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A mãe que eu achava que seria e a mãe que eu acho que sou

Depois que se tornou mãe, você percebeu que na prática as coisas acontecem diferente da teoria? Confira um relato de uma mãe sobre o assunto.

Por Luísa Massa
Atualizado em 22 out 2016, 15h55 - Publicado em 11 Maio 2015, 10h38

Mariana Brancatte, 30 anos, é administradora, mãe da Marina, de 2 anos e 7 meses e do Yuri (que ainda está na barriga), e idealizadora do blog Mamis & Mais. Aqui, ela fala sobre o que havia idealizado antes de se tornar mãe e o que realmente aconteceu. Confira!

“Quando descobri que estava grávida da Nina, logo mergulhei na literatura disponível em livros, blogs e sites da internet sobre o universo materno e comecei a construir um ideal de mãe que gostaria de ser para minha filha. Segui determinada a estipular uma rotina rígida de horários para tudo: mamar, brincar, tomar banho, dormir. Convenci-me de que qualquer coisa que desse errado no meio do caminho seria por culpa dos pais, que sempre têm o controle da situação e quando não têm é porque não querem – por falta de esforço ou energia.

Também me via ignorando opiniões alheias que não estivessem de acordo com os meus ideais e a minha forma de conduzir as coisas. Não me preocupei muito com questões da amamentação, de não deixar os outros pegarem a Nina no colo, mas achava que doces só deveriam ser consumidos depois que ela completasse um ano de idade em situações muito esporádicas. Enxergava-me paciente com crises de birra e choros intermináveis de uma criança que não quer se render ao sono, porque para mim eu teria que sempre entender as aflições da minha filha e estar pronta para fazer o possível e o impossível para ajudá-la. Criança se jogando no chão e tendo chiliques? Claro que a culpa é dos pais que não conseguem impor limites. Me via usando a televisão só como último recurso, em poucos momentos do dia, para entreter um pouco a pequena.

Mas, limitando essa lista de ideais que obviamente não viraram realidade com o tempo, a Nina nasceu. E tudo bem que eu não era tão preocupada com a amamentação, mas ela tomou o seu primeiro leite na UTI – uma fórmula industrializada. Fui amamenta-la pela primeira vez só no dia seguinte de seu nascimento. Logo no começo as coisas começaram a fugir do meu controle: todas aquelas roupinhas e a malinha que preparei para sua chegada mal foram usadas. Durante três dias ela ficou só de fralda na incubadora e era amamentada com leite materno durante o dia somado ao complemento de leite artificial. Foi para o quarto e mais um dia no hospital para tomar banho de luz devido à icterícia. Poucas pessoas a viram na maternidade. E eu, que queria muito um parto normal, sofri muito com os pontos da cesárea e os gases doloridos que me faziam chorar de desespero.

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Fomos para casa e comecei a praticar tudo que havia idealizado. Logo no primeiro dia já começamos a programar a rotina da Nina, que incluía até mesmo os finais de semana. Se alguma coisa fugia do controle eu já ia correndo pegar os livros para ver o que poderia estar acontecendo. E por muitos meses as coisas foram assim, até que comecei a me ver escrava da tal planejamento. Não saía se a minha filha não tivesse mamado, feito cocô, dormido. Me virava de ponta cabeça para os horários dela serem seguidos à risca e me adaptar a eles. Chegou uma hora que comecei a relaxar e a observar que a rotina era boa e tornava as coisas muito mais previsíveis, algo que gosto muito, mas que sair dos eixos de vez em quando não fazia mal a ninguém.

Foi então que percebi que, nós pais, podemos colocar limites nas situações, mas a grande questão é que não temos a menor disposição para estarmos sempre no controle. As coisas fogem do controle diversas vezes e acabamos cedendo a alguns caprichos dos filhos. É aquele negócio: não quer tomar banho, então não toma e dorme suja… Não quer se trocar para sair, vai de pijama mesmo que não vai mudar a vida. Algumas opiniões começam a contar, mas em muitos momentos eu acabo adotando a máxima de: minha mãe fazia isso comigo e estou aqui viva, feliz e saudável.

Eu que sempre me preocupei com a alimentação da Nina e da minha família, percebi que radicalismos não funcionam. Da mesma forma que para mim o equilíbrio é o ideal, para ela também é. Então, sim, a minha filha já comeu vários doces, frituras e industrializados, mas não faz parte da nossa rotina e não é algo que agrada seu paladar. E a paciência com as benditas birras? Sou bem controlada e dificilmente estouro, mas já dei altos gritos com a pequena e desabei no choro junto com ela. Ah, e a televisão. Só vou dizer uma coisa: a Nina é viciada em televisão! E se em alguns momentos me incomodo com a situação, em outros me sinto aliviada de conseguir preparar um jantar com calma enquanto ela assiste seus desenhos favoritos. É claro que ela não passa o dia inteiro em frente à TV, eu sou uma mãe que incentivo e a estimulo a praticar diversas atividades diferentes. Mas que tem dias que a televisão é um santo remédio, ah, isso tem!

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Bom, e aí tudo isso que faço hoje que achava que nunca faria me torna uma mãe ruim? Eu tenho certeza que não. Muito pelo contrário, acho que sou a melhor mãe que poderia ser para a minha pequena, o que não significa que seria uma boa mãe para a sua filha ou seu filho. Hoje em dia eu ainda concordo com boa parte do que idealizei enquanto esperava pela Nina, mas tenho certeza que sou mais tranquila e curto muito mais a maternidade do que curtia. Hoje eu me cobro menos, relaxo mais, penso muito no que aquilo pode estar trazendo de consequências negativas para sua educação e seu desenvolvimento, e tento observar sempre o comportamento dela. É tudo muito mais baseado na intuição materna do que em teorias – que não posso desprezar, me ajudaram muito como mãe de primeira viagem! Mas, saber conhecer minha filha e seus comportamentos tem muito mais valor para escolher o caminho que vou seguir do que qualquer doutrina que exista por aí.

A rotina é excelente e ela existe no nosso dia a dia.  Mas, atualmente a vejo muito mais como uma sequência de acontecimentos do que uma regularidade de horários. Não gosto que a minha filha fique por muitas horas sem comer, mas não importo mais se ela vai almoçar meio dia, uma ou duas horas da tarde. Depende da hora que ela acordou, do que comemos no café da manhã, se teremos um lanchinho no meio do caminho, das atividades que ela fez. A hora de dormir não tem mais rigor. Se não está com sono ela não dorme e é muito estressante lutar contra isso. Nina não passa dos limites que acredito serem aceitáveis e, depois que dorme, vai durante toda a noite. Já observei que na tentativa de querer que a minha filha durma na hora que eu quero, ela fica muito mais agitada, acorda de madrugada e amanhece irritada. Vejo também que por mais que tudo vire de ponta cabeça no final de semana, durante a semana, em que ela vai para a escolinha, as coisas entram nos eixos. Acredito que a rotina mais rígida foi muito importante, principalmente no seu primeiro ano de vida. Mas vejo que em alguns momentos me estressei com algumas coisas sem necessidade.

Continuo achando que o comportamento dos filhos é em boa parte reflexo da conduta dos pais. Só que me permito ter meus momentos de “agora não estou a fim de educar… faz aí o que quiser e depois eu penso”. Também coloco de castigo e de lá ela não sai enquanto não se acalma e não pede desculpas. Não permito tudo e tem coisas que são inadmissíveis, mas outras que poderia recriminar, hoje não vejo tanto problema. Afinal, ela é uma criança, está formando sua personalidade e não é um robô. As birras vão existir e tem horas que vou estar disposta e saber lidar, outras que vou dar uma crise de birra maior que a dela porque simplesmente estou esgotada e não quero ter o fardo da responsabilidade da educação naquele momento. Muito do que vivi com a Nina me fará uma mãe mais consciente para o Yuri. Eu não me arrependo de nada, tudo foi aprendizado, e continua sendo, diariamente. As cenas do próximo capítulo veremos quando o novo bebê chegar lá em casa. Só tenho uma certeza: tudo vai dar certo.”

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*Depoimento publicado originalmente em 23/02/2015.

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