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Zika: estudo investiga o período de atividade do vírus no corpo de bebês

Pesquisadores de Pernambuco decidiram fazer a pesquisa após obter indícios de que o micro-organismo ainda estaria em atividade em duas crianças, três meses após o nascimento.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 27 out 2016, 20h51 - Publicado em 14 abr 2016, 17h51

Pernambuco foi uma das regiões mais afetadas pelo surto de infecção causada pelo vírus zika que se iniciou no começo de 2015 no Brasil. É também onde está a maior parte dos casos de microcefalia que passaram a despontar por aqui em outubro do ano passado. Para se ter uma ideia, o estado nordestino concentra 312 das 1.113 confirmações para a malformação no país, de acordo com dados divulgados na última terça-feira (12) pelo Ministério da Saúde. Daí porque muitos estudos que investigam a relação entre o zika e a microcefalia se concentram por lá.

Entre as pesquisas realizadas está um levantamento liderado pela neuropediatra Vanessa Van Der Linden, da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) de Pernambuco. O objetivo é descobrir por quanto tempo o agente infeccioso transmitido pelo Aedes aegypti permanece no organismo de bebês. A investigação será feita a partir de exames de sangue que detectam anticorpos IgM específicos para o zika, que podem ser um indício da presença do vírus no corpo.

A ideia de fazer esse estudo veio após dois pacientes que nasceram com microcefalia e cujas mães tiveram zika na gravidez desenvolverem hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro) aos 3 meses de vida. “Não é comum casos de infecção congênita evoluírem para hidrocefalia tanto tempo depois”, observa Vanessa. Foi aí que os estudiosos decidiram averiguar se o caso tinha alguma relação com o micro-organismo. Ao fazer a cirurgia para a instalação da válvula que drena o líquido da massa cinzenta, os médicos coletaram uma amostra de líquor dos bebês e notaram que ainda havia anticorpos IgM para o zika. “Geralmente, no fim da gravidez, eles já não existem mais. E, no caso dessas crianças, permaneceram ativos mesmo 3 meses depois do nascimento”, comenta a neuropediatra.

Embora não seja possível afirmar que a hidrocefalia tenha relação com o zika, o achado instigou o time de cientistas, que vai acompanhar 20 crianças que nasceram com microcefalia e tiveram contato com o vírus ainda na gestação. Elas serão examinadas aos 6 meses de vida e, se o teste der positivo para o anticorpo específico do zika, passarão por uma nova avaliação aos 9 meses. A meta é observá-las até que os resultados sejam negativos. Segundo Vanessa Van Der Linden, o levantamento vai dar uma ideia do tempo de atividade do vírus no corpo dos pequenos – mas outros estudos ainda serão necessários para saber com certeza qual é esse período.

Relação do zika com microcefalia é confirmada

Nesta quinta-feira (14), a Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou o zika como causa dessa malformação cerebral. “Enquanto muitos estudos rigorosos ainda estão em busca de reforçar e entender o elo entre o zika e desordens neurológicas, uma onda de pesquisas recentes apoia a conclusão de que existe uma associação entre o vírus e a microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré”, afirmou a OMS em nota à imprensa.

O posicionamento da entidade aconteceu um dia depois de o Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos concluir que o zika está relacionado, sim, à microcefalia. Segundo o órgão, contrair o vírus na gestação aumenta, de fato, o risco de o bebê ter a malformação – o que não significa, no entanto, que todas as mulheres infectadas terão filhos com o problema.

Zika afeta o desenvolvimento do cérebro

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do Instituto D’Or de Ensino e Pesquisa, também no Rio e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no interior de São Paulo, publicaram recentemente um estudo na renomeada revista científica Science. No laboratório, eles utilizaram o zika para infectar células humanas que agem no desenvolvimento cerebral. Os resultados demonstraram uma redução de 40% no crescimento dessas estruturas celulares. Nos experimentos feitos com o vírus da dengue, não houve mortes das células estudadas. Segundo os autores, essa descoberta reforça a relação do zika com a microcefalia. 

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