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A magia do parto

Ludmilla é mãe de Sofia e fala sobre a frustração de não ter vivenciado o que esperava no parto da sua filha

Por Luísa Massa
Atualizado em 25 nov 2016, 17h26 - Publicado em 19 jun 2015, 19h21

Ludmila Figueiredo, 32 anos, é mãe da Sofia, de 2 anos e meio, e idealizadora do blog Mundo da Mãe. Aqui, ela fala sobre a frustração de não ter vivenciado o que esperava no parto da sua filha. Confira!

“Quando estava grávida de 5 meses, escutei em uma roda de amigos, a seguinte frase de uma médica: ‘parto normal é para as vacas’. Aquilo me marcou muito.

Ao engravidar, eu não sabia nada sobre o mundo materno, nem sobre partos. Mesmo com todo o desestímulo social gerado pela cultura de que o parto normal é a pior coisa do mundo, eu tinha dentro de mim uma vontade imensa de vivenciá-lo. Apesar disso, deixei que a médica que me acompanhava cuidasse dessa questão. Afinal, eu tinha muita coisa para aprender e providenciar em 9 meses.

Independente da forma que a minha filha viria ao mundo – cesariana ou normal, as duas opções que conhecia na época – eu sonhava com um momento mágico e sublime, em que meu marido e eu estaríamos extremamente emocionados com a nossa filha nos braços, sendo acolhida com muito amor e carinho desde os primeiros minutos de vida.

Mas, a realidade foi um pouco diferente. No dia 29/11/2012, seguindo minha rotina diária, saí de casa para ir ao trabalho. Antes, passei na clínica para fazer o ultrassom de rotina. Como eu estava com 36 semanas de gravidez, os exames tornaram-se semanais. Naquele dia fui surpreendida: saí da sala de ultrassom direto para a maternidade. Eu estava sem líquido amniótico e não poderia esperar para realizar o parto.

A minha reação instantânea foi chorar – eu fiquei muito nervosa! Não sabia da gravidade da situação e nem como o bebê estava. A médica sequer segurou na minha mão ou tentou me tranquilizar naquele momento difícil. Ela apenas disse que eu tinha uma hora para pegar as malas e estar na maternidade. Meu parto não seria normal…

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Fui para a maternidade e meu marido já estava me esperando, mais apreensivo do que eu. Na sala de preparação da cirurgia, meu nervosismo só aumentava. Disseram que o meu marido não poderia me acompanhar, o que me deixou ainda mais preocupada. Eu o queria por perto para me apoiar, dividir comigo a ansiedade e a felicidade no nascimento da nossa pequena. Acho que de tanto perturbar, acabaram deixando-o entrar na sala de cirurgia.

Eu não estava mais sozinha. A médica também tinha chegado e o procedimento iria começar. Meu coração estava a mil! Tomei a anestesia e deitei. Comecei a sentir que estavam mexendo em mim, mas não sabia o que estava acontecendo – que aflição! Os médicos ficavam conversando sobre o final de semana, contando as novidades dos amigos, como se tudo aquilo fosse um encontro no bar. Enquanto isso, do outro lado do pano, eu vivia o momento mais importante da minha vida. Comecei a passar mal, minha pressão baixou, o calor estava insuportável – eu me sentia sufocada e chorei de desespero. A anestesista me deu um remédio e, aos poucos, tudo melhorou.

Foi quando escutei um chorinho de longe e ouvi os médicos falando “nossa, como ela é cabeluda”. Pensei: minha filha nasceu! Mas onde ela está? Tragam-na para mim. Mas, o procedimento é primeiro enrolar o bebê em uma manta para aquecê-lo e depois levá-lo para a mãe. Enfim, minha filha chegou! Ela era a coisa mais linda que eu já tinha visto na vida.

Como estava sedada e com os braços amarrados, não pude pegá-la. Somente olhá-la por pouco tempo. Mal consegui curtir o momento e processar a emoção, pois rapidamente a tiraram de perto de mim. Com ela, meu marido se foi. Mais uma vez, fiquei sozinha naquela sala, sem poder mexer as pernas, sem meu bebê por perto, sem o sonho de um parto cheio de amor, carinho e felicidade.

Fui levada para a sala de recuperação e entrei em um sono profundo. De repente a enfermeira me acordou e falou: “você está escutando esse choro? É da sua filha. Olha como os pulmões dela são bons!”. Naquele momento, o que eu mais queria era ser um animal para estar perto da minha cria. Estava dopada, não conseguia falar e só pensava: deixem minha filha comigo.

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Depois de 3 ou 4 horas na sala de recuperação, a enfermeira veio me acordar, pois eu precisava ir para o quarto. As minhas pernas não voltaram totalmente, mas fui levada mesmo assim. Minha filha foi comigo, mas em outra maca. A Sofia nasceu e há mais de 3 horas eu não a tive em meus braços, quão menos a amamentei.

Chegando ao quarto, fui transferida para a cama e colocaram a Sofia no meu peito para mamar. Não dá nem tempo de pensar, tudo acontece muito rápido. Mas, foi neste momento que finalmente peguei a minha filha nos braços e que a magia do nascimento – um pouco atrasada – sorriu para mim!

Ainda tenho vontade de ter mais um filho, mas hoje, com todas as informações, tenho certeza de que quero vivenciar um parto humanizado, onde prevaleça a emoção do nascimento.”

Depoimento publicado originalmente em janeiro de 2015

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