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Vírus zika é a principal hipótese para os casos de microcefalia, segundo Ministério da Saúde

Desde o fim de outubro, a região Nordeste tem visto um surto dessa malformação cerebral. Embora ainda não seja possível comprovar a origem do problema, o governo suspeita que um vírus transmitido pelo mesmo mosquito da dengue seja o responsável.

Por Luiza Monteiro
Atualizado em 27 out 2016, 19h04 - Publicado em 18 nov 2015, 17h22

Durante a sua formação dentro do útero, o cérebro do bebê acaba não se desenvolvendo de maneira adequada. Ao nascer ou ainda dentro da barriga, nota-se que a circunferência da cabecinha é menor do que o esperado para sua idade gestacional. Além disso, a massa encefálica apresenta aspecto liso e calcificação. Estamos falando da microcefalia, uma malformação cerebral que provoca atrasos no desenvolvimento motor e cognitivo da criança. Entre as causas desse defeito congênito estão o contato com substâncias tóxicas durante a gestação, o consumo de álcool pela futura mãe e infecções como toxoplasmose, rubéola e herpes na gravidez.

Agora, mais um suspeito entrou para essa lista: o vírus zika. De origem africana, ele é transmitido pelo Aedes aegypt – o mesmo mosquito que carrega o vírus da dengue – e começou a circular pelo Brasil em abril de 2015. Há relatos de casos em todas as regiões do país, mas foi no Nordeste onde houve um surto de infecções no começo do ano e também onde ocorre, desde outubro, um aumento de recém-nascidos com microcefalia. Em números divulgados nesta terça-feira (17), o Ministério da Saúde (MS) já contabilizou 399 casos da malformação, sendo 268 só em Pernambuco. Outros Estados com registros da doença são Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Ceará e Bahia. Para se ter uma ideia da incidência da doença, entre 2010 e 2014, o Brasil vinha registrando uma média de 156 casos ao ano.

Embora ainda não seja possível cravar as causas desse pico nos quadros de microcefalia, a principal hipótese do MS é que o zika esteja por trás disso. Essa relação ganhou força nesta terça-feira, quando o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) notificou o governo de que, por meio da amniocentese, foi diagnosticada a presença do vírus no líquido amniótico de duas gestantes da Paraíba, cujos bebês foram confirmados com a malformação em exames de ultrassonografia. Ambas contraíram o agente infeccioso no primeiro trimestre da gravidez e apresentaram manchas na pele, que é um dos sintomas. “Isso fecha o diagnóstico da correlação entre a infecção por vírus zika e a microcefalia? O que a gente pode responder nesse momento é ‘quase’. Isso revela que, além de estar presente no organismo, ele passou para o feto. Então, é altamente provável a relação entre as duas coisas, que não seja só uma coincidência”, comentou Cláudio Maierovitch, diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do ministério.

Segundo Maierovitch, esse elo é inédito e não consta na literatura científica até o momento – daí porque ainda não é possível afirmar se o quadro infeccioso provocado pelo vírus zika causa, de fato, a malformação. Por isso, o Ministério da Saúde vai coordenar estudos junto a diversas instituições do país a fim de chegar a uma conclusão. Vale lembrar que o problema já foi comunicado à Organização Mundial da Saúde (OMS) e à Organização Pan-americana da Saúde, conforme os protocolos internacionais de notificações de doenças. Além disso, a previsão é que seja divulgado um boletim epidemiológico sobre os números da microcefalia a cada semana. A orientação do MS é que, a partir desta quarta-feira (18), hospitais e profissionais de saúde comuniquem ao governo todos os casos identificados.

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Recomendações para as gestantes

Até que se identifique as causas do aumento da incidência de microcefalia no Nordeste, o ministério não recomenda que as mulheres que vivem na região evitem engravidar. Para as que estão grávidas, as orientações são: 

  • Fazer todas as consultas e os exames do pré-natal;
  • Não consumir bebidas alcoólicas ou qualquer tipo de drogas;
  • Não utilizar medicamentos sem orientação médica;
  • Evitar o contato com pessoas que estejam com febre, infecções ou manchas no corpo;
  • Adotar medidas para reduzir a presença de mosquitos transmissores de doença, o que inclui retirar recipientes que tenham água parada e cobrir locais de armazenamento de água;
  • Proteger-se de mosquitos instalando telas ou mantendo as janelas fechadas, usando repelentes indicados para grávidas e vestindo, se possível, calça e camisa de manga comprida.
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