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“No puerpério, achei que não daria conta de ser mãe”

Jornalista fala sobre essa fase do pós-parto que transforma as mulheres numa montanha-russa de emoções. Leia o depoimento e veja se você se identifica!

Por Da Redação
6 jun 2017, 16h27

Tariana Hackradt, de 33 anos, é mãe de primeira viagem da pequena Alice, de 1 ano e 3 meses, e aqui revela as dificuldades que enfrentou logo que saiu da maternidade, ao encarar a rotina exaustiva com um bebê recém-nascido, e sobre as inseguranças que surgiram no puerpério. Confira:

“Eu pensei em mil maneiras de começar esse texto, mas quase todas incluíam uma justificativa, quase um pedido de desculpas, para o que estou prestes a dizer. Como não acho que as mães devem sentir vergonha de falar sobre como se sentem, desisti de todas e vou (quase) direto ao ponto: os primeiros dias de vida da minha filha foram os mais difíceis da minha. Não foram os mais felizes, como imaginei. Foram apavorantes. Tensos.

Quando a Alice nasceu, senti uma felicidade imensa. O primeiro dia, ainda no hospital, foi cheio de visitas, de amor, de euforia por estar vivendo a realização do maior sonho da minha vida. Nem liguei por dormir pouco mais de uma hora. O segundo dia foi menos agitado. Estava focada em fazer com que a gente se acertasse na amamentação e pedia ajuda para as enfermeiras o tempo todo. E aí, no terceiro, fomos para casa. O pavor começou uns 15 minutos depois que chegamos, quando meu marido saiu para comprar algodão, Alice abriu o berreiro, e a Teka, nossa cachorra, ficou desesperada quando comecei a dar de mamar. Ela pulava e latia, Alice chorava, e eu berrava porque não queria prender a Teka no quarto, afinal, a casa é dela também. Eu quis voltar para o hospital pela primeira vez.

A primeira madrugada sentada no sofá, suando, sem pregar os olhos de tensão também não foi fácil. A casa naquele silêncio, eu morta de sono, o marido também e a Alice mamando. E chorando. E mamando. E chorando. Tenta colocar no carrinho, arregala os olhos, chora. Peito, desespero, sono. Looping eterno.

(Arquivo Pessoal/Divulgação)

Logo comecei a me sentir culpada. Teka foi se acostumando, mas eu não podia nem olhá-la que começava a chorar. Que culpa por não poder dar atenção. Por ter medo de que ela machucasse sem querer a Alice. Meu Deus! Eu não tinha me preparado direito para lidar com esse furacão de emoções. Por que ninguém me contou que ser mãe é sentir tanta culpa? É sentir tanto de tudo ao mesmo tempo?

Continuei tentando me ajustar, mas estava difícil. Chorava porque alguém tinha se importado de me mandar mensagem perguntando como nós estávamos. Porque minha mãe trazia presentinhos da rua para mim. Porque meu marido estava ao nosso lado. Porque não dava para fazer xixi na hora que eu queria. Porque eu comia derrubando farelos na Alice enquanto ela mamava. Porque eu me perguntava – muito – se daria conta. Por qualquer coisa, basicamente. Chorei muito. Nem sabia que era capaz de chorar tanto.

Além disso, ainda doía um pouco para dar de mamar e eu sentia uma insegurança absurda – será que a pega está certa? Será que tem leite? Será que ela está bem? Será que estou fazendo alguma coisa errada? SERÁ QUE ELA ESTÁ ENGORDANDO? (Essa pergunta me persegue até hoje, na verdade). Eu fotografava meu peito e mandava para a minha santa doula, que, pacientemente, tentava me acalmar.

Eu não me lembro de sair do sofá nesses primeiros dias. Lembro de, cada vez que Alice pegava no sono no peito, ir escorregando como uma ninja, tentando arranjar uma posição mais confortável, para tentar dar um cochilo. Eu me lembro de rezar para o dia nascer porque a escuridão me dava uma tristeza enorme. De ter medo de trocar a fralda, de limpar o umbigo, de ela fazer coco e sujar tudo enquanto meu marido estava trabalhando – o banho é tarefa dele e eu morria de medo. Torci muito para que os dias melhorassem logo porque, do jeito que estava, eu tinha certeza de que enlouqueceria.

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Os dias passaram e eu não enlouqueci. Descobri, inclusive, que a gente ganha uma espécie de bateria extra depois que o filho nasce – só isso explica sobreviver à privação de sono nesses primeiros dias. Fomos ao pediatra e estava tudo bem. Aos poucos, tudo foi se ajeitando. Ela foi parando de trocar o dia pela noite, eu fui parando de chorar, conseguindo fazer xixi, tomar banho…

Hoje, Alice está com 1 ano e 3 meses. E eu quase sinto saudade de quando ela era pequenininha. Porque, né, como dizem por aí, mãe é mesmo bicho besta”.

(Arquivo Pessoal/Divulgação)
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