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“De Peito Aberto”: documentário aborda as dores e delícias da amamentação

O longa chama atenção para muitos fatores que envolvem a amamentação, mas sempre trazendo uma visão humanitária e informativa.

Por Luísa Massa
Atualizado em 4 ago 2018, 09h30 - Publicado em 4 ago 2018, 09h30

A recomendação da Organização Mundial da Saúde é clara: amamentar exclusivamente por 6 meses e, passado esse período, iniciar a introdução alimentar e continuar com o aleitamento por 2 anos ou mais. A questão é que nem sempre temos dimensão de como isso acontece na prática. Essa é a ideia central do documentário “De Peito Aberto“, que aborda o assunto ao acompanhar a rotina de 6 mulheres da capital paulista, com a pré-estreia marcada para este sábado, 04, no espaço Unibes Cultural, em São Paulo.

Produzida pela Deusdará Filmes, a obra cinematográfica começa mostrando o parto das personagens e a primeira mamada de seus filhos. Depois, o longa passa a falar sobre as dores e as delícias da prática: a importância de uma rede de apoio, a influência que os palpites das pessoas têm sobre as mães, o período de adaptação e os desconfortos que podem surgir especialmente no início, a dificuldade de encontrar profissionais de saúde que ofereçam orientações eficientes, o desafio de voltar a trabalhar e continuar com a amamentação.

As filmagens sempre nos aproximam dos dilemas que as personagens estão experimentando pela primeira vez – talvez porque, em sua produção, traga o olhar de quem viveu isso na pele. Nos primeiros meses da filha Clara, hoje com 5 anos, a diretora Graziela Mantonaelli enfrentou muitas dificuldades com o aleitamento, o que acabou se tornando uma motivação para fazer um documentário sobre o tema. Segundo ela, o primeiro obstáculo que encarou foi ainda na maternidade, com a equipe de enfermagem.

“Eu vivia aquele caos e pensava: ‘como é que ninguém nunca fala sobre isso? Dessas dificuldades? Só mostram a coisa linda’ e eu lá, descabelada, às 10 horas da noite, sem ter conseguido escovar os dentes”, comenta. Ela ainda conta que tudo correu bem na primeira semana com a pequena em casa, mas, depois, as coisas não saíram como esperado. “Chegou um ponto em que eu achei que não tinha mais leite e estava com um pediatra que achava que era ideal, mas percebi que ele não entendia nada de aleitamento”, ressalta.

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Essa é outra discussão que o longa traz: o papel do médico que acompanha a criança e a influência que grandes marcas da indústria têm sobre esses profissionais desde as suas formações. E quem participa de tais debates e reforça a importância da amamentação para a saúde da mãe e do bebê é um time de especialistas – entre eles, o renomado pediatra catalão Carlos Gonzalez e a psicopedagoga argentina Laura Gutman.

Além disso, o documentário também se propõe a abordar fatores históricos ao analisar o desmame precoce das crianças que, no Brasil, é marcado pelas amas de leite – mulheres negras escravizadas que amamentavam os filhos de mulheres brancas. Isso envolve fatores que estão em pauta atualmente como a amamentação cruzada, prática que não é recomendada pelos órgãos públicos desde 1993, pelo risco de transmitir infecções e doenças pelo leite materno.

O longa chama atenção para muitos fatores que envolvem a amamentação, mas sempre trazendo uma visão humanitária e informativa. Apesar de contar histórias de mulheres de diferentes realidades econômicas e culturais, ele deixa a pluralidade de lado quando contempla somente aquelas que passaram por partos vaginais – deixando de lado as que fizeram cesáreas e amamentam seus filhos. E também não há o caso de uma mãe que tentou de tudo, mas não conseguiu amamentar. A obra mostra grandes dificuldades que uma delas teve, mas, no final, o resultado é satisfatório.

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“Acho que a principal mensagem que o documentário tenta passar é que a amamentação está diretamente ligada na posição da mulher dentro da sociedade. Enquanto a gente não tiver igualdade e valorização, o aleitamento não vai deslanchar porque todo mundo precisa entender que aquela mulher que está amamentando. O fato dela escolher amamentar, porque é uma escolha, é um ato cidadão. Ela está sendo uma pessoa que está olhando para a sociedade”, finaliza a diretora.

Assista ao teaser:

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