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Estudos associam má alimentação e uso de paracetamol na gravidez a sintomas de TDAH na criança

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é a desordem neurocomportamental mais comum na infância.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 26 out 2016, 11h38 - Publicado em 22 ago 2016, 17h09

Na última atualização das diretrizes da Academia Americana de Pediatria (AAP) para o diagnóstico, a avaliação e o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), feita em 2011, a entidade é categórica em afirmar que essa é a desordem neurocomportamental mais comum na infância. Estima-se que 8% das crianças e adolescentes ao redor do mundo sofrem com esse problema – que pode afetar gravemente o desempenho escolar, o bem-estar e as relações sociais dos pequenos.

Não à toa, cientistas do mundo inteiro têm se dedicado a entender as causas por trás do TDAH. Afinal, quais fatores levam as crianças a desenvolverem esse transtorno? Ainda são necessárias muitas pesquisas para chegarmos a uma resposta certeira, mas estamos no caminho para atingir esse objetivo. Prova disso é um estudo do King’s College London e da Universidade de Bristol, ambas na Inglaterra, publicado no dia 18 de agosto de 2016 no periódico científico Journal of Child Psychology and Psychiatry. Na investigação, os pesquisadores notaram que uma dieta cheia de gorduras e açúcar na gravidez pode estar ligada ao aparecimento de sintomas de TDAH na infância.

Para chegar a esses achados, os estudiosos recrutaram 83 voluntários mirins que apresentavam problemas comportamentais e 81 meninos e meninas que não passavam por esse tipo de encrenca. Os experts rastrearam dados sobre a alimentação das mães dos participantes quando estavam grávidas deles. O objetivo era identificar como a dieta materna é capaz de alterar as funções do gene IGF2, que participa, entre outras coisas, do desenvolvimento de áreas do cérebro relacionadas ao TDAH.

Os resultados demonstraram que o hábito de ingerir itens processados gordurosos e abarrotados de açúcar durante a gestação está associado a maiores níveis de mudanças nas funções do IGF2 nos pequenos que apresentam sinais do transtorno. “Isso sugere que promover uma dieta pré-natal saudável pode reduzir os sintomas de TDAH e problemas comportamentais em crianças”, comenta Edward Barker, um dos autores do artigo.    

O time de cientistas britânicos pretende continuar as investigações. Contudo, a ideia, agora, é desvendar o papel de nutrientes específicos, como os ácidos graxos do tipo ômega-3, na possível prevenção do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. “Eles são extremamente importantes para o desenvolvimento neurológico. Já sabemos que a suplementação nutricional em crianças pode reduzir o TDAH e outras desordens de conduta, então é importante que pesquisas futuras examinem o papel das variações não genéticas nesse processo”, conclui Barker.

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Assim, uma das soluções para evitar o transtorno estaria não só em retirar os alimentos ruins da dieta da grávida, mas também em incluir os peixes e as castanhas – fontes de gorduras boas – no prato da futura mamãe. Aliás, esses alimentos fornecem um monte de outros benefícios fundamentais ao desenvolvimento fetal já bastante conhecidos pela ciência. Então, não precisa esperar até que o estudo da equipe de Edward Barker esteja pronto para acrescentá-los ao seu cardápio.

Paracetamol e TDAH

Thinkstock/Getty Images
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Esse é um dos poucos medicamentos a que as grávidas podem recorrer para aliviar a febre e a dor. Mas estudos recentes apontaram que o uso dessa droga ao longo dos nove meses pode causar problemas sérios ao bebê, a exemplo do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Pelo menos é o que indica uma pesquisa da Universidade de Bristol, no Reino Unido, publicada no dia 15 agosto de 2016 no respeitado JAMA Pediatrics

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Os cientistas analisaram dados de 7.796 mulheres, bem como dos filhos e parceiros delas. A meta era investigar possíveis associações entre problemas comportamentais nas crianças e o uso de paracetamol pelas mães e pelos pais dos pequenos durante e depois da gravidez. Os experts examinaram questionários preenchidos pelas participantes quando elas estavam com 18 e 32 semanas de gravidez e também quando seus filhos já tinham 5 anos de idade. Os distúrbios de comportamento nos pequenos foram identificados quando eles estavam com 7 anos.

Na 18a semana gestacional, 4.415 mulheres (53%) declararam consumir o paracetamol; já na 32a semana, 3.381 (42%) assumiram tomar a medicação. Após o nascimento dos bebês, 89% das mamães e 84% dos papais revelaram fazer uso do remédio.

Os resultados demonstraram que a ingestão da droga na gestação estaria relacionada a desordens comportamentais e sintomas de hiperatividade nas crianças. Por outro lado, tomar o medicamento depois que o bebê nasce – seja a mãe, seja o pai – não tem efeitos na conduta social e emocional dos pequenos, de acordo com a pesquisa. “Nossos achados mostram que o elo entre o consumo de paracetamol na gravidez e problemas no comportamento da criança na infância podem ter como causa um mecanismo intrauterino”, dizem os autores do artigo.

Mas fiquem calmas, gravidinhas! Não é preciso entrar em pânico ou apelar somente para métodos naturais de alívio da dor a partir de agora. Mais estudos são necessários para entender os mecanismos por trás dessa associação e também para encontrar outras alternativas possíveis. “Dado o uso difundido do paracetamol entre as gestantes, esses achados podem ter implicações importantes nas recomendações de saúde pública”, advertem os estudiosos. Além disso, é preciso levar em conta também os riscos de não tratar a febre e a dor com um remédio de eficácia comprovada como esse. Portanto, se você está com algum desses sintomas, converse com o seu médico antes de tomar qualquer atitude – ou comprimido. 

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