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Novembro roxo: “É horrível receber alta e deixar seu filho no hospital”

Confira o relato emocionante de Yasmin, que descobriu subitamente uma gravidez de risco que a levou a ter um parto prematuro.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 11 nov 2019, 12h37 - Publicado em 6 nov 2019, 16h17

Novembro é o mês de atenção à prematuridade, um problema que afeta cerca de 10% dos bebês brasileiros. Além de ameaçar a vida do recém-nascido, o parto antes da hora impacta consideravelmente a vida da mãe. Afinal, boa parte da carga emocional e física ainda fica com ela.

É o que conta a seguir a dentista Yasmin de Paula Correia, mãe de Miguel, hoje com oito meses. A paulistana de 27 anos foi surpreendida por complicações que anteciparam o parto de seu primeiro filho. Confira o relato na íntegra:

Do nada, uma gravidez normal virou de alto risco

“Tenho histórico familiar de pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial na gestação), minha mãe perdeu minha irmã aos sete meses de gravidez por conta de complicações da doença, então sempre me avisou que eu precisaria ficar de olho na pressão quando engravidasse.

Quando descobri que estava esperando meu primeiro filho, logo avisei a médica que me acompanhava sobre esse risco. Ela disse que estava tudo bem, só precisaríamos monitorar a gestação mais de perto. Passei com outros especialistas, que deram a mesma orientação. Até que, na 20ª semana, durante um ultrassom de rotina, descobrimos que o Miguel estava com baixo peso.

Ao ver o resultado, a médica disse que o bebê poderia ter algum problema, que precisaríamos fazer exames urgentes e pediu para eu tomar um medicamento injetável. Ficamos super assustados, pensando em como uma gravidez que estava indo super bem do nada fica super complicada.

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(Arquivo Pessoal/Reprodução)

Tratamento e parto induzido

Minha chefe, que teve problemas para engravidar, me indicou uma especialista em gravidez de risco para investigar o baixo peso, a doutora Vanessa, que me acompanhou até o final da gestação. Penso que isso salvou a gente, pois meu quadro era bem mais grave do que imaginava.

Fizemos os exames e descobrimos a pré-eclâmpsia. A pressão arterial não estava alta ainda, mas as artérias uterinas estavam prejudicadas, então o Miguel não conseguia receber os nutrientes que precisava direito. A partir daí, comecei a tomar medicamentos, controlar bem a pressão e fazer uma dieta sem nada de sal.

No sétimo mês, minha pressão passou a subir sem parar, mesmo com os medicamentos. Fui afastada do trabalho e inchei muito, tanto que meu peso mudou de 52 para 73kg no final da gestação. Com 31 semanas, entrei na internação para postergar o parto o máximo de tempo possível.

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No hospital, a pressão não baixava, o inchaço limitava meus movimentos e o Miguel ainda tinha baixo peso. Assim, a equipe optou por induzir a cesárea e ele nasceu no dia 9 de março, com 34 semanas, pesando 1,470kg e medindo 39cm. Eu tinha esperanças de que não seria prematuro, mas não teve jeito.

Vida de mãe de UTI

O parto foi rápido e difícil. Mal deu tempo de olhar o Miguel e ele já teve que ir para a incubadora. Como a pressão seguiu alta (aliás, até hoje sou hipertensa), tive que esperar mais de oito horas para ver meu filho.

Ele teve ficar na UTI neonatal, e eu, apesar de saber dessa possibilidade, não estava preparada para ver o bebê tão pequenininho e frágil ali, cercado de aparelhos. Eu só podia passar a mão nele no começo, e me perguntava: será que ele vai sobreviver?

Os primeiros sete dias foram em jejum, e no oitavo dia ele passou a receber meu leite. Nesse tempo, eu passava o dia no banco de leite do hospital estimulando a produção, que começou mesmo no quinto dia depois do parto. Depois de receber o líquido por sonda, ele mamou no peito com 15 dias.

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No início foi complicado, porque os prematuros dormem muito e há risco de ter apneia durante a alimentação, mas por fim conseguimos estabelecer o aleitamento exclusivo.

(Arquivo pessoal/Reprodução)

Uma das coisas que mais me marcou foi receber alta e sair sem meu filho do hospital. É horrível. Outro momento punk foi quando o Guilherme, pai dele, voltou para o trabalho. Ele era meu porto seguro, dividia comigo as decisões e o cuidado nos 15 dias que pegou de licença, mas o Miguel ficou bem mais tempo internado.

A rotina era cansativa, eu chegava cedo e saía tarde da noite do hospital. Há uma pressão psicológica muito grande, você não consegue desligar, dorme mal, não sabe o que vai acontecer com o bebê. Acho que falta apoio para as mães nessa hora. Por exemplo, a salinha de descanso da UTI neonatal tinha apenas cadeiras, e às vezes precisávamos cochilar sentadas.

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Final feliz e aprendizados

Graças a Deus o Miguel se desenvolveu sem problemas, ganhou peso e estava pronto para ter alta. A única coisa foi que, poucos dias antes de sair, descobrimos uma anemia e ele precisou receber uma bolsa de sangue, mas se recuperou rápido e chegou em casa perto da Páscoa deste ano.

Ele tinha 2,300kg, ainda bem pequenininho, com mil e um cuidados, mas conseguimos manter a amamentação e fomos super bem orientados pela equipe de profissionais do hospital. Hoje, ele já alcançou o peso esperado para os bebês da idade dele.

Passar por uma experiência dessas te ensina a ter muita paciência e fé, independente de qual for sua crença. Cada pai e mãe tem um jeito de lidar com a situação, eu escolhi ficar lá toda hora que pudesse, acompanhar cada procedimento. Combinei com o Guilherme que, por mais que estivéssemos chateados e tristes, entraríamos sempre leves, para transmitir somente coisas boas a ele.

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Tentava sempre conversar com o Miguel, dizer que as pessoas estavam o esperando aqui fora, comemorar cada grama ganho. Formar uma rede de apoio com os pais que também estavam na UTI e os profissionais de saúde também foi importante. Creio que tudo isso nos ajudou muito. Parece que são dias intermináveis, mas sempre há uma luz no fim do túnel”.

(Arquivo pessoal/Reprodução)

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