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Seu bebê entende tudo!

Pesquisas indicam que, desde muito novas, as crianças têm uma compreensão da realidade mais apurada do que imaginamos. Descubra do que elas são capazes!

Por Thais Szegö (colaboradora)
Atualizado em 30 mar 2017, 13h40 - Publicado em 14 Maio 2015, 21h16

Quantas vezes você já se pegou perguntando o que passa pela cabecinha do seu filho? Bem-vinda a um clube que não é exclusivo de mães. Também cientistas, pedagogos e outros especialistas em desenvolvimento infantil se colocam essa questão e, a cada ano, somam descobertas surpreendentes para quem tende a achar que o bebê vive em um mundo próprio, alheio ao que se passa ao redor. Essas pesquisas desvendam a mente maravilhosa das crianças e dão pistas valiosas para você entender e estimular seu pequeno.

Até 3 meses
Desde os primeiros dias, o bebê presta atenção em palavras e padrões de frases. Mesmo sem compreender o que é dito, em pouco tempo consegue captar o sentido de uma mensagem pelas entonações e expressões faciais que a acompanham. “E logo estará respondendo a elas com uma comunicação não-verbal, que se estabelece por sorrisos e olhares quando os pais se aproximam, ou diante de um estímulo, como uma música”, explica o neuropediatra Mauro Muszkat, da Universidade Federal de São Paulo.

No primeiro mês, seu filho já reconhece as pessoas da família e reage às gracinhas. Entre o segundo e o terceiro, desenvolve um tipo de choro para cada situação e está bem consciente da importância da mãe para seu bem-estar – por isso, põe a boca no mundo quando fica só. A linguagem se desenvolve com rapidez e, no final desse trimestre, ele começa a emitir os primeiros sons, dando início a uma forma rudimentar de diálogo.O fato de não falar não significa que a criança não entenda boa parte do que dizemos. “E está mais do que provado que conversar com o bebê favorece o desenvolvimento intelectual e emocional”, diz Célia Terra, professora de psicoterapia infantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

O primeiro benefício é a estimulação da própria fala e, intuitivamente, as mães são boas nisso, como mostra um estudo da Universidadede Carnegie Mellon, nos Estados Unidos. Segundo os pesquisadores, nossa mania de exagerar na entonação e esticar as vogais ao falar com o pequeno ajuda-o a perceber as variações de sons e a separação entre as palavras. “Além de investir na clareza da pronúncia, outro bom estímulo é nomear ações, partes do corpo e objetos, apresentando-os de forma simples à criança desde os primeiros meses de vida”, ensina a pedagoga Gabriela Felício, professora de educação infantildo Colégio Visconde de Porto Seguro, em SãoPaulo. Vamos lá, mãe: “Bo-la…”

De 3 a 6 meses
Seu pequeno está muito mais observador no início desse trimestre e ensaia as primeiras tentativas de imitar as pessoas ao redor. Ele também expressa melhor as emoções e dá um salto na capacidade de compreensão. “É hora de, suavemente, começar a impor alguns limites, dizendo ‘não’ sempre que necessário”, afirma Andrea Patapoff Dal Coleto, doutoranda de psicologia educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas. Diferenciar êxitos e fracassos é outro avanço importante no período. “A mãe deve ficar atenta e aproveitar todas as oportunidades de elogiar, quando o filho se supera”, aconselha Andrea.

Na linguagem, também há o que comemorar. Com 4 meses, seu filho identifica o próprio nome e entende quando é chamado. E, aos 5, reconhece as vozes das pessoas próximas. É o momento em que ele começa a notar a presença de estranhos e, dependendo do seu temperamento, pode até ficar com medo. Ligadíssimo no tom da voz dos adultos, muitas vezes chora se percebe que alguém fala com ele de maneira dura. É preciso cuidado para não magoar seus sentimentos.

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Mas, não é só no campo da linguagem que a turminha surpreende. Também a matemática está no radar dos pequenos dessa idade. Um trabalho realizado no Departamento de Psicologia da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, revelou que, pelo quinto mês, os bebês têm noção de quantidade. Para chegar a essa conclusão,os pequisadores usaram um teatro de fantoches. E, de vez em quando, tiravam dois bonecos de cena. A cada mudança, a plateia mirim reagia como se houvesse algo errado e redobrava a atenção no espetáculo.

Outra investigação – feita por uma equipe da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos – comprovou que os bebês também conhecem algumas leis básicas da física. Prova disso é que demonstraram estranheza ao ver uma caixinha se deslocar no ar, sem apoio, em vez de cair, e ficaram intrigados com um objeto que desaparecia em um lugar e reaparecia em outro, sem movimentos de transição. Na interpretação dos cientistas, é essa noção que ajuda a criançada a calibrar os movimentos, evitando muitas quedas e colisões.

De 6 a 12 meses
É nessa fase que surge uma compreensão dos sentimentos alheios. Por pura empatia, seu filho pode derramar lágrimas ao ver outro bebê chorando ou tentar consolar, à sua maneira, alguém que esteja triste. Ao que tudo indica, ele possui, também, um senso de justiça. As evidências vêm de um estudo da Universidade de Yale. Nele, os pesquisadores colocaram crianças de 9 meses diante de uma série de desenhos animados, nos quais um personagem sempre passava a perna no outro. No final, elas deviam escolher o boneco de um dos dois para brincar. Resultado: nenhum dos bebês do grupo quis ficar com o malvado da história.

Entre 8 e 10 meses, seu filho pronuncia monossílabos,como “mã” e “pá”, reconhece a própria imagem no espelho e compreende o significado de alguns gestos, que tenta repetir, como bater palmas para sinalizar contentamento, balançar a cabeça quando não quer alguma coisa e dar tchau. Em outras palavras: ele está antenado em tudo que os pais fazem e tentará copiar as atitudes que presencia. Por isso, fique alerta aos exemplos que fornece e seja coerente ao impor limites. Apesar de tantos avanços, não pense que, de agora em diante, bastará explicar as coisas verbalmente. “Se a criança pega o controle remoto, a melhor medida é tirá-lo das mãos dela com gentileza e guardá-lo em um lugar mais alto, enquanto diz que aquilo não é brinquedo. E não vale voltar atrás dali a alguns dias, caso o incidente se repita”, ensina Andrea.

De 1 a 2 anos
Eles já têm senso de humor e se divertem com caretas e imitações. Por volta de 1 ano e meio, pronunciam algumas palavras completas, começam a criar frases curtas e referem-se a si mesmos na terceira pessoa – chamam-se de “o bebê” ou “o João”. Seu filho também já entende o significado de expressões relativas ao espaço físico – como “em cima” e“embaixo” –, além ter algumas noções de causa e efeito, como saber de antemão que, caso vire o copinho com o suco, o líquido irá se derramar e poderá molhá-lo.

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Com uma capacidade de concentração mais apurada,consegue acompanhar histórias curtas. Então, se ainda não o fez, aproveite para apresentá-lo aos primeiros livros, cultivando desde já o prazer da leitura. Prepare-se, também, para lidar com algumas teimosias. Nessa idade, a criança tem bastante vontade própria e demonstra seus sentimentos com mais força. Mas, isso não precisa se transformar em sinônimo de confronto.O segredo é combinar a negativa com possibilidades de escolha. Então, se ele pegou um livro para brincar, negocie: “Este livro é da mamãe, mas você pode ficar com um desses dois, que são seus”.

Por em prática seus talentos diplomáticos vale a pena. “Oferecer as escolhas certas é uma forma de colocar limites e um incentivo à autonomia, à medida que estimula o bebê a tomar as primeiras decisões”, diz Andrea. O senso de justiça e a empatia, característicos de fases anteriores, continuam sendo aprimorados nessa etapa, garantem os cientistas. E uma pesquisa realizada na Universidade de Washington, nos Estados Unidos, com 50 bebês de 15 meses, não deixa dúvidas sobre isso: todos os pequenos se mostraram indignados com uma divisão desigual de guloseimas!

Outro experimento, levado a cabo pelo Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, por sua vez, constatou que crianças de 18 meses entendem quando alguém precisa de ajuda. A prova? Gentilmente, elas tentaram puxar a porta para um adulto que estava com as mãos ocupadas e não conseguia abri-la. E você ainda duvida que seu fofo sabe das coisas?

Ops! Cuidado com o que diz
Seu bebê é muito esperto, mas nem por isso entende figuras de linguagem e outras sutilezas. Portanto, ainda que esteja nervosa na hora de uma bronca, policie-se para não dizer coisas como: “Você só me dá dor de cabeça” ou “ Você só faz isso para me irritar”. “Esse tipo de acusação leva a criança a se sentir culpada e, com o tempo, pode abalar a autoestima dela”, alerta a psicoterapeuta infantil Célia Terra, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Outro cuidado importante é nunca negar os sentimentos e as percepções do filho. “Se ele cair e chorar, em vez de dizer que não foi nada, diga que sabe que doeu e que vai ajudá-lo a se sentir melhor, lavando o machucado ou fazendo uma massagem”, ensina Andrea Patapoff Dal Coleto,doutoranda de psicologia educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.

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