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Febre, cólica e dor em bebês

Cedo ou tarde, todo bebê acaba apresentando um probleminha desses. Saiba o que fazer para não entrar em desespero e contornar a situação.

Por Thais Szegö (colaboradora)
Atualizado em 27 out 2016, 19h00 - Publicado em 26 Maio 2015, 13h25

Ver o filhote doente deixa qualquer mãe de coração partido. Na primeira vez em que isso acontece, é difícil saber quem sofre mais. Pior ainda quando já é noite e aquela linha direta com o pediatra que toda mãe estreante ambiciona é apenas um sonho. Aconteceu com a artista plástica Andressa Chiecci, 34 anos, do Rio de Janeiro, mãe de Eduardo, hoje com 2 anos. “Ele estava com 1 mês quando teve a primeira febre. Chorava sem parar, e eu ficava me torturando com a ideia de que não sabia lidar com meu filho. Até que, de madrugada, apelei para minha mãe. Na hora, ela matou a charada”, lembra Andressa. O primeiro passo foi descobrir a causa do choro. Na prática: pôr o termômetro, ver se havia assaduras, lembrar se o bebê tinha feito xixi e coco do jeito habitual, observar se estava prostrado. Funcionou, claro. “Fizemos a temperatura baixar, e ele se acalmou e dormiu”, conta ela.
 
Não que seja fácil manter a calma. Só que, se você perder as estribeiras, piora. O bebê vai captar sua aflição e o clima de desespero da casa e ficará emocionalmente desorganizado, chorando ainda mais. Aí, cria-se uma espiral que, conforme as horas avançam, pode beirar o pânico. “Para que a situação não chegue a esse ponto, a mãe deve reconhecer que precisa de ajuda e procurar o apoio da família ou do pediatra sem constrangimentos”, ensina a psicóloga Miriam Barros, de São Paulo.
 
Na pista da doença
Ser rápida no gatilho evita também que você se surpreenda, de madrugada, sem ter a quem apelar. Se o bebê está amamentado, de fralda limpa, com roupa adequada à temperatura e não se acalma nem no colo, há motivo para achar que algo vai mal. “Dor de ouvido, cólica, febre… A lista de doenças e sintomas que pode afligir a criança é enorme, e cada situação precisa ser avaliada com cuidado”, diz a pediatra Maria Cristina Senna Duarte, da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro. Confie na sua intuição e fique atenta às pistas que ajudam no diagnóstico.
 
Cólica
“O bebê chora de maneira intermitente, fica com a barriga inchada e o rosto vermelho”, explica a pediatra Renata Waksman, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Ele também pode soltar gases, se contorcer e flexionar as pernas em direção ao abdome. É um problema frequente no início da vida: acomete três em cada quatro bebês nos três primeiros meses. Para diminuir o sofrimento do pequeno, faça uma massagem suave na barriguinha dele, de cima para baixo ou no sentido anti-horário. Aquecer o local com uma fralda morna ou uma bolsa de água quente também ajuda. “Outra estratégia é deitar o bebê de bruços, apoiado na barriga ou no antebraço da mãe”, ensina Renata.
 
Dor de ouvido
A criança chora sem parar, mexe muito a cabeça, leva os braços em direção às orelhas e, muitas vezes, recusa a mamada. A otite, que é a inflamação do ouvido, costuma provocar febre, pode ter múltiplas causas e é mais frequente entre os 3 meses e os 3 anos. “Pressionar a área externa do ouvido para verificar se dói não faz sentido, porque a dor local não é necessariamente sintoma de otite”, diz Renata. “Durante a crise, colocar uma fralda aquecida sobre a região reduz a dor e proporciona aconchego. Aplicar uma solução fisiológica no nariz e deixar o bebê com a cabeça elevada também ameniza o desconforto”, aconselha a médica.
 
Febre
As mães se apavoram com a elevação da temperatura, mas não há motivo. Temperaturas superiores a 37,5 ºC indicam que o organismo iniciou um processo de defesa contra alguma agressão externa. Os sinais variam de um bebê para outro: corpo quente, palidez ou rubor excessivo e prostração são os mais frequentes. Para tirar a dúvida, use o termômetro – não confie apenas na sua sensação ao tocá-lo. Se de fato o pequeno estiver com febre, dê um antitérmico, sempre seguindo a orientação do pediatra e respeitando os intervalos que ele recomendou. Nada de repetir a dose antes da hora, pois há o risco de hipotermia.“Tire a temperatura novamente depois de seis horas, que é o período médio de ação da maioria dos medicamentos”, explica o pediatra Sylvio Renan Monteiro de Barros, autor do livro Seu Bebê em Perguntas e Respostas (MG Editores). Para acelerar o resultado, tente um banho morno, com água dois graus abaixo da temperatura do bebê. Esfregar delicadamente a pele da criança com uma esponja umedecida também ajuda a dispersar o calor. Evite agasalhar excessivamente o pequeno, ofereça líquido em abundância e areje o ambiente. As convulsões, grande medo das mães, na maioria das vezes acontece no primeiro pico de temperatura, quando o organismo ainda não aprendeu a lidar com a temperatura alta.
 
Vômito
É diferente da regurgitação, normal em recém-nascidos. A regurgitação acontece logo depois da mamada e se caracteriza pelo retorno de uma pequena quantidade de leite. O vômito pode ocorrer muito tempo depois, ser ou não em jorro, e exige esforço da criança. Suas causas variam: infecções na garganta, problemas gástricos, lesões internas, movimentos bruscos e fatores emocionais são algumas possibilidades que devem ser investigadas pelo médico. Enquanto não fala com ele, mantenha o bebê hidratado, dando pequenas doses de líquido a cada 15 minutos para não provocar nova crise.
 
Atenção especial
Identificar a causa do desconforto não garante que os problemas acabaram. Dar remédio ao bebê é outro capítulo desse drama. Você pode descobrir que seu pequeno tem uma força de vontade fenomenal para manter os lábios cerrados ou cuspir a dose a alturas inimagináveis. “Facilita se a mãe sentar a criança no colo, semi-inclinada, e oferecer a medicação em pequenas porções, introduzindo a colher no canto da boca”, diz Maria Cristina. Se mesmo assim ela cuspir boa parte do medicamento, repita a dose toda.
 
Para Sylvio Renan, lançar mão da chupeta dosadora também é um bom recurso. É importante que a mãe jamais derrame ou pingue o medicamento diretamente do frasco na boca da criança. “É fácil errar a dose, e a maioria dos remédios fica mais palatável se for diluída em uma quantidade igual de água”, diz ele. O pediatra também recomenda o uso de supositórios sempre que possível. “Eles são eficientes e há a certeza de que serão absorvidos”, afirma. A colocação é fácil: basta deitar o bebê de bruços, afastar suas nádegas e introduzir a cápsula. Em seguida, pressione uma nádega contra a outra várias vezes para garantir que o medicamento chegue mais facilmente ao ponto onde será absorvido.
 
Outro cuidado essencial é não medicar o bebê por conta própria, especialmente se for recém-nascido. Tudo bem pedir um socorro à avó ou a uma amiga para identificar o problema e lançar mão de paliativos (como um banho ou uma massagem suave) enquanto não fala com o pediatra. Mas não use remédio sem a recomendação dele – nem os naturais. “Apelar para soluções alternativas é perigoso, tanto pelo risco de piorar o quadro quanto de mascarar sintomas, prejudicando o diagnóstico”, alerta Renata.
 
Pronto-socorro ou pediatra?
O ideal é sempre procurar primeiro o pediatra. E não fique constrangida em ligar se o bebê apresentar forte desconforto. Mesmo que já tenha falado com o médico, caso perceba um agravamento, tenha dúvidas em relação à normalidade de uma reação ou se sinta insegura sobre os cuidados que ele recomendou, ligue. “Os pediatras estão acostumados a atender chamadas a qualquer hora do dia ou da noite”, afirma Renata. São os ossos do ofício, e você merece contar com um profissional que não a deixe na mão na hora do sufoco. É preferível pedir primeiro a opinião dele do que recorrer a um pronto-socorro diante de um problema simples. “Na maioria das vezes, é possível resolver a situação com uma orientação telefônica e marcar uma consulta para o dia seguinte”, diz Maria Cristina. Assim, evitam-se idas desnecessárias ao pronto-socorro, onde sempre há risco maior de contaminação.
 
Em alguns casos, porém, o hospital é indispensável. “Se a temperatura sofre uma variação muito grande, se o bebê está prostrado, geme, tem manchas pelo corpo ou parece excessivamente sonolento, não dá para esperar. Tem que correr para o pronto-socorro”, diz Renata. Com a assistência necessária, você fica mais calma e seu filho se recupera rapidinho.