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“Amamentar e trabalhar fora: eu consegui!”

Confira o depoimento de uma mãe que continuou amamentando o seu filho mesmo depois do fim da licença-maternidade.

Por Luísa Massa
Atualizado em 20 jul 2017, 20h33 - Publicado em 3 ago 2015, 07h51

Egle Cuzziol, 33 anos, é mãe do Mateus, de 1 ano e 3 meses, consultora comercial e idealizadora do Instagram Mãe Que Trabalha Fora. Aqui, ela conta como conseguiu continuar amamentando o seu filho mesmo depois de retornar à rotina de trabalho.

“Quando engravidei, mergulhei fundo no mundo da maternidade: pesquisei, me informei e estudei assuntos diversos. O aleitamento materno era um dos que mais chamava a minha atenção. Dificilmente eu encontrava por aí pessoas que compartilhavam o seu relato com as outras sobre como era amamentar um bebê por no mínimo seis meses ou mesmo como ficava essa questão com a volta ao trabalho. Por isso, desde que o meu filho estava na minha barriga, abracei essa ideia com força. Eu estava determinada a fazer o que estivesse ao meu alcance para amamentá-lo o máximo de tempo possível.

Apesar de viver em uma sociedade em que muitas pessoas não incentivam a amamentação, eu estava disposta a tentar. Muitas vezes ouvi que com o leite materno a criança pode passar fome, que apenas este alimento não a sustenta. Acho que esses palpites fazem muitas mães desistirem de ter essa experiência com os filhos desde o começo. Não vou mentir, nem tudo são flores: amamentar cansa, exige dedicação exclusiva e requer suporte de outras pessoas que nem sempre estão dispostas a ajudar, mas vale muito a pena!

Quando saí da maternidade com o pequeno no colo, eu sabia que muitas batalhas viriam. A primeira delas foi voltar para a casa e amamentar o meu filho sem a ajuda das enfermeiras do hospital. Minha mãe já faleceu e a minha irmã mora em outro Estado, então, me vi sozinha cuidando de um bebê que mamava de uma em uma hora. Confesso que o cansaço bateu em vários momentos, mas eu contei com a ajuda de uma pediatra incrível, que desde o início ouviu os meus questionamentos e me acalmou. Os meses foram passando e, apesar de exausta, eu sabia que deveria insistir na amamentação.

A sensação de ter cumprido um dever que a natureza tinha me proporcionado enchia o meu coração de alegria. Outro fator que me motivava era perceber que o Mateus ganhava peso e crescia com muita saúde. Foi muito importante receber ajuda do meu marido e também dos grupos de apoio que encontrei na Internet. Dessa forma, o pequeno foi alimentado exclusivamente com o leite materno até os seis meses de vida – justamente na mesma época em que iniciamos a sua adaptação no berçário, pois quando ele completasse sete meses, eu voltaria a trabalhar. Mas, desde então, eu fiquei pensando: como ficaria a questão da amamentação?

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Tentamos – de todas as formas – oferecer o meu leite na mamadeira, mas ele não se adaptou. Além disso, no processo de introdução alimentar, Mateus também recusava todas as comidinhas que dávamos. Tudo isso me deixava ainda mais angustiada com a volta ao trabalho e, inúmeras vezes, me perguntei se valia a pena enfrentar todos esses desafios, “sacrificar” o meu bebê. Depois de pensar muito, deixei que a adaptação escolar respondesse essa questão. No berçário, Mateus aprendeu a comer e tomava o leite materno de colher (essa foi a única maneira que ele aceitou!). Mesmo trabalhando, eu decidi que não iria desmamar.

Nesse momento, a decisão de optar por uma boa escola – que me transmitia confiança e respeitava as minhas escolhas – fez toda a diferença. No começo, eu tinha estoque de leite guardado para alimentá-lo no berçário por um mês. No período de adaptação, eu também voltava para casa em alguns momentos para extrair o leite. Assim, consegui estocar quantidade suficiente para mais um mês. Quando efetivamente voltei a trabalhar, deixei o Mateus chorando na escola e fui enfrentar o que eu vivia antes de ser mãe. Posso dizer que não foi nada fácil e, na verdade, não é até hoje. Apesar da dor, comecei a me enxergar novamente como uma profissional, que conversa sobre diversos assuntos com os colegas de trabalho… Fazer parte do mundo que eu estava acostumada novamente me fazia bem.

Então, adotamos a seguinte rotina: Mateus mamava antes de sair de casa, na escolinha ele se alimentava e quando retornávamos no fim do dia, voltávamos para a livre demanda – ele mamava quando queria. Para manter o leite materno da escola, comecei a ir trabalhar com o meu kit: uma bomba de extrair leite, potinhos esterilizados e bolsa térmica. Infelizmente, encontrei outro desafio nesse momento. Descobri que a maioria das empresas não está preparada para apoiar o aleitamento materno. Não há nem espaços dignos para a extração e armazenamento do leite, por isso, eu sempre me virei como pude: com a ajuda das minhas amigas, cada dia fazia a extração em uma sala diferente e guardava o alimento do meu filho no freezer de uma antiga geladeira improvisada. E acreditem: eu trabalho em uma multinacional incrível, mas que como muitas outras, não se atenta a oferecer esse benefício as suas funcionárias.

Além da amamentação, eu também ficava angustiada com a possibilidade do meu filho adoecer, pois pelas leis dos direitos trabalhistas, o atestado médico do menor não vale para os pais. É claro que esse dia chegou, afinal, querendo ou não, essa é a realidade das crianças que vão cedo para o berçário: elas ficam muito doentes. Com o Mateus não foi diferente e ele chegou a ficar internado quando tinha nove meses. Obviamente, eu faltei do trabalho e todos esses dias de ausência foram descontados do meu salário. Para lei e para a grande parte das empresas, faltar porque está cuidando do filho doente não é uma justificativa válida. Essa é a realidade de uma mãe que trabalha fora no Brasil.

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Eu comecei a enfrentar três jornadas de trabalho. Durante o dia, no escritório. De noite, cuidando da administração da casa e dando atenção ao Mateus. Na madrugada, acordado para amamentá-lo até seis vezes na noite. Mesmo com o apoio que eu sempre tive do meu marido, essa é uma rotina exaustiva. Cheguei a ter pneumonia duas vezes em um mês, fiquei 6 quilos abaixo do meu peso ideal, perdi muitos cabelos e ainda assim, enfrentei preconceito e muitos olhares de reprovação de pessoas que achavam que eu estava fazendo tudo isso desnecessariamente, já que para eles, oferecer leite artificial para o meu filho era muito mais adequado. Eu pensei em desistir inúmeras vezes, mas a minha determinação sempre falou mais alto.

Com o tempo, tudo se ajeitou e eu percebi que com amor e dedicação é possível viver a maternidade sem abandonar a carreira. Eu tenho em mente que todo o tempo que posso estar com o meu filho é de qualidade, também vejo que ele é uma criança feliz e acho que parte dessa felicidade vem do fato de que ele tem uma mãe realizada. Acho que nós, mães que trabalhamos fora, temos que nos policiar para não mimarmos demais, não sermos muito permissivas, não usarmos o consumismo como forma de compensar nossa ausência – para isso, só existe um remédio: presença.

Apesar de todos os dilemas que enfrentei, minha opção foi continuar trabalhando. Me dediquei muito, estudei e lutei para poder ter uma condição de vida melhor e para ter uma realização pessoal. Por mais que eu ame a maternidade, eu também gosto de trabalhar e me sinto realizada nesses dois aspectos da minha vida. Valeu muito a pena ter me dedicado dessa forma à amamentação. Eu criei fortes laços com o meu filho e construí grandes memórias. Sempre me lembrarei de cada olhar de agradecimento dele, da sua mãozinha segurando a minha blusa ou mão, de ele adormecendo nos meus braços em segurança. Eu faria tudo novamente por isso e por todos os benefícios nutricionais que o leite materno proporciona.”

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