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O que fazer quando a criança não fala direito

Conversamos com especialistas sobre o desenvolvimento e os principais problemas de fala da criança.

Por Olivia Nachle (colaboradora)
Atualizado em 14 fev 2017, 15h22 - Publicado em 22 Maio 2015, 11h16

Talvez um dos momentos mais esperados pelas mães seja ouvir a primeira palavra saltitar da boca de seus bebês. Apesar da ansiedade boa e do prazer em acompanhar a descoberta de cada sílaba, surgem várias dúvidas e angústias quanto à normalidade desse processo, que é a porta para a principal forma de comunicação que eles usarão para o resto da vida: a fala. Para solucionar toda essa incerteza e fazer com que o processo se restrinja a momentos deliciosos, fomos atrás de especialistas que esclareceram as principais inquietações das mães quanto aos possíveis problemas no desenvolvimento da linguagem.

1. Quando é normal a criança começar a pronunciar as primeiras palavras?
Entre os 3 e 6 meses, o bebê começa a emitir sons isolados, que acabam sendo uma forma dele brincar com a própria voz. Depois disso, em torno dos 6 e 9 meses, começam a ocorrer as primeiras silabações, período carinhosamente chamado pela pediatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, Ana Escobar, de “lalação”, devido à junção de sílabas como “mama”, “papa”, “dada”. A partir do primeiro ano de vida, já se pode esperar os primeiros sons com significados, estes geralmente atribuídos pelas mães. Vale lembrar que, por se tratar de um desenvolvimento biológico, variações são muito comuns.

2. Quais as primeiras palavras que a criança pronuncia?
Geralmente são palavras simples, de uma ou duas sílabas, referentes a nomeações de objetos ou pessoas. “Mã” (mãe), “pa” (pai), “aa” (água) são exemplos comuns.

3. É normal uma criança de quase 2 anos dizer apenas mamãe, papai, água?
De acordo com a fonoaudióloga Rosana Giovannelli Carvalho, espera-se que as crianças com 2 anos consigam reproduzir parte dos enunciados dos adultos, sem que para isso estejam necessariamente formulando frases completas. Em casos muito distantes disso, pode ser necessária uma avaliação fonoaudiológica. No entanto, como relembra a pediatra Ana Escobar, mais importante do que simplesmente falar é a capacidade da criança dessa idade em conseguir entender o que lhe é dito e se fazer entender, seja pelos gestos, seja por outras formas de expressão (como negar algo, pedir colo etc.).

4. Como agir quando a criança apenas aponta, mas não fala a palavra?
É importante que sempre que a criança aponte para alguma coisa, a mãe estimule a fala do pequeno. Por exemplo, se a criança aponta para um copo de água, a mãe pode reforçar: Á-GUA. Mais do que isso, é interessante sempre dar opções, como no exemplo do copo de água, pode-se questionar: “você quer a ÁGUA ou o COPO?”.

Um estímulo natural na fala acaba acontecendo quando as crianças entram na escola. Diferentemente do que acontece em casa (o pequeno aponta e todos já sabem o que ele quer), no ambiente escolar ele verá a necessidade de se expressar de outras formas – falando – para que seus desejos sejam atendidos.

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5. Meninas falam antes do que os meninos?
Não existe nenhum estudo que comprove essa teoria. Apesar disso, é bastante aceito o fato de que o estímulo motor se desenvolva mais rapidamente em meninos, que acabam se preocupando mais em andar do que em falar. Assim, a pediatra Ana Escobar diz que, mesmo sem comprovações científicas, as meninas acabam falando um pouco antes, sim.

6. Quando a criança começa a formar as primeiras frases?
Por volta dos 2 anos. São frases curtas, com poucas palavras, como: “Quero isso”, “Não quero água”.

7. É normal uma criança começar a gaguejar sem motivo aparente? Isso significa que ela será gaga?
É normal a criança apresentar algum tipo de falha no fluxo da fala, chamado de disfluencia. Isso pode acontecer pelo fato do pensamento acontecer muito rápido e o pequeno ainda não ter a capacidade de articular o que quer dizer. A gagueira, no entanto, é diferente e se mostra como um acontecimento constante nos diálogos. Em caso de dúvida, antes de corrigir ou rotular o menino ou a menina, vale procurar um especialista.

8. A mãe deve corrigir quando a criança fala uma palavra errada?
A mãe pode dar o modelo e repetir a palavra de forma correta. Isso faz com que a criança tenha mais oportunidades de ouvir a versão certa e, assim, consiga corrigi-la naturalmente. A mãe é a principal influência na fala de seus pequenos. Apesar disso, vale tomar cuidado para que esse hábito não se torne exaustivo e desgastante para as duas partes.

9. Por que os pais não devem repetir os erros de pronúncia da criança?
Repetir erros de pronúncia é um hábito comum que, segundo Flávia Ribeiro coordenadora do serviço de fonoaudiologia do Hospital São Luís, em São Paulo, faz parte do aprendizado e pode até ser um estímulo para que a criança continue falando. O problema se dá quando isso é exacerbadamente estimulado pelos pais, o que pode levar o pequeno a se familiarizar com a palavra errada. Vale lembrar que os pais são a principal fonte no aprendizado e no processo do desenvolvimento da fala e é bacana, sempre que conveniente, corrigir erros e manter um tom de voz natural, sossegado e com boa articulação (e não agudo, infantilizado) para que o filho se espelhe nisso.

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10. Qual a maneira ideal para estimular a criança a falar?
A médica Flávia Ribeiro afirma que a fala é uma habilidade natural do ser humano, fruto da necessidade de comunicação e, portanto, deve ser desenvolvida de forma espontânea. Assim, a mãe pode – e deve – conversar com o filho, verbalizar sentimentos, contar histórias, cantar. A pediatra Ana Escobar lembra que a melhor forma de aprendizado acontece com descontração e diversão.

11. Quais os sinais de que a criança tem de fato um problema de fala?
De acordo com a fonoaudióloga Rosana Giovannelli Carvalho, são vários os problemas de fala. A mãe pode observar se há alterações muito marcantes na fala de seu filho e nos pequenos da mesma idade. Outro exemplo comum são crianças de quase 3 anos que ainda não conseguem articular palavras ou formar frases, o que já é esperado para essa faixa etária. Então, vale procurar um especialista.

12. Se a criança apresenta dificuldades para falar significa que ela tem algum outro problema ligado ao seu desenvolvimento?
Existem diversas causas para isso, além das relacionados ao desenvolvimento. Entre elas, Rosana Giovannelli Carvalho destaca as sociais, psíquicas e neurológicas. Exemplos são lesões neurológicas identificadas por meio de exames, alterações auditivas (que mesmo em pouca escala podem causar alterações no padrão de fala) e ambientes em que as pessoas pouco falam e, assim, a criança não se sente motivada. É importante identificar a raiz do problema para trabalhá-la em conjunto com a dificuldade em falar.

13. Quais os motivos pelos quais uma criança não fala?
As causas podem ser orgânicas, o que inclui dificuldades físicas, como problemas auditivos, neurológicos, de articulação das palavras, ou sociais e psíquicas, como a timidez. Crianças que sofrem agressões também podem ter dificuldade para falar.

14. Qual a hora de procurar um fonoaudiólogo?

Sempre que os pais perceberem que a criança está com dificuldades para desenvolver a linguagem, se suspeitarem que ela não ouve direito ou mesmo que tem algum problema na voz.

15. É normal a criança trocar letras (L por R, F por V)?
Sim. Até os 4, 5 anos, a criança está em uma fase de aquisição de fonemas e pode apresentar algumas trocas pertinentes. É considerada normal a substituição de sons que ela ainda não consegue produzir por outros que já foram adquiridos. É bom ficar atento e observar se as trocas se corrigem naturalmente (por volta dos 3 anos) ou se será necessário procurar ajuda de um fonoaudiólogo.

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16. Qual deve ser a atitude dos pais quando o filho fala muito errado?
Os pais têm sempre que tentar corrigir seus pequenos e ter paciência com o aprendizado deles. No entanto, quando a criança fala muito errado, é importante procurar um fonoaudiólogo. Ele é o profissional capacitado para identificar e trabalhar com os problemas relacionados à fala.

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