram divididos de acordo com o período de tempo em que receberam o leite materno e submetidos a testes de QI e questionários sobre a situação socioeconômica na qual se encontravam em 2012.

Os resultados foram surpreendentes: comparados aos participantes que mamaram durante menos de um mês, aqueles que consumiram o leite da mãe por um ano ou mais apresentavam não só um QI 4 pontos mais alto, como um nível de escolaridade 10% maior e de renda 33% mais elevado. Esse é o primeiro estudo a fazer essa associação. “Com isso, traduzimos o que significa, na prática, ter um ganho de QI, algo que outros trabalhos não haviam mostrado”, analisa um dos líderes da investigação, Bernardo Lessa Horta, professor da UFPel.

Diversos fatores podem explicar o elo entre aleitamento e desenvolvimento da inteligência. No entanto, de acordo com Horta, ainda não é possível responder o quanto a diferença de QI apontada na pesquisa diz respeito ao conteúdo nutricional do leite materno – que contribui para a formação do sistema nervoso graças à presença de ácidos graxos saturados de cadeia longa – ou aos estímulos que o bebê recebe durante a interação com a mãe enquanto mama. De qualquer forma, uma coisa é certa: os pequenos só têm a ganhar, a curto e a longo prazo, com a amamentação. 

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