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“Perdi dois bebês e adotei um recém-nascido”

Essa mãe sempre cogitou a adoção e, após sofrer dois abortos espontâneos - um no início e outro na reta final da gestação - realizou o sonho da maternidade.

Por Laís Barros Martins
19 jun 2017, 17h08

A mamãe Aline Della Testa, de 35 anos, compartilha seu percurso de dor após duas gestações interrompidas por conta da trombofilia e relata como o Matheus, que hoje tem 11 meses, chegou à sua vida por meio da adoção. Confira:

“Sonhei muito com o dia em que me tornaria mãe. Eu me casei aos 21 anos, mas só aos 29 comecei a tentar engravidar. Depois de um ano sem sucesso, falei com o meu marido sobre o meu desejo de adotar. Ele pediu um tempo para pensar e seis meses depois entramos na fila da adoção.

Fizemos então a inscrição, participamos do curso para adotantes, fomos atendidos pela psicóloga da Vara de Infância e recebemos em nossa casa a visita da assistente social. Depois de um ano, o juiz expediu a autorização que nos tornava aptos a adotar.

Nesse meio tempo, eu engravidei. Mas eu nunca desisti da adoção. Eu pensava que teria a Ana Luísa e, depois de algum tempo, eu receberia a ligação para buscar meu segundo filho. Só que não foi isso que aconteceu. Estava com 32 semanas de gestação e tudo ia muito bem, até que num domingo eu achei que minha bebê estava muito quietinha. Fui ao pronto socorro e recebi a pior notícia da minha vida: a Ana Luísa havia morrido. Foi o período mais triste que vivi!

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Seis meses depois, engravidei novamente. Mais uma vez sonhei em ter um bebê e, dali a algum tempo, adotar meu segundo filho. Mais uma vez tive de enfrentar a perda, dessa vez mais precoce, com 12 semanas de gestação. A primeira perda me deixou arrasada, mas a segunda me deixou imensamente revoltada. Foi uma época muito difícil. Quando olho pra trás, parece que foram meses em preto e branco, sem nenhuma cor.

Comecei então uma investigação para entender o que havia acontecido. Os médicos chegaram ao diagnóstico: trombofilia. Eu poderia, no entanto, tentar engravidar novamente, com a ajuda de anticoagulantes. Retomamos os planos, mas confesso que meu coração dizia que eu seria uma mamãe muito feliz de um bebê adotivo.

Quando fizemos nossa inscrição para a adoção, optamos por uma criança de até dois anos, porque queríamos viver o máximo de fases da vida desse bebê e, por isso, torcia por um recém-nascido. Eu pensava no bebê que estava por vir e enviava amor a ele. Acredito que ele sentiria o meu amor onde estivesse e, no dia certo, estabelecido por Deus, nós iríamos nos encontrar.

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De vez em quando, eu dava uma passadinha na Vara de Infância. Esperava que me dessem uma boa notícia, dizendo que a fila havia andado muito, que minha vez estava chegando, mas a fila continuava grande. Foram três anos e meio de espera.

Um dia me bateu um vazio muito grande dentro do peito, uma tristeza já descrita como a ‘dor dos braços vazios’. Saí e comprei um brinquedo e uma roupinha de bebê. Eu não sabia, mas naquele dia meu bebê já estava sendo gerado no ventre de sua genitora.

Era um dia comum e minha vida estava prestes a mudar. O telefone tocou. Uma funcionária da Vara de Infância me disse que meu bebê havia nascido: um menino. Eu desabei! Sentei no chão, chorei, agradeci a ela em meio às lágrimas. As lágrimas eram de felicidade, de muita felicidade.

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Liguei para o meu marido e nos encontramos na Vara de Infância. Ainda não pudemos levá-lo pra casa, porque o juiz ainda não havia autorizado. Então fomos fazer o enxoval dele. Em um único dia compramos tudo. Foi muito especial. Naquela noite eu não dormi, passei em claro imaginando o rostinho dele, como seria pegá-lo nos braços e trazê-lo para casa no dia seguinte.

No horário marcado voltamos lá. Aguardamos algumas horas até que o juiz assinasse a autorização e, então, o momento mais esperado chegou. Fomos buscá-lo. Quando eu olhei para aquele rostinho, dentro de mim aconteceu um misto de sentimentos, uma avalanche de amor, ternura, cuidado e vínculo. Ele era nosso filho e nós éramos os pais dele.

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De alguma forma, eu acredito que todo amor que eu senti enquanto sonhava em tê-lo nos braços chegou até ele mesmo antes de nos encontrarmos e aquele momento foi só nosso primeiro encontro físico. O amor que nos envolve já nos impregnava desde sempre.

Após a chegada do Matheus, nossas vidas mudaram completamente. Ele é um bebê maravilhoso, risonho e carinhoso, que enche as nossas vidas de alegria. Eu sabia que a maternidade mudaria nossa rotina, mas não imaginava o tamanho do impacto, embora seja natural, espontâneo e delicioso.

Antes de ser mãe, eu pensava em ter dois ou três filhos. Após o nascimento do Matheus, mudamos de ideia. Poderíamos tentar engravidar apesar da trombofilia ou entrar novamente na fila para adoção, pois já estamos habilitados. Mas estamos tão realizados como pais e o Matheus nos completa totalmente.

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Penso em contar para o Matheus sobre a adoção com carinho e naturalidade. Não tenho a menor intenção de esconder sua origem porque essa é a nossa história e é bonita do jeito que é. Eu desconheço os motivos que levaram a mãe biológica do Matheus a decidir por entregá-lo, mas graças a ela eu pude realizar meu maior sonho. Então, eu oro por ela, sou grata pela vida desta mulher que gerou o meu filho.

Cada dia de sonho, ansiedade e lágrimas valeu a pena. O dia da felicidade enfim chega”.

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