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“Quando finalmente me tornei mãe”

Conheça a história da mulher que foi tentante por quase quatro anos, teve dois abortos espontâneos, recebeu o diagnóstico de trombofilia e enfrentou muitos desafios até a chegada do seu primeiro filho.

Por Luísa Massa
Atualizado em 26 out 2016, 11h38 - Publicado em 18 jul 2016, 09h48

Carol Arruda, 33 anos, é mãe do Miguel, de 13 meses, psicóloga e idealizadora do blog Infância e Maternagem. Aqui, ela fala sobre o longo caminho que percorreu até se tornar mãe.

“O meu interesse por bebês e maternidade, além de ser pessoal, é também muito profissional. Sou psicóloga e fiz formação clínica em atendimento focado em infância e família. Desde o início da faculdade, eu buscava fazer as apresentações e pesquisas nesse tema.

Ser mãe sempre foi um grande sonho. Quando me casei, eu e o meu marido já pensávamos em ter filhos assim que a vida estivesse mais organizada, com certa estabilidade financeira. Esse momento chegou quando o meu parceiro recebeu uma boa proposta de trabalho e nos mudamos para o Centro-Oeste do país. Nós morávamos em uma cidade pequena, eu não estava trabalhando no momento e foi aí que vimos que tínhamos condições para concretizar o desejo de nos tornarmos pais. A partir disso, começou a saga porque quando a gente pensa em ter filhos, imagina que no mês seguinte vai engravidar e isso não aconteceu. Não foi no primeiro mês, não foi no segundo, não foi no terceiro e eu comecei a ficar preocupada. Procurei o médico para saber se havia algo que poderia ser feito e ele disse que um casal normal que está tentando engravidar tem 25% de chances no período de um ano.

Depois de uns meses, recebi a notícia da primeira gravidez, mas ela não evoluiu. Senti uma dor muito forte porque quando estamos tentando, ficamos com a expectativa grande, fazemos tabelas, contamos os dias, programamos o sexo para quando há ovulação e aguardamos ansiosamente o dia em que a menstruação não deve vir – tudo isso faz parte da vida da maioria das mulheres que são tentantes. Perder um bebê foi muito devastador para mim, mas passei a me preocupar mais e busquei orientações. Apesar dos médicos afirmarem que tudo estava dentro da normalidade, eu sabia que tinha algo que eu deveria saber. Foram levantadas as hipóteses de endrometriose e ovário policístico. Fiz alguns exames que não confirmaram nada.

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Após um ano desse aborto espontâneo, descobri que estava grávida novamente. A gestação evoluiu até o segundo trimestre, mas eu também perdi o bebê, que era uma menina e iria se chamar Alice. Passei por um processo de parto induzido para a explusão do feto e, a partir disso, as coisas mudaram e a situação ficou ainda mais preocupante. Fizemos uma profunda investigação genética e sanguínea, então, veio o diagnóstico de trombofilia e a confirmação da SOP (Síndrome de Ovários Policísticos). Fiquei muito abalada e ainda morava sozinha com o meu marido, nós não tínhamos família por perto para nos apoiar. Foi um período muito frustrante e resolvemos dar uma pausa nas tentativas porque percebemos que estávamos vivendo em função disso, não curtíamos as outras coisas e não era assim que deveria ser. Eu também estava muito cansada emocionalmente, por isso, decidi deixar esse sonho adormecido, tentei viver de outro ângulo e foquei muito no trabalho – foi nesse momento que surgiu o Instagram, com a perspectiva de escrever sobre maternidade dentro de uma visão profissional, e depois o blog.

Passado um tempo, eu engravidei de novo. Na época, eu não estava tentando e foi uma grande surpresa. O Miguel veio para trazer um milagre para a minha vida porque eu estava vivendo um momento pessoal muito difícil – a situação era tão delicada que não dava para pensar em ter filhos. Mesmo assim, ele chegou e trouxe uma nova perspectiva para mim e para o meu marido.

Eu sempre falo que o meu filho nasceu para me libertar! Trouxe liberdade para que eu vivesse um amor que encoraja, fortalece e me motiva desmedidamente. Me libertou também dos defeitos que me atormentavam e me envergonhavam, fazendo com que eu conseguisse encarar de forma segura as minhas dificuldades pessoais, pois busco ser uma pessoa melhor por ele e isso coloca em evidência as minhas qualidades mais genuínas. Com o Miguel, aprendo todos os dias a dar valor para coisas que antes passavam despercebidas. Percebi que levava a vida em modo automático, acomodada a uma estabilidade superficial e meu filho chegou para me fazer ver que o meu mundo é intenso e que todos os dias é uma oportunidade para me renovar. A maternidade sacudiu os sentimentos e sensações que me habitavam secretamente. Me desprendeu das correntes que me condenavam a fragilidades íntimas e escancarou medos viscerais, mas ser mãe é receber uma dose diária de força para enfrentar coisas que parecem impossíveis. Miguel me trouxe coragem para viver o meu melhor e para explorar o melhor da vida. Coragem para agarrar todos os segundos e eternizá-los em memórias. Me trouxe também sentido para viver com prazer, amor próprio e curtir um amor real, puro e incondicional.

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Quando a gente passa por um processo de tentativas frustradas e de perdas, acabamos não planejando tanto, mas, mesmo assim, eu idealizei o parto normal e tive que ser submetida a uma cesariana em função da trombofilia e de outras questões médicas. Outro momento que eu também idealizei foi a amamentação. Apesar de ser lindo, promover uma conexão incrível entre a mãe e o bebê não é nada fácil. Para que ela flua é preciso ter muita concentração nas emoções, na criança e se desligar do mundo. Eu enfrentei um processo inicial difícil, mas não desisti e, hoje, vivo com o Miguel 13 meses de aleitamento materno – sendo que os primeiros seis meses foram exclusivos.

Renata Medeiros
Renata Medeiros ()

Acho que esse processo de idealização que nós, mães, temos também se deve ao fato de que existe um forte movimento midiático que vende a imagem de mães sublimes, de bebês perfeitos, de famílias harmoniosas, mas na realidade não é bem assim. As crianças não são sempre fofas, cheirosas e com carinha de anjinhos. Elas choram, sentem fome, precisam de atenção em tempo integral, acordam o tempo todo e isso demanda muita energia da mãe. É por isso que digo que se tornar mãe é uma função inacabada porque requer uma aprendizagem diária. É uma tarefa desafiadora, mas deliciosa!

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